OPINIÃO

O dia do Patrimônio Cultural no Brasil e a Escola Estadual São José

José Victor Dornelles Mattioni[1]

No dia 17 de agosto é celebrado no Brasil o dia do Patrimônio Cultural. A escolha deste dia é uma homenagem ao advogado, escritor e jornalista, Rodrigo Melo Franco de Andrade, responsável pela criação, em 1937, do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan). Para celebrar estar data, vamos apresentar uma breve história da Escola Estadual São José, patrimônio cultural do município de Boa Vista, que celebrou, no mês de março, 100 anos de criação.

As atividades da escola passaram a funcionar no final da década de 1910, em um momento de baixo crescimento demográfico em Boa Vista e no Vale do rio Branco. A Escola São José foi fundada pela ordem religiosa dos monges beneditinos entre 1918 e 1922, mas o prédio que abrigaria o grupo escolar foi construído em 1924 durante o prelado de D.  Pedro Eggerath, década em que a ordem dos Beneditinos contribuiu para uma série de obras no município de Boa Vista. Antes da conclusão das obras, as atividades escolares aconteciam em residências próximas a praça Barreto Leite.

No ano de 1934 o colégio passa para a direção das religiosas beneditinas, transformando-se numa instituição de ensino exclusivamente feminina. Anexo à escola funcionavam cursos de trabalhos manuais, como corte e costura, bordados, além de dirigir um internato de meninas índias em Boa Vista. As fontes nos dão conta de que: As irmãs beneditinas administravam uma escola primária fundada por elas em 1922[2].

Na década de 1940, um ano importante para a região devido a criação do Território Federal do Rio Branco, a escola foi registrada na secretaria de educação do município, por meio da portaria nº 48, da Divisão de Educação, confirmando o registo do “curso primário São José”.

Neste mesmo ano, ela passou a ser administrada pelas irmãs beneditinas com o nome de Colégio São José. Com a saída dos beneditinos no fim da década de 1940, a escola passou fica sob a responsabilidade da Missão Consolata, que está presente até os dias de hoje no estado. É importante destacar o tempo em que a escola esteve sob a administração das ordens religiosas. Em jornais, é possível identificar que o grupo escolar era liderado por madres, por exemplo.

No ano de 1997, passou a ser Escola Estadual de Ensino Fundamental São José. A compra pelo Governo do Estado de Roraima ocorreu em desvinculando-a da instituição religiosa e deixando-a sob total responsabilidade do estado.

A estrutura da escola passou por reformas ao longo dos anos devido a necessidades de acordo com o seu tempo de cada época. A edificação original se situava nos fundos da atual escola onde hoje é a quadra de esporte, a construção atual foi erguida nos anos 1950, sob a liderança de D. José Nepote. 

É importante lembrar das dificuldades para obter materiais de construção até meados do século XX, devido a ausência de uma estrada até Manaus, e a chegada dos produtos em Boa Vista ocorria pelo rio Branco. Situação semelhante para com outras obras erguidas durante a passagem dos beneditinos em Roraima, como a igreja Matriz, a prelazia e o hospital N. S. de Fátima.

O estilo da escola

Atualmente, a fachada principal possui um estilo art déco devido as formas retas, elementos vazados em formato quadrangular e retangular, frisos horizontais e linhas modernas. O ritmo original das esquadras está mantido, embora o material das janelas no primeiro pavimento tenha sido substituído por basculantes. (FETEC, 2011, p.129)

Patrimônio tombado pela Prefeitura

A escola São José está presente em várias leis e decretos de tombamentos de patrimônios culturais. Por exemplo, em 1990, foram criadas as leis nº230, 231 e 232, onde o prédio da escola passou a fazer parte do Acervo do Patrimônio Histórico do município de Boa Vista, e por meio do Decreto nº 2176 de 16 de abril de 1993, fazendo parte do Projeto Raízes.

Curiosidades:

A construção da escola por monges beneditinos demonstra que, embora o Estado brasileiro tenha passado a ser laico a partir da Constituição de 1891, as ordens religiosas continuam a atuar no campo da educação do país.

Com base em pesquisas realizadas por especialistas em educação e patrimônio em Roraima, em seu início, a escola São José destacava-se para a educação feminina. A escola São José não era a única que estava presente na região em meio a uma série de conflitos locais e diante dos investimentos do Serviço de Proteção ao Índio, que possuía uma escola na antiga sede da Fazenda São Marcos para estudantes indígenas. 

Para a Igreja Católica Apostólica Romana, as festas em homenagem a São José ocorrem no dia 19 de março, e começaram a ser celebradas no ano de 1621. O nome de São José está vinculado a educação por ter acompanhado protegeu e acompanhado Jesus Cristo em seu caminho de crescimento. Embora a Bíblia não descreva com detalhes a relação entre pai e filho, coube a José obedecer a Deus e saber que ele foi um pai responsável e que amava muito Jesus.

José foi relacionado nas duas linhas genealógicas de Jesus, uma se encontra no Evangelho de Mateus 1:1-17 e outra em Lucas 3:23-38. O Papa Francisco, por exemplo, possui uma obra com discursos catequéticos sobre São José

Na entrada da escola é possível identificar uma placa do período em que Roraima era Território Federal. Em jornais da década de 1990, a escola recebe destaque por realizar exposições de trabalhos e feiras de ciências.

Assim como nas demais escolas mais antigas presentes no bairro Centro, a maioria dos alunos reside em bairros periféricos, fazendo com que, em seus deslocamentos em direção as escolas, os estudantes passem por diversos patrimônios culturais e materiais que precisam ser preservados como uma maneira de valorizar as memórias e histórias da capital Boa Vista. 

Referências

DIOCESE DE RORAIMA. Uma Igreja a caminho. Boa Vista: Diocese de Roraima, 1980. Disponível em https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/uma-igreja-caminho

Escola São José. Disponível em https://www.portalbv.com.br/2019/02/escola-sao-jose.html

FETEC. Inventário do Patrimônio Cultural de Boa Vista. Boa Vista: Gráfica Lóris, 2011

RAMALHO, Paulina Onofre; RAMALHO, Carla Onofre. A ATUAÇÃO DAS RELIGIOSAS CATÓLICAS EM RORAIMA, 2017. Disponível em https://www.en.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1503847846_ARQUIVO_Texto_completo_MM_FG-CarlaePaulinaOnofreRamalhodefinitivo.pdf

SÃO JOSÉ. Disponível em https://www.vaticannews.va/pt/feriados-liturgicos/sao-jose.html .


[1] Professor de História.

[2] (RAMALHO; RAMALHO, 2017, p.04)