*Dolane Patrícia
De todas as campanhas que participei, Quebrando o Silêncio, é a que mais me fascina! É uma campanha da Igreja Adventista do 7º Dia e suas principais ações ocorre sempre no quarto sábado do mês de agosto. Este é o “Dia de ênfase contra o abuso e a violência”, quando ocorrem carreata, fóruns, eventos de educação contra a violência e manifestações na América do Sul.
A cada ano um tema é escolhido para ser discutido e abordado com propósito de conscientizar a comunidade, denunciar abusadores e ajudar as vítimas. O tema de 2023 é a Violência Obstétrica.
Esse tipo de violência é caracterizada pelo tratamento desumanizado sobre o corpo da mulher no momento do parto. Podemos citar, dentre outros, o desrespeito, o assédio moral e físico, abuso e a negligência dos médicos ou enfermeiros.
O site www.saudenacomunidade.org informa que a cada ano cerca de 300 mil mulheres perdem suas vidas em todo o mundo por causas relacionadas à gestação, parto e puerpério (período que decorre desde o parto até que os órgãos genitais e o estado geral da mulher voltem às condições anteriores à gestação).
O site ainda destaca que essas mortes são apenas a ponta de um “iceberg”, Estima-se que mais de dois milhões de mulheres em todo o mundo passem por complicações muito graves, a cada ano.
Segundo a revista ÉPOCA, “uma em cada quatro mulheres é vítima de desrespeito, abuso, maus tratos e até negligência no parto. A mãe da atriz Grazielli Massafera foi uma delas”
É uma campanha louvável, uma vez que muitas mães sequer relatam o ocorrido, chegando ao ponto de acreditar ser normal esse tipo de tratamento no momento do parto, quando na verdade se trata de um tipo de abuso, considerado uma violência contra a mulher.
A revista Época trás ainda diversas histórias de pessoas que sofreram algum tipo de abuso no parto, apresenta dentre muitos, o seguinte relato:
“Quando a paranaense Kelly Mafra publicou seu relato de parto em uma comunidade no Facebook para mães, em 2014, “(…) Desde o momento em que as contrações começaram, ouviu: “Na hora de fazer, não gostou?” e “Não grita, vai assustar as outras mães”.
Existem muitos relatos, a história de uma mãe pode estar expressando a frustração de muitas que se calaram: “O médico entrou e falou ‘Vamos fazer esse bebê nascer’. Mandaram eu fazer força, mas não conseguia por causa do quadro de pressão alta. O médico disse que eu seria a primeira mulher do mundo que não ia conseguir parir um filho. Uma enfermeira debochou, disse que ‘na hora de fazer foi bom’.
“Ela está toda dolorida e teve as partes íntimas cortadas para a retirada do bebê, no entanto, após não obterem sucesso decidiram abrir a barriga dela e assim retirar o corpo da criança que estava morta”.
Agressões verbais, recusa de atendimento, privação de acompanhante, lavagem intestinal, raspagem dos pelos em tom de deboche, jejum e separação de mãe e bebê saudável após o nascimento estão entre os itens da gigante lista de violências obstétricas.
Existem casos que chocam e traumatizam. É importante saber as situações que podem ser consideradas como violência: Podemos destacar o fato de deixar sem água e sem comida, gritar, proferir ofensas, impedir o parto normal apenas por conveniência e comodidade, proibir a entrada do acompanhante, etc.
É preciso denunciar, só assim estaremos contribuindo para um mundo mais justo, podemos também estar ajudando a avaliar a assistência que é dada à mãe, tanto pelo SUS, quanto pelos usuários de plano de saúde.
Muito oportuna é a frase do médico obstetra e pesquisador Michel Odent: “Para mudar o mundo é preciso primeiro mudar a forma de nascer”.
*Advogada, juíza arbitral, mestre em Desenvolvimento Regional da Amazônia, especialista em Direito de Família, Direito Processual Civil e Neurociência, Expert em Execução. Personalidade da Amazônia e Personalidade Brasileira, imortal pela Academia de Literatura Artes e Cultura da Amazônia. @Dolane_Patricia