No meu entorno tenho ouvido com frequência pessoas reclamarem de tudo: falta de tempo, falta de dinheiro, falta de tesão, até da meteorologia. Se faz calor, se chove, se venta muito, tudo é motivo para esbravejarem. Nunca estão satisfeitos, parece que têm nada para agradecer. Acredito que está na moda viver reclamando e, como é moda, a maioria a segue. Só pode.
No voo de Guarulhos para Santiago, onde me encontro, li na revista de bordo, uma frase do ator japonês Hiroyuki Sanada: “Há aqueles que desejam uma piscina em sua casa, enquanto aqueles que a têm mal a usam. Aqueles que perderam um ente querido sentem a sua falta profundamente, enquanto outros que os têm por perto muitas vezes reclamam deles. Quem não tem parceiro deseja, mas quem tem, às vezes não valoriza. Quem passa fome daria tudo por um prato de comida, enquanto quem tem sobra reclama do sabor. Quem não tem carro sonha, enquanto quem tem sempre procura um melhor. A chave é ser grato, parar para olhar para o que possuímos e entender que, em algum lugar, alguém daria tudo pelo que você já tem ou é, e não aprecia”.
Minha saudosa mãe Maria da Conceição, chamava essas pessoas que nunca estão satisfeitas com o que possuem de “vasilha que nunca enche”. São pessoas que estão sempre resmungando, nada lhes satisfaz. Algumas só dão valor quando perdem, outras nem isso.
“A gratidão é memória do coração”, agradecer já é meio caminho andado para as coisas darem certo. “Reclamar é clamar duas vezes”, dizem os espiritualistas.
Em tempos de redes sociais em que a maioria vive se comparando, o grau de insatisfação aumentou. Um amigo próximo, de muitas posses, falou-se que está desmotivado, não vê graça nas coisas. O casamento se arrasta por anos, sem coragem de colocar um ponto final, talvez receoso da partilha dos bem. Virou reclamão contumaz.
Uma coisa é certa: as redes sociais mudaram a forma de conexão entre as pessoas, possibilitando não só a comunicação com amigos e familiares, mas diversas outras pessoas em todo o planeta.
Vale lembrar que as pessoas que seguimos muitas vezes postam somente a parte boa de suas vidas, fazendo parecer que a vida é 100% maravilhosa, estipulando um grau elevado de felicidade que não existe. Afinal, as publicações giram em torno de momentos instagrameáveis, não de momentos reais.
Muitas vezes, com excesso de ostentação, com familiares sempre felizes, uma verdadeira falsa utopia. Dessa forma, acompanhar essa realidade paralela causa frustração em muita gente, gerando a tristeza e a ansiedade por nunca alcançarem essas mesmas condições de vida. Daí vem inúmeras frustrações e reclamações. “O invejo sua fruta só dar carroço”, canta o poeta Arnaldo Antunes.
Segundo a Agência de marketing digital Sortlist, o Brasil ocupa o segundo lugar da lista dos países que passam o maior tempo nas mídias digitais. Só perdemos para os EUA. Segundo a agência, cada brasileiro passa em média mais de 8 horas diárias navegando na internet, sendo que 5 horas e 42 minutos desse tempo é direcionado às redes sociais.
“A vida é feita de escolhas. E cada escolha, por mais insignificante que pareça, traz consigo consequências que não podemos prever. Ninguém pode evitar o impacto das suas decisões. Caminhamos por um terreno incerto, e a cada passo, moldamos o nosso destino, quer queiramos ou não. A única certeza é que o passado não pode ser desfeito, e o futuro é a soma de cada um desses passos”, José Saramago, em “Ensaio Sobre a Cegueira”.
Bem-aventurados os que são gratos com suas conquistas.
Luiz Thadeu Nunes e Silva – Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e globetrotter, o cidadão mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências, ATHEART, Academia Atheniense de Letras e da AVL, Academia Vianense de Letras