Tem passarinho cantando uma canção de saudade na minha janela. Daqui, escuto e me permito recordar um amor do passado. Sou apenas uma navegação no meio de tantas recordações. Tenho tudo bem guardadinho dentro de mim e começo a mexer na minha estante de emoções. Encontro o álbum de momentos: o primeiro beijo, os toques das mãos, a coruja tatuada no braço e o afeto sempre envolto em palavras com cor de carinho. O meu amor tinha nos olhos verdes o convite para a felicidade eterna. Quando o passarinho para de cantar, eu acordo e deixo de navegar. Sem canção e no silêncio de mim, sei que o meu amor se foi; o amor decidiu partir.
Sempre ouvi dizer que o amor era algo mágico, um sonho, uma realização, uma bênção divina. No cálculo do amor, o resultado seria a felicidade para dois. Isso era constantemente panfletado na minha vida. Amar sempre foi quase uma obrigação. Não se aceita reprovação na disciplina de amar e ser feliz. O mundo falou, o teatro dramatizou, o cinema enfatizou, a música ressaltou, a poesia eternizou e a sociedade cristalizou que o amor é um cálculo sem dor. Mas e quando não se sabe a matemática do afeto? Quando não se estuda a tabuada do relacionamento no âmbito familiar? Quando você tem dificuldade em somar e multiplicar as equações das emoções? Como fica essa conta? Quem vai ler o manual das desilusões e nos ensinar que existem decepções?
Para somar ou multiplicar, preciso encontrar um par. Mas e quando a outra parte decide ir embora, morrer ou desaparecer? O que é ensinado quando o cálculo do amor resulta em dor? Quando estou com dor, qual é o ensinamento para sarar meu coração? O que estão dizendo e afirmando para cuidar de uma dor de amor? Quem está lucrando e educando nossas feridas de coração partido? O bar tem remédio que cure essa dor? A vingança realmente é um prato que se come frio? Um corte de cabelo pode recuperar a beleza de um coração quebrado? Baladas são um grito de felicidade e autoamor? Preciso fortalecer o ego e mostrar que quem perdeu foi a outra parte, e agora quem vai pisar sou eu? Coração partido é um superpoder para a vida ou uma comprovação de que não sabemos lidar com a rejeição?
Qual bicho viramos quando a dor pulsa e a rejeição nos morde? Eu devo gritar, morder, praguejar ou gerar mais dor? Até que ponto a dor da partida é uma injeção de vingança? O que estamos fazendo com as feridas emocionais causadas pelos cálculos errados dos relacionamentos? Em que lugar estamos palestrando e distribuindo manuais de pós-decepção ou pós-coração partido?
Senhoras e senhores, o cálculo começa na base familiar. Será que estamos refazendo a tabuada do afeto, aquela que faltou ser ensinada por papai e mamãe? O que fazemos quando a dor de amor ou frustração bate, pede licença e se convida para entrar na nossa vida? Sejamos sinceros! Somos capazes de recebê-la, oferecer uma xícara de café, escutá-la, trocar um diálogo sincero, aceitá-la e solicitar, gentilmente, que ela vá, pois aqui não há mais choro de dor, apenas um coração que se curou e aceitou a experiência de amor. Não nascemos sabendo amar; a gente vai se transformando na tentativa de encontrar o resultado de amor que o mundo criou, mas que não nos ensinou a curar a dor das tentativas de encontrar esse amor.
Afinal de contas, qual é a canção que o passarinho anda cantando na sua janela?
Ass.: Histayllon Santos _ Instagram: @histayllon_Santos