OPINIÃO

Trombones para o povo –

Trombones para o povo –

 Walber Aguiar*

E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor, depois da banda passar, cantando coisas de amor.                                                                                             Nara Leão

Era o ano de 1951. Chegava mais um homem disposto a viver e a desenvolver o Território de Roraima. Viver para alegrar a vida e desenvolver a grandeza e a sensibilidade no coração de muitos. Garimpeiro, lavrador frustrado, professor, músico, enfermeiro, juiz de paz, comissário de menor. Auxiliava a justiça, aplicava injeção, achava diamantes e ensinava o que sabia aos que pouco conheciam da vida e da história.

Genésio da Costa Aguiar ou Genésio “do trombone”, como é mais conhecido, aumentou consideravelmente seu círculo de amizades. Do tempo em que as famílias de Boa Vista, inclusive do Centro, sentavam em banquinhos na frente de casa e contavam “histórias de Trancoso”, mitos, lendas, coisas de arrepiar o cabelo. Formado na Escola Normal Regional Monteiro Lobato, até corte e costura ele aprendeu.

No tempo em que se apostava na integralidade do ensino, onde os alunos estudavam de enfermagem a Camões, de canto orfeônico a Euclides da Cunha, seu Genésio decidiu que a vida não passaria em brancas nuvens. Podia se isolar, mas, ao contrário, resolveu aparecer, se mostrar ao público que ouvia os acordes da velha banda “furiosa”. Roraima ganhou um homem de bem, um músico, um professor, um pai de família. O Maranhão perdeu um exemplar de extrema gentileza e humildade. 

Dorval Magalhães dizia que se todos fossem Genésios não haveria necessidade de polícia ou de justiça. A vida seria muito mais suportável, posto que pautada pelo ético e pela honestidade.

É óbvio que um filho tem sempre algo de bom a dizer do pai. Não apenas digo, escrevo para o presente e para o futuro, pois a história não pode ser partida, fissurada, segmentada.  As coisas se completam, os “heróis” aparecem e desaparecem ao longo dos anos. Assim, nem mesmo o tempo consegue fragmentar as coisas boas, os homens de caráter, a beleza de quem vive para construir pontes e não muros.

Mas um “herói” não experimenta apenas a glória, sabe o sofrimento, passa pela dor. Mesmo tendo perdido filha e esposa, ele continuou espalhando galhardia e dignidade. Isso o manteve vivo e pulsante, nos coretos, tocatas e alvoradas da vida.

Era o dia 16 de dezembro de 2009. Mais um ano na sua coleção de primaveras. Ele acordou cedo, limpou o trombone, lembrou dos netos e levou a música para passear…

*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras