OPINIÃO

Para tudo acabar na quarta-feira...

Carnaval é festa da carne, período em que o corpo está mais exposto, geralmente desnudo. Época de se mostrar e ser visto. Não por acaso, tempo em que as academias estão lotadas; malhando para ficar mais ‘sarado’. Carnaval é tempo de sedução. Em um país que valoriza em extremos corpos malhados, especialmente os jovens. É a época do ano que os desinibidos estão na vitrine.

Caro leitor, amiga leitora, certamente você teve um encontro furtivo no período momesco. Também é sabido que nove meses após o carnaval tem um baby boom: aumento de nascimentos de bebês frutos das fugidas de festas e encontros rápidos.

Tenho uma amiga que engravidou de um rapaz que conheceu em um baile. Fugiram do salão, trancaram-se no banheiro masculino, com gente batendo na porta. O mais difícil do ato foi tirar o macacão dela. O garoto, fruto da rapidinha, ganhou o apelido de “The Flash”.

Com maior consumo de bebidas alcoólicas e drogas, há um relaxamento, e as pessoas tendem a ser mais condescendes quanto ao sexo. Há uma maior liberação; são tempos libidinosos, da esbórnia, de testosterona saindo pelos ouvidos.

Existe uma máxima: “No carnaval, as meninas piram e os caras comem; em novembro, as meninas parem, os caras somem”. É uma rima sem-vergonha, porém verdadeira.

A verdade que carnaval é tempo de liberação, de colocar pra fora suas fantasias, seus bichos, de relaxar, e se possível, gozar.

Lembro de uma história ocorrida anos passados. O sujeito conheceu uma bela jovem, filha de um militar linha dura, em uma festa de carnaval, em um clube da cidade. Se esbarram no salão, enquanto o conjunto, -banda já foi chamada de conjunto, tocava marchinhas carnavalescas da velha guarda. Dessas que fazem até defunto levantar do caixão e rodopiar pelo salão.

Dançaram e sarraram a noite toda. Encharcados de suor, fugiram para o estacionamento. Beija aqui, beija ali, mão naquilo, aquilo na mão. O sujeito frustado, não conseguiu seu intento.

Como já era o último dia de carnaval, marcaram para  se encontrar na quarta-feira de cinzas.

Por se tratar de uma jovem sofisticada; ele macaco velho na arte da sedução, convidou-a para café no final da tarde. Foram ao shopping, e após o café, levou-a a uma sofisticada joalheria. Tudo pensado e articulado. Após o fechamento do horário bancário. Época em que nem se pensava em pix.

Ela entrou um pouco tímida; com uma vendedora esperta, a mostrar-lhe peças de bom gosto e bom bolso, foi se saltando. A cada peça que a vendedora lhe apresentava, o sorriso aumentava. Sorrindo de orelha a orelha, ela olhava pra ele, e ele confirmava com a cabeça. Felicidade total.

Ao fechar a compra, na casa de alguns milhares de reais, a jovem e a vendedora estavam radiantes. Ele a beijou; sacou um talonário de cheque, preencheu, assinou e passou para a vendedora.

A vendedora, constrangida, lhe diz:

-Dr. não me leve a mal, mas só posso liberar sua compra após consultar o banco, é norma da casa.

-Claro, entendo perfeitamente. Sou advogado, e sei mais do que ninguém que leis, normas e regras foram feitas para serem cumpridas.

-Que bom que o senhor entende.

-Me faça um gentileza, pegue o endereço da jovem, e mande entregar o presente na residência dela, juntamente com umas flores.

-Perfeitamente, doutor.

O casal saiu da joalheria feliz da vida. Tiveram um final de semana prazeroso.

No começo da tarde de segunda-feira, a vendedora ligou para ele, toda se desculpando.

-Dr, boa tarde, estou até constrangida em estar lhe ligando, mas o banco devolveu o cheque que o senhor nos repassou, informando que não tem fundos suficiente para cobrir a compra.

-Não se preocupe, pode rasgar o cheque, eu já consegui o que queria.

A vendedora desligou o telefone pensando na esperteza dele, que havia enganado duas mulheres.

É no carnaval, a festa da carne, quando a gente transborda. Agora, é esperar a quaresma, para nos redimir dos pecados.

Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. 

Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. 

E-mail: [email protected]