Por J.C. Lydes*
Levanta a mão a mulher que nunca ouviu essa frase. Bem, não aconselho esperar muito para ver essa tal mão surgir estendida, muito menos se você estiver de pé. Ela não surgirá. Seja no trabalho, em rodas de amigos ou familiares, no trânsito, na mesa vizinha no bar, toda mulher já ouviu essa expressão.
“Ah, por favor, é brincadeira. Hoje em dia não se pode falar mais nada”. Se você pensou isso, bem, tenho que informar que se a piada constrange, diminui ou ofende uma pessoa, gênero, etnia, orientação sexual ou religião, então o melhor mesmo é se calar. Pois o que para alguns é só uma brincadeira, na verdade, é uma microagressão. E elas são muitas e tão variadas que poderiam encher uma página inteira.
“Deve estar de TPM”, “Isso é falta de homem”, “Mulher no volante, perigo constante”, as clássicas sobre cartão de crédito e mulher, e por aí vai. Comentários que estão tão enraizados na nossa sociedade que, muitas vezes, quem os diz não percebe o quanto são nocivos.
Infelizmente, as microagressões não param por aí. Estão em gestos como a interrupção da mulher enquanto ela fala, na necessidade de explicar coisas óbvias referentes à área de atuação e especialidade dela, até manipulações psicológicas que fazem uma mulher duvidar de si.
Essas pequenas violências cotidianas, muitas vezes tão sutis que demoram para serem percebidas, afetam a saúde mental, minam a confiança, a autoestima, causam estresse e muitas vezes depressão. E, antes que alguém diga que isso tudo é mimimi, saiba que isso também é uma microagressão. Que diminuir e invalidar os sentimentos e as dores do outro também é uma forma de agredir.
Se você está lendo e pensando: “Certo, entendi. Mas e agora?”. Agora é hora de olhar com mais empatia para quem está ao redor. Um olhar atento e cuidadoso que capture situações como essas e não finja que nada foi visto ou percebido. Um olhar que impulsione homens a dizerem para seus amigos que aquela piada sobre mulher não tem graça. Que encoraje mulheres a não forçarem um sorriso diante de comentários “brincalhões” que a inferiorizam, a defender outras mulheres em situações de constrangimento, dar apoio.
Quem sabe assim, no futuro, nossas filhas levantem a mão em resposta à pergunta que fiz lá no começo. Quem sabe elas não ouçam nunca “que só podia ser mulher.”
*J.C. Lydes ou Jéssica Chagas tem 30 e poucos anos, é baiana, mora em São Paulo e escreveu A história de como eu morri