A condução da política econômica por parte do governo federal está longe de ser algo animador para o mercado. Inflação, desvalorização cambial, aumento da carga tributária com ampliação de taxação sobre o consumo resumem de forma nada animadora o atual cenário da economia brasileira.
Paralelo a este cenário, o mercado vive a expectativa da direção que a economia vai tomar após a mudança no comando do Banco Central do Brasil. Gabriel Galípolo indicado pelo presidente Lula assumirá a partir de 1º de janeiro de 2025, com mandato até o final de 2028. Fonte de fortes críticas por parte do governo federal, a elevação da taxa Selic por parte da atual administração do Banco Central brasileiro, é algo contrário ao defendido pelo governo petista, que insiste em reduzir os juros, facilitando a concessão de créditos e financiamentos, sem se importar com as consequências negativas a médio e a longo prazo para a economia.
A taxa Selic influencia outras taxas de juros do país, como as taxas de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. Além disso, ela representa a média dos juros de empréstimos pagos pelo governo brasileiro. Quanto maior a taxa, mais “caro” é para o consumidor final realizar financiamentos e empréstimos, resultando em um menor consumo. Em contrapartida, uma Selic mais baixa incentiva o consumo e o crescimento da economia nacional.
A taxa Selic atual é de 12,25%, fixada após a última reunião do Copom, em 11 de dezembro.
Durante o mandato do atual presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, algumas ações importantes foram adotadas para estabilizar e fortalecer a economia brasileira, incluindo:
- Aumento da Taxa Selic: Em resposta à inflação em alta, o Banco Central, sob sua liderança, elevou a taxa de juros (Selic) várias vezes para conter a pressão inflacionária e estabilizar a economia.
- Política de Transparência: Campos Neto enfatizou a importância da comunicação clara e transparente das decisões de política monetária, promovendo uma melhor compreensão do mercado sobre as ações do Banco Central.
- Independência do Banco Central: Durante seu mandato, houve um foco na continuidade da autonomia do Banco Central, o que é fundamental para garantir decisões baseadas na técnica, e não em pressões políticas.
- Regulação do Sistema Financeiro: Implementou medidas para melhorar a regulação do setor financeiro, aumentando a resiliência bancária e a eficiência do sistema.
Essas ações visaram mitigar a inflação, reduzir influência de agentes externos, estabilizar a economia e apoiar o crescimento, em um cenário de mudanças políticas.
Consequências Econômicas da Redução dos Juros pelo Banco Central
O perfil populista na condução da política monetária pelo Partido dos Trabalhadores, direciona para redução na taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) como ferramenta para incentivar o consumo por meio da conceção de crédito para a população. Durante os governos Lula 1 e 2 (2003 – 2010), Dilma 1 (2011 – 2014) presenciamos o cenário de redução da taxa de juros como medida de financiar o consumo das famílias e promover crescimento da economia e suas consequências posteriores.
A redução drástica dos juros por parte do banco central é uma medida que visa estimular a economia. No entanto, espera-se que a redução dos juros se dê de forma gradativa, mês a mês, para não acelerar imediatamente a inflação, e reduzindo mais ainda a impopularidade do governo petista. Como toda intervenção, essa medida traz consigo uma série de consequências, tanto positivas quanto negativas que impactarão a economia brasileira.
Consequências Positivas:
- Aumento do crédito e investimentos: Com juros mais baixos, fica mais barato tomar empréstimos, incentivando as empresas a investirem em novos projetos e as pessoas a consumirem mais. Isso pode gerar um aumento da produção, do emprego e da renda.
- Estimulo ao consumo: Juros menores tornam os financiamentos mais acessíveis, incentivando as pessoas a comprarem bens duráveis como casas e carros, o que pode aquecer a economia.
- Desvalorização da moeda: Em alguns casos, a redução dos juros pode levar à desvalorização da moeda nacional em relação a outras moedas. Isso pode tornar as exportações mais competitivas, estimulando o crescimento econômico.
Consequências Negativas:
- Aumento da inflação: A maior disponibilidade de crédito e o aumento do consumo podem pressionar os preços, levando à inflação. Se a inflação sair do controle, pode desvalorizar a moeda, corroer o poder de compra da população e gerar instabilidade econômica.
- Bolha especulativa: A busca por maiores retornos em um ambiente de juros baixos pode levar à formação de bolhas especulativas em determinados setores da economia, como o mercado imobiliário ou o mercado de ações. O estouro dessas bolhas pode causar crises financeiras.
- Aumento da dívida pública: Se o governo tiver uma dívida elevada, a redução dos juros pode aumentar o custo de rolagem dessa dívida, pois ficará mais barato para o governo contrair novo endividamento, aumentando o endividamento total e pressionando as contas públicas.
- Desequilíbrio externo: A desvalorização da moeda, causada pela redução dos juros, pode tornar as importações mais caras, aumentando a inflação e gerando um déficit na balança comercial.
Fatores que influenciam as consequências:
- Nível inicial dos juros: A magnitude dos efeitos da redução dos juros depende do nível inicial dos juros na economia. Em um cenário de juros altos, o impacto de uma redução será maior.
- Estado da economia: A eficácia da política monetária também depende do estado da economia. Em uma recessão, a redução dos juros pode ser mais eficaz para estimular a atividade econômica do que em um período de expansão.
- Expectativas dos agentes econômicos: As expectativas dos agentes econômicos sobre a inflação futura e sobre a política econômica do governo também influenciam o impacto da redução dos juros.
A redução drástica dos juros é uma ferramenta poderosa para estimular a economia, mas seu uso deve ser feito com cautela, considerando os riscos de inflação, bolhas especulativas e desequilíbrios externos. A decisão de reduzir os juros deve ser baseada em uma análise cuidadosa da conjuntura econômica e das expectativas futuras.
Impactos – Setor Produtivo
Em um cenário de redução dos juros com a perspectiva de expansão, empresas tendem a investir em novos projetos, expandir suas operações, ampliar seu quadro funcional, impulsionando a produção e o crescimento econômico. Com o crédito mais barato, as pessoas tendem a consumir mais, beneficiando setores produtivos, entre eles o comércio.
Essa expectativa de redução dos juros e seus impactos se baseiam no modelo de condução da política monetária por parte de governos petistas anteriores. As consequências econômicas em um curto período de tempo (dois anos) são favoráveis ao crescimento, após isso, a economia entra em recessão, pois o crescimento financiado deixa como consequência inflação e endividamento das famílias como já evidenciado no governo Dilma 2.
Surfando a Onda
Sabendo-se que terá uma maior oferta de crédito por meio da redução dos juros e financiamento do consumo, devemos estar preparados para o aumento de demanda consumidora que certamente ocorrerá em todos setores e segmentos. A continuidade eminente da desvalorização da moeda brasileira frente ao Dólar, direciona para um aumento nas negociações roraimense com os países vizinhos, principalmente a Guiana, onde a exploração de petróleo vem permitindo crescimento econômico ao país, ampliando a renda per capita da população, tornando nossos produtos economicamente mais acessíveis.
Sendo conhecedor das consequências econômicas que estão por vir, mesmo que de forma geral a condução da política econômica não esteja baseada em lastros seguros para o mercado, mesmo assim é possível obter-se vantagens das ações e desdobramentos da política monetária direcionada para redução dos juros básicos da economia brasileira (Selic).
Os acontecimentos do passado, permitem de forma clara a leitura do presente, e projeção com maior assertividade do futuro.
Boa Vista – RR, 30 de dezembro de 2024.
Dorcilio Erik – Economista