"O Enterro do Termo 'Top!'"

"O Enterro do Termo 'Top!'"

Cenário: Um cemitério simbólico e bem-humorado, com uma lápide ao centro, onde está gravado o termo “TOP!” em letras grandes e coloridas. Ao redor, um pequeno grupo de pessoas vestidas de maneira exagerada, representando diferentes eras e estilos da língua portuguesa (desde poetas clássicos a influenciadores digitais modernos).
Personagens:
Narrador Erudito – Uma figura em trajes antiquados, como um professor de literatura do século XIX, com um tom pomposo e teatral.
Influencer Digital – Um jovem moderno, vestido de forma casual e descolada, sempre com o celular em mãos.
Poeta Clássico – Um personagem romântico, vestido com roupas antigas, dramaticamente apegado ao uso refinado da língua.
Senhora Dialeto – Uma senhora idosa que representa a riqueza e diversidade da língua portuguesa, sempre com uma palavra nova na ponta da língua.
“Top!” – Um personagem vestido como um palhaço triste, com um grande chapéu escrito “TOP!” que parece pesado demais.

Ato I: A Chegada ao Cemitério

(Luzes acendem. O palco é um cemitério. O Narrador Erudito entra, com um olhar severo e carregando um livro enorme com a palavra “Dicionário” estampada na capa.)

Narrador Erudito: (Com voz solene) Caríssimos, reunimo-nos hoje para despedir-nos de um termo que, por desventura, perdeu sua majestade linguística. Diante de nós, jaz o pobre “Top!”, ex-coringa da comunicação contemporânea, desgastado pelo uso excessivo e, ouso dizer, preguiçoso!

(Entra o Influencer Digital, gesticulando e falando ao celular.)

Influencer Digital: (Desesperado) Calma aí, galera! Calma! Como assim vocês vão enterrar o “Top!”? Tipo, “top!” é “top!”, entende? (Ri)

Narrador Erudito: (Com desdém) Justamente! Esse é o problema, meu jovem! Tudo se tornou “Top!”… do sorvete ao pôr do sol! Estamos aqui para resgatar a riqueza do nosso vocabulário que, ao contrário de seu termo desgastado, é extenso e poético.

(Entra o Poeta Clássico, dramaticamente, com um livro de poesias na mão.)

Poeta Clássico : (Declamando) Onde está o esplendor das palavras? O fascínio do “esplêndido”, o mistério do “sublime”, a doçura do “encantador”? Que tragédia esta de reduzir nosso léxico ao termo… “Top!”?

Influencer Digital: (Rindo nervosamente) Ok, ok, eu entendo, mas “top!” é fácil, rápido, e todo mundo entende, sabe?

Senhora Dialeto: (Entra lentamente, apoiada em uma bengala de dicionário) Ah, meu jovem, fácil é usar “maravilhoso”, “exuberante”, “fantástico”! Você já experimentou “estupendo”? “Magnânimo”? É uma delícia, não engorda e não cansa a língua! (Ri)

Influencer Digital: (Intrigado) Estu… o quê?

Narrador Erudito: Estupendo! Ah, que palavra formidável! É o antídoto perfeito contra o “Top!”!

Ato II: O Sepultamento

(O grupo se reúne ao redor da lápide de “Top!”. “Top!” está sentado ao lado, triste e abatido.)

Influencer Digital : (Aproximando-se de “Top!”) Ei, amigão… (Com um tom brincalhão) Fica assim não, vai! A gente vai te guardar nas boas lembranças da internet.

“Top!” (Com voz melancólica) Eu tentei ser útil… Tentei fazer parte de tudo, mas acho que exagerei. Agora só sou uma sombra do que já fui…

Poeta Clássico: (Consolador) Não se culpe, “Top!”… A culpa é da preguiça mental que assolou o nosso tempo. Mas saibas que outros virão e ocuparão seu lugar, até que também precisem de descanso.

Senhora Dialeto: (Afetuosamente) Está tudo bem, querido “Top!”… Veja, até mesmo os melhores precisam de um tempo. E quem sabe, num futuro, você retorne, renovado, com novos significados!

(O grupo faz um breve momento de silêncio. Depois, todos se viram para o público.)

Narrador Erudito: (Com vigor) Que esta cerimônia seja um chamado à ação! Usemos a vastidão de nosso idioma! Digamos “excelente”, “maravilhoso”, “espetacular”! Deixemos que “Top!” descanse em paz.

Influencer Digital: (Olha para o público, sorri) Que tal começarmos agora? Vamos compartilhar um sinônimo novo todos os dias? Vamos parar de achar tudo só… “Top!”?

(O grupo se aproxima da lápide e, juntos, fazem um último aceno para “Top!”. O público é convidado a rir e a refletir.)

Todos: (Em coro) Adeus, “Top!”. Que nossa língua viva sem limites!

(As luzes se apagam lentamente enquanto um pequeno “Top!” se despede e sai cabisbaixo do palco.)

FIM.
Autoria Oiran Braga, no chuvoso dia de 31 de agosto 2024.
Boa vista, Roraima – Amazônia Brasileira