Sebastião Pereira do Nascimento*
O consumo exagerado de produtos que se caracterizam como elementos da indústria tecnocrata é uma marca cultural da sociedade contemporânea, onde prevalece a regra do “ter para ser”. Essa cultura ganha mais força ainda quando as pessoas relacionam o uso desses nocivos produtos, estimulado pela propaganda barata, a sensações abstratas e fúteis como poder, exibição, luxúria, entre outros desejos que julgam satisfazer o ego.
No caso da obsessão de consumir um produto de última geração, embora o “velho” modelo esteja plenamente funcional, como: computadores, celulares, televisores, aparelhos digitais, eteceteras — com seus embutidos procedentes da pirataria —, assim como o uso excessivo da internet, das redes sociais e todas as suas “bugigangas” só se tornam viáveis quando o indivíduo tem sobre controle o discernimento de decidir quando e até onde pode se beneficiar de forma sadia dessas ferramentas.
O consumo desmedido desses produtos, associado ao contentamento de prazer a todo custo, pode levar uma disfunção patológica, a qual deve ser encarada modernamente como uma doença. Diante disso, também o uso excessivo de alimentos pouco nutritivos como as massas (pizza, hambúrguer, presunto, hot dog, etc), embutidos industriais, refrigerantes, etc, são outros produtos que podem provocar diversos distúrbios, dentre eles as moléstias degenerativas e os cânceres. Esses produtos, aliados às refeições do tipo “fast foods”, são reconhecidamente aliciantes que desenvolvem maus hábitos e dependência às pessoas, com destaque para a população mais jovem.
O uso exabundante desses alimentos que agridem os seres humanos, apelados pela propaganda barata, além de refletir gravemente na saúde do indivíduo, reflete também na bonança das grandes marcas (perdigão, sadia, coca-cola, mac donald, subway, etc), que costumam ficar com o lucro e deixar os prejuízos para as pessoas usuárias de seus produtos “envenenados”. Produtos estes que faz a pessoa momentaneamente feliz, destruindo a sua saúde — isso pode sugerir que nem sempre a felicidade faz bem ao ser humano. Principalmente quando ele exagera na dose de forma embriagante.
É fato considerado que o hábito de consumir uma boa alimentação deve começar pela educação da família, onde os pais são os principais responsáveis pela atitude dos filhos. No caso dos alimentos, toda pessoa deve primar por uma alimentação saudável, levando em conta a pureza do produto e seus valores nutricionais – de preferência produtos orgânicos. Isso contribui para redução de muitos males e doenças crônicas, levando o indivíduo a ter uma vida saudável.
Voltando ao uso exorbitante de produtos nocivos à vida, vemos que uma das maiores preocupações do mundo contemporâneo é a tentativa de reduzir a agressão ao meio ambiente. Por conta disso, vem-se criando, entre as várias nações, protocolos, normas e legislações para lidar com o uso dessas tecnologias e seus resíduos maléficos, principalmente no tocante às emissões de gases poluentes, aos agrotóxicos e ao chamado “lixo eletrônico”.
Ainda por cima, no universo do consumismo, quando um indivíduo não se declina para utilização de alguns desses produtos supérfluos, é então excluído do meio, taxado de retrógrado ou antiquado. No gosto da sociedade, todo o esforço atribuído é para tratar, portanto, de pensar o homem moderno como uma criatura orientada para o consumo e para consentir tacitamente todo “bagulho” disponível no mercado; sendo que este consentimento se amplia na medida que se dar mais oportunidade ao indivíduo.
Por outro lado, além dessa patologia do consumo, aqui no Brasil um fator que decorre também de ações desregradas e que tem como intuito de levar vantagem sobre os outros, está explícito no famoso “jeitinho brasileiro”, que é a repulsiva malícia de encontrar uma solução para determinada situação, a qual se caracteriza como um ato típico de indivíduos de pouca inteligência e baixa virtude social, onde se busca obter um rápido favor para si. Por isso, o “jeitinho brasileiro” pode ser caracterizado como um ato de corrupção.
A presunçosa frase “sabe com quem está falando” é outra repulsiva informalidade exercida geralmente por uma pessoa que se julga dotada de alguma influência: social, política ou econômica. Isto acontece quando essa pessoa “maior” vê-se coagida por uma pessoa “menor”, e imediatamente a ameaça fazendo uso de sua influência.
No caso do Brasil, o antropólogo Sérgio Buarque de Hollanda avalia que essas manifestações são decorrentes de um fator histórico onde o indivíduo brasileiro teria desenvolvido uma propensão à informalidade. O que se deva isso ao fato de as instituições brasileiras terem sido concebidas de forma coercitiva e unilateral, não havendo diálogo entre governantes e governados.
Situações como essas levam inúmeros indivíduos, seja ele de “menor” ou “maior” importância social, a cometer muitas infrações preconizadas pelas convenções sociais, as quais decorrem de ações irresponsáveis que induzem perfeitamente a prática de querer se “dar bem” ou de “levar vantagem” em detrimento de outrem.
Não sendo suficiente, essas ações provocadas por indivíduos que não preservam nenhum limite moral, quando não acarretam traumas dolentes, afetam os valores e os direitos convencionais da sociedade, causando profunda indignação e sentimento de oposição quando atinge a pessoa dotada de uma vida equilibrada e favorecida de virtudes humanas.
*Filósofo, poeta, escritor e consultor ambiental. Autor de livros de poesias e ensaios filosóficos, além de diversas literaturas científicas.