Esposa de agente morto por policial bêbado na contramão revela se perdoa acusado

Em entrevista ao Papo de Redação, Karoline Rocha revelou como tem lidado com a perda de Ruyzemmar Sousa quase um mês depois da tragédia

Esposa de Ruyzemmar Sousa da Cunha, Karoline Queiroz Rocha, é entrevistada no Papo de Redação (Foto: FolhaBV)
Esposa de Ruyzemmar Sousa da Cunha, Karoline Queiroz Rocha, é entrevistada no Papo de Redação (Foto: FolhaBV)

A esposa do agente comunitário de saúde Ruyzemmar Sousa da Cunha, 38, morto pelo policial penal Emerson Pereira Pinho, 39, enquanto o suspeito dirigia bêbado na contramão, respondeu se perdoa o causador do acidente fatal. Karoline Queiroz Rocha concedeu entrevista exclusiva ao podcast Papo de Redação, do grupo Folha (confira o episódio 282 completo ao final da reportagem).

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Ao jornalista Lucas Luckezie, a servidora pública revelou como tem lidado com a perda do marido quase um mês depois do acidente e afirmou que, apesar da tragédia, toparia falar com o acusado para cobrar possíveis restituições pelo ocorrido.

“Não vou mentir: não. No momento, não [perdoaria]. [Mas] toparia [falar com o Emerson]”, disse. “Como que eu vou perdoar uma pessoa que assumiu o risco de matar outra, no momento que ela pega o carro, dirige embriagado, invadiu a contramão. Ele sabia que ia acontecer alguma coisa, um acidente, ia matar uma pessoa, ele sabia, assumiu esse risco. Pra mim, nesse momento, não tem perdão”, afirmou.

Karoline Rocha, que era casada há 13 anos com Ruyzemmar, revelou que a morte do marido interrompeu sonhos, como a mudança para a casa que o casal terminava de construir e a realização de uma festa de casamento ainda em 2024, além de uma viagem para Santa Catarina em 2025. “Ele foi tirado da gente de uma maneira tão triste […]. Tudo foi destruído”, lamentou ela, que enfatizou que a família nunca foi procurada pelo motivador da tragédia.

“[O Ruyzemmar] era o provedor. Tudo era ele. Mercado, tudo, tudo, era ele. Ele que bancava tudo. Graças a Deus, minha família, todo mundo se uniu pra me ajudar. Porque ficaram contas de cartão, tudo. […]. Graças a Deus, tem o meu salário, mas não supre os gastos do mês”, completou a servidora pública.

A esposa da vítima ainda revelou o sentimento que tem ao olhar diariamente para a moto parcialmente destruída pelo acidente, a qual está em sua casa. “Eu choro. Eu fico em casa esperando ele voltar do trabalho. Quando dá o horário de ele voltar do trabalho, eu fico esperando. Vou lá fora e vejo a moto toda destruída. [Vou consertá-la] futuramente sim. No momento, eu não tenho cabeça pra nada”, disse.

Na mesma entrevista, a irmã de Ruyzemmar, Bruna Souza da Cunha, diz não ter ódio do suspeito e deseja que “Deus tenha misericórdia da alma dele”. Por sua vez, o mototaxista e entregador Denys Agapto de Sousa, que sobreviveu ao acidente, não respondeu objetivamente se perdoaria o policial penal porque ainda convive com o luto pela ausência do amigo e lida com consequências físicas do ocorrido, como a impossibilidade de trabalhar em virtude de dores e ferimentos na perna. Denys disse se sentir desamparado pelo acusado.

Os três entrevistados revelaram o sentimento de impunidade pelo caso e que desejam a prisão do policial penal colocado sob medidas cautelares após pagar fiança de R$ 15 mil. “A gente estava velando o meu marido e eu recebi a notícia de que ele tava solto. Muito revoltante”, disse a esposa da vítima.

O que diz a defesa de Emerson Pereira Pinho

“Considerando o recente relato dos familiares, a defesa informa que, desde o ocorrido, Emerson possuía a intenção de procurar os familiares para conversar e auxiliar no que for preciso, dentro das suas condições, mas estava temeroso sobre a forma que seria recebido e como a conversa iria acontecer, em face de ser muito recente e prematuro o fato e acreditarem que seria uma afronta ao luto.

No entanto, como agora tem ciência do posicionamento dos familiares de Ruyzemar, buscará meios para que a conversa ocorra.

Cumpre informar que Emerson cumpre medidas cautelares que o impede de sair da residência, o que dificultou que estabelecesse contato em momento anterior.

Emerson está ciente do desdobramento do ocorrido e das consequências jurídicas que podem resultar. Além disso, tem contribuído ativamente com a justiça para o bom andamento do processo.

É importante relembrar que o direito de defesa é inafastável e necessário para um processo justo. Assim, a defesa está atuante para que seja estabelecida a verdade real dos fatos em todos os seus aspectos.

Por fim, quanto ao fato de ser servidor público e sobre a possível perda do cargo, ainda não é o momento de análise de tal situação. Emerson não estava no exercício de sua função no momento do acidente, bem como existem leis que ditam como e em que hipóteses a demissão irá ocorrer, não podendo tais previsões serem atropeladas.”

Papo de Redação – 11/07/2024

Papo de Redação entrevista sobrevivente de acidente e familiares de agente morto por policial bêbado na contramão