Rebobinando a memória, me transportei no tempo, mergulhei no passado, senti saudades de uma época que não mais existe. Senti saudades de mim. Saudade de muitas coisas: saudade dos que caminharam ao meu lado, que hoje não estão mais aqui. Ou que não mais existem para mim, ou eu para eles. Coisas da vida. Como disse o poeta Vinicius de Moraes: “A vida não é brincadeira, amigo. A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”.
Senti saudades dos quintais das casas dos meus avós. Tive o privilégio de conviver com todos eles. Não os chamava de avô ou avó. Papai Agripino e Mamãe Maria, pais de minha saudosa mãe Dinha, tinham uma enorme casa, com um quintal que se estendia até o Rio Itapecuru, em Rosário; Papai Didi e mãe Olindina, pais do meu saudoso pai Luiz Magno, proprietários de uma enorme área, o Sítio do Físico, região rural de nossa Ilha do Amor.
Não sou nostálgico, apenas ativei o modo memória; deixei os pensamentos fluírem, resgatando em mim, instantes saborosos, que ficaram lá atrás. E, que teimam em voltar.
Lembro de um tempo em que não havia mensagens, muito menos “redes sociais”, apenas olhares que diziam tudo… Esses dias li algo engraçado e verdadeiro: “Rede social é algo que inventaram para a pessoa em sua casa, nos azucrinar na nossa”.
Tempos em que não existiam likes, e as pessoas se conheciam e se cumprimentavam nas ruas…
Houve um tempo em que o conselho de um pai era melhor do que qualquer postagem de um “influencer”, e a história de um avô era mais verdadeira do que qualquer referência da Wikipédia…
Houve um tempo em que o e-mail não existia, mas você recebia bilhetes, cartões postais e cartas de amor…
Sou missivista, escrevi cartas de amor para paixões não correspondias. Por timidez e insegurança perdi amores.
Houve um tempo em que ninguém te insultava escondido no anonimato de uma rede social; era o balcão de um bar, o local onde se discutiam, com argumentos e respeito, partilhando um vinho, uma cerveja, um refresco ou um guaraná.
Houve um tempo em que as pessoas, não aparentavam o que não eram; tempos em que não existia Photoshop e nem filtros; eram os anos os responsáveis por desenhar as rugas nos rostos dos mais velhos.
Não nos foi dada a permissão para segurar o tempo, “ele só anda de ida”, escreveu Manoel de Barros, o poeta das coisas simples. Como o tempo não volta, os pensamento me fizeram resgatar esses momentos especiais.
“Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória”, escreveu José Saramago.
Diria mais: a memória nos redime, nos faz recuperar tempos indeléveis.
Hoje, tenho saudades daquele tempo em que tudo era mais simples, mais leve, mais verdadeiro…
“Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo”, cito novamente
José Saramago.
Um brinde aos que não precisam de razões, mas celebram cada noite, cada dia, cada minuto, independente de calendários e vivem com urgência, para alimentar o ato de ser feliz.
Um brinde ao que foi e ao que ainda estar por vir.
Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências.
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