Toc, toc, toc! Foram três batidinhas na porta. Ao escutá-las, fiquei pasmo. Meu coração tornou-se um barquinho em meio a uma tempestade em alto-mar, pulsando como um poraquê, transbordando de adrenalina. Levantei-me como se um ouvido gigantesco pudesse me escutar e olhos alheios estivessem fixos em mim. Pisei no chão como uma lesma em uma Fórmula 1. Cada passo era coreografado enquanto me dirigia à porta. Olhei pelo olho mágico. E então, eu vi o amor: todo penteado, sem cavalo branco, pouco sol na pele, com os olhos claros, trajando uma roupa leve. Trêmulo, sem cor e paralisado fiquei, diante da porta. Mais três batidinhas: Toc, toc, toc! O amor se moveu para o lado, não chamou e nem gritou, pareceu inquieto, ajeitou o cabelo e… se foi. Senhoras e senhores! O amor bateu à minha porta. Eu não abri, e ele se foi.
Santo Antônio e o Moço do Céu me olharam com um ar de reprovação. Mas eu tenho minhas justificativas para não abrir a porta, para não me lançar intensamente nos braços do amor.
E essas razões estão pautadas na mais sólida lógica. A vida é uma montanha-russa de acontecimentos, que vão desde o primeiro choro até o último suspiro de agora. Tem horas que a vida faz cócegas, e eu me pego a sorrir. Mas há horas que ela cutuca as feridas emocionais. Quando isso acontece, eu me transformo em uma chuva de tristeza ou sou trovão de lamentação.
Não sei quando nasceu a primeira ferida, entretanto sei que foram se acumulando. Quando me dei conta, já estava ferido por completo. Passei de uma criança cheia de arranhões a um adulto repleto de inseguranças.
Foram fatos da infância: no parquinho familiar, no colorir da vida escolar, na metamorfose da minha adolescência. Faltou um ponto de apoio, principalmente na descoberta da vida adulta e na leitura – e vivência – da poesia do amor. Foi aqui, nessa leitura de poesia, que começaram os acidentes e atropelamentos do meu ser. Entrei no carro dos relacionamentos sem ter carteira de habilitação emocional. Foram inúmeros acidentes. Eu achava tudo normal, afinal, minha mãe também não tinha habilitação. Mas eu me feria. Trocava de carro, de rota, mas só aumentavam as chances de um acidente pior.
Agora entendem o porquê de não abri a porta? Mesmo com a carência ao meu lado e o medo da solidão me rondando, escolhi um caminho diferente. Preciso tirar minha habilitação emocional. Mas, antes de tudo, o primeiro carro que quero dirigir é o do amor-próprio, autocuidado e do conhecimento de si. Isso mesmo, quero me relacionar comigo. Preciso voltar àquela criança que tinha seus carrinhos de latinha, que pintava, cantava, decorava cenas de novelas e dançava sem receio do julgamento alheio. Preciso chamar aquele jovem que sonhava em escrever um livro, que adorava ouvir música, que lia poesia até para as baratas da casa, era um inseticida poético. E preciso, urgentemente, parabenizar o adulto que conseguiu sobreviver à corrida da vida.
Ressalto em canção de amadurecimento, que para tirarmos nossa carteira de habilitação emocional, precisamos habilitar não apenas o nosso presente, mas também o nosso passado. Afinal, a vida é um trânsito constante de relacionamentos – amorosos ou não. Falando nisso… Como anda a sua habilitação emocional?
Ass.: Histayllon Santos (Aspirante a escritor) _ @histayllon_santos