Cláudio Sipert
Professor de Filosofia da UERR
Comemora-se hoje o tricentenário do filósofo Immanuel Kant, nascido em Königsberg, capital da província alemã da Prússia Oriental (atualmente Kaliningrado, na Rússia), no dia 22 de abril de 1724. Kant tinha como pai um artesão que trabalhava nessa cidade comercial florescente. Nesse contexto, Kant, que era o quarto de onze filhos, cresceu em um ambiente agitado e cheio de novidades. No caminho para a escola, no centro da cidade, havia muitas lojas. Navios comerciais da Inglaterra e da Holanda traziam produtos de povos distantes. O jovem Kant frequentou a escola local, onde aprendeu o que era necessário para a educação geral e como preparação para a universidade, incluindo principalmente um conhecimento profundo da língua latina. Em 1740, quando Frederico, o Grande, subiu ao trono prussiano, o jovem Kant ingressava na Universidade de Königsberg. Foi a primeira vez que ele entrou em contato com filosofia, matemática e ciências naturais. Após seis anos na universidade Kant torna-se preceptor, trabalhando como tutor em três famílias diferentes até 1755. No entanto, ele abandonou esse trabalho para se habilitar em Königsberg, começando uma extensa carreira de ensino na universidade como docente privado. Suas palestras abordavam matemática, física, antropologia, geografia física, lógica, metafísica e muito mais. Somente em 1770 Kant foi nomeado para a cátedra de metafísica e lógica que ele tanto desejava. Mesmo com a carreira de professor ele sempre permaneceu em sua cidade natal, Königsberg.
Os habitantes de Königsberg podiam ajustar seus relógios pelo “caminho do filósofo”. No entanto, sua rotina diária não era apenas espacial, mas também temporal. Pontualmente às cinco horas, seu mordomo o acordava. Ele imediatamente começava a preparar suas palestras. No início, elas ocupavam quatro a cinco horas diárias. Após as palestras, ele trabalhava até as 13 horas, principalmente na fixação escrita de seus pensamentos. O almoço subsequente oferecia tempo para descanso. Em seguida, à mesa, em uma atmosfera não filosófica, em companhia de convidados se reunia até cerca de 16 ou 17 horas, discutindo diversos assuntos atuais. Depois disso, Kant se retirava para ler ou pensar. Pontualmente às 19 horas, ele fazia sua caminhada pela cidade. Era tão regular que se dizia que os habitantes de Königsberg podiam ajustar seus relógios pelo “caminho do filósofo”. Depois de sua caminhada, ele ainda tinha tempo para leitura e ia para a cama pontualmente às 22 horas, garantindo assim sete horas de sono.
Sua obra principal é a Crítica da Razão Pura, cuja tarefa é determinar as fontes, o alcance e os limites do conhecimento humano. Kant faz um levantamento das próprias condições de possibilidade da razão em estender-se no conhecimento através de simples conceitos. Segundo Kant, há certas condições que residem no sujeito e que tornam possível o conhecimento dos objetos. Assim, não é o conhecimento que se ajusta aos seus objetos, mas sim os objetos é que se ajustam às condições do sujeito. Kant mesmo chama esse passo de uma “revolução do pensamento”, comparável à revolução de Copérnico do modelo geocêntrico para o heliocêntrico. Segundo o modo de pensar da “revolução copernicana” Kant afirma que nós mesmos inserimos nas coisas o que nelas conhecemos. De acordo com essas condições, também se definem certos limites para o conhecimento, o que traz uma consequência negativa: teorias metafísicas que reivindicam conhecimento além dos limites da experiencia estão fadadas ao fracasso.
Uma vez que todas as teorias metafísicas desenvolvidas até então ignoraram esses limites, o resultado negativo da Crítica da Razão Pura é nada menos que o fim da metafísica tradicional. Kant não é o primeiro a criticar a metafísica “dogmática”. No entanto, a Crítica da Razão Pura oferece pela primeira vez um diagnóstico coerente das falhas da metafísica, que residem na própria razão humana. Kant reconhece o interesse metafísico da razão, mas nega que a razão “pura”, possa produzir conhecimento metafísico. O que a metafísica estabelecida considerava como proposições teóricas sobre Deus, liberdade e imortalidade, Kant chama de “postulados da razão prática” – artigos de fé necessários que decorrem da autocompreensão racional de pessoas que estão sob obrigações morais. A restrição de Kant às reivindicações de conhecimento teórico acompanha, portanto, uma valorização da racionalidade prática: o interesse metafísico de nossa razão, quando entendido corretamente, visa a fornecer uma orientação racional para nossas ações.