OPINIÃO

O Impacto das Apostas Esportivas no Orçamento das Famílias Brasileiras

Rubens Savaris Leal

Nos últimos anos, as apostas esportivas, ou “bets”, têm se consolidado como uma prática cada vez mais popular no Brasil, especialmente entre as classes socioeconômicas D e E. Com a legalização e expansão dessas plataformas, surgem preocupações significativas quanto aos impactos econômicos e sociais dessa atividade. Este artigo busca abordar o problema sob uma perspectiva crítica, considerando os dados mais recentes sobre o tema.

As apostas esportivas, inicialmente vistas como uma forma de entretenimento, têm se transformado em um verdadeiro problema financeiro para muitas famílias brasileiras. De acordo com um estudo realizado pela PwC Strategy& do Brasil, os gastos com apostas esportivas já superam despesas discricionárias como lazer, cultura e até alimentação em algumas famílias de menor poder aquisitivo. Esse fenômeno está gerando uma redistribuição de gastos, impactando negativamente o orçamento doméstico.

Dados recentes revelam um aumento alarmante na proporção do orçamento familiar destinada às apostas esportivas entre as classes D e E, saltando de 0,27% em 2018 para 1,98% em 2023. Esse aumento está diretamente relacionado à redução de despesas em áreas essenciais, como lazer, cultura e até alimentação. Tal mudança de comportamento é particularmente preocupante, pois evidencia um desvio de recursos que afeta não apenas a qualidade de vida das famílias, mas também a economia como um todo.

Um dos principais riscos associados ao crescimento das apostas esportivas é o endividamento. O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) alerta que a baixa educação financeira e a vulnerabilidade econômica tornam as famílias de baixa renda mais suscetíveis a esse tipo de risco. A consultora do Idec, Ione Amorim, destaca que o problema das apostas não se limita ao âmbito econômico, mas se estende à saúde mental, com consequências graves, como suicídio, destruição de lares e dependência química.

Além disso, o Projeto de Lei nº 2.234/2022, atualmente em tramitação no Senado, propõe a ampliação da exploração de jogos de azar no Brasil, incluindo cassinos e bingos. Embora os defensores da legalização argumentem que isso geraria emprego, renda e tributos, é crucial considerar os custos sociais e de saúde mental associados a essa atividade. A falta de regulamentação adequada e de políticas de prevenção ao vício pode agravar ainda mais a situação.

É imperativo que o governo e a sociedade como um todo reconheçam os perigos das apostas esportivas, especialmente para as classes de menor renda. A regulamentação das apostas deve ser acompanhada de medidas de proteção ao consumidor, educação financeira e políticas públicas que minimizem os impactos negativos dessa prática. Somente assim será possível mitigar os danos causados por essa atividade e proteger as famílias brasileiras de um ciclo de endividamento e vulnerabilidade social.

Professor UFRR