OPINIÃO

Papa Francisco deixa marca histórica em defesa do meio ambiente e dos mais vulneráveis

Marcellus Campêlo

O mundo se despede de um líder espiritual que transcendeu fronteiras religiosas e políticas. O Papa Francisco faz a sua passagem, deixando um legado profundo de amor à criação, ajuda aos menos favorecidos e compromisso com a dignidade humana. Sua voz ecoou em defesa das florestas ameaçadas, das comunidades mais vulneráveis, das periferias esquecidas e também inspirou políticas públicas onde esses desafios são vividos de forma intensa e diária.

O Papa se destacou pela postura progressista e profundamente ética sobre essas questões. A encíclica Laudato Si’, expressão em italiano antigo (do dialeto de São Francisco de Assis) que significa “Louvado sejas”, foi um marco histórico que redefiniu o olhar da Igreja e do mundo sobre o meio ambiente. Publicada durante o seu pontificado, nela ele introduz o conceito de ecologia integral, unindo meio ambiente, economia, sociedade e espiritualidade. Critica o consumo excessivo, a cultura do descarte, a degradação ambiental e o descaso com os pobres, que são os mais afetados pelas mudanças climáticas.

Francisco reforça, na encíclica, o sentido de que proteger o meio ambiente é também cuidar das pessoas, sobretudo as mais vulneráveis. Mais do que um apelo ecológico, tornou-se um ato em defesa do que ele chama de Casa Comum, o planeta Terra. 

Durante o Sínodo da Amazônia (2019), o Papa Francisco deu voz a líderes indígenas e povos tradicionais, mostrando a importância da região para o equilíbrio do planeta. Condenou a exploração predatória da floresta e destacou o papel do bioma amazônico na luta contra a crise climática. Enfatizou o cuidado com a Amazônia como um dever moral e coletivo.

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Pulmão do planeta e lar de povos originários, a Amazônia foi constantemente mencionada por ele como símbolo de resistência, mas também de urgência. O seu discurso encontra eco entre os que lutam em defesa da região e dos povos que nela habitam, entre os que consideram prioridade a inclusão desse público na oferta de saneamento básico, habitação digna e infraestrutura sustentável. Entre os que têm em mente que levar infraestrutura de qualidade para todos é uma forma de reduzir desigualdades sociais, garantir melhores condições de vida.

Sistemas de esgoto e drenagem urbana, água potável, moradias populares e espaços públicos requalificados, sabemos bem disso, ajudam a transformar a realidade de famílias que vivem em áreas de risco, algo que o Papa não só lutava, como considerava missão de todos os cristãos e cidadãos.

Na defesa do meio ambiente, o pontífice também propunha que o desenvolvimento não fosse inimigo da natureza. Incentivou governos, empresas e a sociedade civil a adotarem formas de desenvolvimento mais sustentáveis. Criticou o modelo econômico baseado no lucro acima da vida e estimulou a adoção de políticas públicas voltadas ao saneamento, energia limpa, mobilidade e habitação digna. Incentivou a educação ambiental como ferramenta de transformação social.

O Papa nos deixa, mas sua mensagem permanece viva, em cada ação, cada gesto que tenha como propósito a promoção da justiça social, o cuidado, a fraternidade. Que seu legado continue inspirando governantes, gestores e cidadãos que trabalham para transformar realidades. Que os valores por ele amplamente defendidos estejam sempre a nos guiar – a promoção da dignidade humana, o compromisso com a justiça social e o cuidado com a Casa Comum.

Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em Saneamento Básico e em Governança e Inovação Pública; exerce, atualmente, os cargos de secretário de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – Sedurb e da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE

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