O título, precisamos falar de cultura digital, é mais que uma frase de efeito ou um clichê para iniciarmos o presente texto. É notório que, hodiernamente, vivemos submersos, devido a uma enxurrada, de informações. Elas advêm de diferentes formas, meios e/ou instrumentos tecnológicos. Contudo, por vezes, aquilo que deveria servir para informar, são, na verdade, verdadeiros instrumentos de desinformação, acima de tudo com a propagação das chamadas fake news (notícias falsas). Importa dizer que o nosso objetivo não é discutir a respeito do conceito ou das práticas de fake news, seja por agentes públicos ou por pessoas simples e humildes. Reconhecemos que o debate e a abordagem são urgentes e necessários, pois elas são distribuídas e massificas de forma deliberada e intencional.
Com relação à discussão sobre a cultura digital, objeto inicial do texto, alguém poderia afirmar: estamos em plena era digital e tecnologia. Não é mais possível viver sem a internet ou os prazeres que ela pode (ou não) proporcionar ao indivíduo, a economia ou a sociedade. Também não é sobre isso que versará as próximas linhas. Queremos conversar/refletir sobre a maneira como o campo tecnológico molda o mundo e as nossas vidas. Assim, quando nos referimos ao conceito de cultura digitar não é apenas para mencionar ou destacar sobre gadgets (o termo é utilizado para designar dispositivos eletrônicos portáteis) e dispositivos inteligentes. Busca-se, desse modo, desnudar como as tecnologias estão modificando e alterando as relações sociais, a forma de extrair informação e conteúdo, além de mexer com as próprias identidades, social, coletiva e individual.
Como já mencionado, anteriormente, estamos vivendo tempos socialmente cada vez mais interconectados em que a ideia de cultura digital, acaba por transformá-la na condição onipresença. Vejamos! Quem nunca começou a “navegar” pelas ondas das redes sociais para “consumir” conteúdo, de forma on-line, e do “nada” aparece um monte de informações e conteúdos sobre um tema ou produto que você não desejava consumir?
Muitos não se dão conta (às vezes até sabem) que o referido consumo e interação acontece de fato é com os algoritmos. Grosso modo, eles formam um conjunto de instruções e regras que um software possui para executar suas funções ou tarefas. Dito de outra forma, os algoritmos são essenciais para compreender o comportamento do usuário na internet e aprimorar recursos e estratégias digitais. É a partir dessa premissa que discorremos que a cultura digital mexe com as relações/interações sociais, cultural e com as próprias identidades. Ademais, a cultura digital também nos desafia compensar e problematizar a noção de privacidade, em especial sobre as informações e os dados e pessoais.
Se você chegou até aqui, deve estar se perguntando: afinal a internet ou a cultura é algo tão ruim? A resposta de pronto é não! Ao contrário, ela oferece um leque de possibilidades e oportunidades. Por vezes, estreita e aproxima pessoas distantes fisicamente de nós. Contudo, por vezes, ela pode ter o efeito colateral, ou seja, distancia as pessoas próximas. O que desejamos é apontar para a necessidade de desenvolvermos habilidade de pensamento crítico e, assim, “navegar” com segurança no vasto oceano de informações e oportunidade que está amalgamada a cultura digital. A título de exemplo, se faz cada vez mais urgente aprendermos a discernir entre fontes confiáveis e duvidosas e a questionar as narrativas que nos são apresentadas, ou seja, precisamos usar filtros para separar, parafraseando a Bíblia, o joio do trigo.
Outro ponto que queremos descartar com relação à ideia de cultura digital é que ela precisar ser inclusiva e acessível. Infelizmente, inda permeia na era digital a exclusão de muitos ao potencial proporcionado pela cultura digital. É inegável que existem iniciativas, por exemplo, no universo on-line para democratizar o acesso à educação. Dessa forma, permitem que pessoas aprendam novas habilidades e, assim, compartilhem seus conhecimentos, vivências e experiências.
A exclusão digital ocorre quando indivíduos ou comunidades não têm acesso adequado a dispositivos eletrônicos, conexão à internet de qualidade ou habilidades digitais suficientes para participar plenamente da vida digital. Essa condição é geradora de uma série de desvantagens, as quais são atravessadas pelo acesso à educação e oportunidades de emprego até a exclusão de serviços essenciais disponibilizados apenas on-line.
Por fim, ao falarmos de cultura digital, é essencial não apenas celebrar suas conquistas, mas também refletir e enfrentar esses desafios, pois a negação do direito de usufruí-la agravará, ainda mais, as desigualdades existentes. Outrossim, precisamos encontrar maneiras de mitigar os efeitos negativos da polarização, da desigualdade, e promover uma cultura digital inclusiva, diversificada e equitativa para todos.
Francisco Marcos Mendes Nogueira. Historiador. Pesquisador e Brincante das Culturas Populares. Membro da Confluência Roda de Prosa de Roraima e do Coletivo Encruzilhada: Gestão & Projetos.
E-mail: [email protected]
Elizângela Araújo. Assistente Social. Produtora e Agente Cultural.
E-mail: [email protected]