OPINIÃO

Saúde mental: como a escrita pode ser aliada no tratamento do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)?*

Sou um “tocado”, portador de TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo, desde criança. Somente em 2016 tive o diagnóstico e tenho 61 anos. Portanto, há sete anos somente eu sei que tenho o transtorno. Por quê? O TOC em muitos dos casos é muito difícil de ser diagnosticado, pois é confundido com várias outras situações psiquiátricas, existem vários subtipos de TOC e, ainda, não raro é associado a outras doenças mentais. Foram mais de 35 anos de sintomas e sofrimentos sem ao menos eu saber o que tinha. 3% da população do Brasil têm TOC e muitos também nem o sabem.

O TOC clássico, mais conhecido, é o”externo”, de comportamento, como a necessidade de lavar as mãos, tomar banhos intermináveis, falar as palavras certas, alinhar objetos, etc. TOC é sinônimo de “arrumação”, de “perfeccionismo” em relação a objetos. Há até filmes que trazem o lado cômico do tema (há algum?). Mas não é assim: há ainda muito preconceito com relação ao TOC. O transtorno se manifesta em mim em forma de pensamento, é de raiz pensamental. Isso porque no meu caso, são pensamentos invasivos, repetitivos, indesejados, totalmente ligados à doenças, ao próprio TOC e com eternas dúvidas sobre os efeitos das medicações e interações com o meio ambiente. Medo e dúvida invadem a cabeça do “tocado” de forma avassaladora. Isso gera muita dor.

Sempre escrevi pela vida, mas o fato de o escritor ter de se concentrar no objeto, na ação, que por sua vez “desvia” a mente do inquilino tocado, a escrita é uma boa aliada na rotina de uma pessoa com o transtorno. O TOC está em todo o meu livro, o “Casa Voadora — livro de sobrevivência de um autor com TOC”. Foram 500 dias de escrita com 499 dias de TOC praticamente. Para mim, a escrita é uma forma de arte, de viver, mas também uma forma de terapia. Meu livro é um manifesto sobre arte, educação e saúde.

Toda forma de arte traz benefícios à saúde. Se o corpo está em estado de arte, melhor ainda. Dançamos, amamos, caminhamos. Movimentos em geral podem levar o corpo a entrar em estado de arte. E a arte cura. Isso eu tenho convicção. Durante uma crise (elas vêm em ondas), a melhor coisa a fazer é fazer algo lúdico, focando a atenção em outras coisas, menos em você.

Se você tem a sorte de desconfiar que tem TOC, fato bastante difícil de se fazer sozinho, é procurar bons médicos especialistas. A terapia comportamental, a TCC, busca a força que todos nós temos para superar obstáculos na direção da qualidade de vida.

*Luiz Otavio de Santi, paulistano, é graduado em Comunicação Social, Cinema, especialista em Língua Portuguesa, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e doutor em Psicologia Social pela USP. Foi professor universitário, é acupunturista, eutonista (eutonia), cineasta, escritor e poeta. “Casa Voadora – Livro de sobrevivência de um autor com TOC” (Blucher, 444 pág.), lançado recentemente, é o seu terceiro livro. 

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