Walber Aguiar*
Meus olhos semicerrados, cortinas que se abrem pra vida…
Raimundo pode ser uma rima. Uma rima solta, a harmonizar com mundo, a espalhar partículas de palavras e versos drummondianos. Raimundo pode ser uma solução; um desejo de que tudo mude pra melhor, de que o simples seja visto como o mais importante, de que os pés descalços valham mais que o tênis da moda, de que o pássaro seja mais enigmático que o avião.
Raimundo Nonato agrega alguma coisa do Nordeste, do Piauí, dos lugares mais longínquos e mais dignamente simples de se viver. Nonato é nome de vogal aberta, nome cantarolado, que pode ser dito em voz alta nos mercados e feiras, nos pontos de ônibus e nas mais emocionantes cenas de teatro.
Chacon talvez venha de Charco, de Chaco, de algum lugar encharcado de vida, de água, de fecundidade, de poesia. Chacon talvez seja o lugar da grandeza e da serenidade, da leveza e de indescritíveis movimentos representativos. Dinamicidade à flor da pele, como que a querer viver o palco na vida e a vida no palco. Confundir a cena com as manhãs de sonho e náusea, de rotina e suor, de limite e imensidão.
Chacon viveu como quis viver e morreu de repente, como na passagem de um ato a outro, ante o spot azul e cinza do sonho e da realidade. Chacon falou de alegria, amor, misticismo, desejo, sexualidade, ambientalismo, certezas e dúvidas, aridez e desencanto, flor e espinho, desespero e esperança. Foi professor de artes no Oswaldo Cruz, de publicidade, especificamente no GOT, Ginásio Orientado para o Trabalho, onde se aprendia a tocar a sensibilidade de uma flor, a elaborar coisas lindas na madeira, a mexer com canteiros e com frutas, a desvendar os segredos de profissões as mais variadas.
Quando penso no homem e nas personagens que Chacon era e representava nos palcos da vida, trago à memória o genial Carlitos, o Charles Chaplin, que, com suas pernas tortas conseguiu desentortar o mundo em seus mais variados aspectos. Isso porque ensinou, à semelhança de Cora Coralina, que bondade também se aprende, que na imensidão do mundo há espaço suficiente para todos.
Adeus, grande mestre Chacon. Seu exemplo fica. E vai continuar, até o dia em que nos encontrarmos no Strawberry Fields Forever, nos imensos palcos do infinito…
*Poeta, professor de filosofia, historiador, Conselheiro de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras…[email protected]