AFONSO RODRIGUES

Depende de como você vê

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Já abracei para proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei”. (Charlie Chaplin)

A interpretação do que vemos significa o que somos no caminhar da vida. Nem imaginamos quantas vezes já nos aborrecemos com coisas que deveriam nos levar à reflexão. Ontem pela manhã vivi um momento de simplicidade que me chamou a atenção. Enquanto a dona Salete acordava o pessoal para o café da manhã, eu presenciei coisas que pareciam banais, quando na verdade podem nos trazer uma alegria discreta e singela.

Eu estava em pé, respirando fundo, no exercício. De repente olhei lá para o muro, na frente da casa. Na distância de uns vinte metros, observei uma lagartixa descendo o muro, numa caminha muito lente. Primeiro fiquei admirando como ela conseguia caminhar pela parede, de cima para baixo. Uma observação aparentemente vulgar, mas não era. Comecei a gostar do que via. E lá ia a lagartixa, caminhando preguiçosamente. De repente, não sei de onde saiu, apareceu outra lagartixa, parada como se estivesse esperando a outra. E essa me pareceu esquisita, porque ela estava bem escura. Achei que estava suja de lama. Mais isso não me prendeu.

Observei que a primeira parou, ergueu a cabecinha e aproximou-se da nova aparecida. De repente ela pôs a boca, que parece mais um bico, bem próximo à “orelha” da escurinha. Permaneceram assim por uns trinta segundos, mais ou menos. Logo ela afastou-se um pouquinho e saiu correndo, no estilo de uma lagartixa. Enquanto isso a escurinha permaneceu parada, como se estivesse refletindo sobre o que ouvira no cochicho da outra. Aí ela virou-se lentamente e saiu em marcha lenta na direção de onde viera. Não pude evitar o sorriso e fiquei refletindo sem saber sobre o quê.

Mudei de visão e, olha só o que vi: um canarinho amarelinho vinha caminhando e beliscando a grama. Acho que ele me viu, mas não percebeu que era um curioso que o observava. E lá vinha ele. E tive a cautela de não me mexer para ele não se assustar. Foi quando a dona Salete gritou lá da sala de jantar: “café tá na mesa”. Aí me mexi e o canarinho voou assustado. Entrei, sentei-me à mesa com um sorriso maroto na cara feia, e ninguém desconfiou do porquê do sorriso. Era que eu, com o chamado da Salete lembrei-me do Café Filho. Aí misturei o trio: Café Filho, lagartixa e canarinho. Não desperdice seu precioso tempo. Ele pode lhe trazer momentos de felicidade na simplicidade das coisas e dos acontecimentos. Só você tem o poder de se fazer feliz ou infeliz. Depende de como você vê o que vê. Pense nisso.

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