Cotidiano

Bloqueio da BR-174 é mantido pelos indígenas em Pacaraima

Governadora esteve conversando com as lideranças indígenas, mas não houve acordo para pôr fim ao protesto

Apesar da ida da governadora Suely Campos (PP) ontem ao bloqueio da BR-174, na altura da comunidade da Boca da Mata, no quilômetro 667 do trecho norte da BR-174, no Munícipio de Pacaraima, o tráfego de veículos e de pessoas no local continua interrompido. Professores e lideranças indígenas fecharam a rodovia na segunda-feira, dia 26, em protesto ao não cumprimento do acordo estabelecido há 44 dias que pôs fim à greve da categoria.

O coordenador da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opirr), Misaque Souza, afirmou que a governadora tentou estabelecer um acordo para a reabertura da rodovia, porém não chegaram a um entendimento. “Queríamos resolver todos os nossos pontos de reivindicação neste encontro. Estamos cansados de reuniões consecutivas. A governadora alegou que seriam necessários mais dias para que tudo fosse esclarecido, não aceitamos isso e demos continuidade ao nosso movimento”, declarou ao ressaltar que a rodovia será aberta todas as manhãs, das 6h às 8h.

Segundo ele, os professores indígenas encerraram a greve no dia 16 de setembro na esperança de que o acordo estabelecido seria cumprido. “Nosso principal entrave é a Lei 892/13, que trata do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração [PCCR] dos profissionais da educação”, disse.

Ele afirmou que os professores indígenas ainda estão na dúvida em relação à nova carga-horária. “Eles deram a opção para aqueles que trabalham sob o regime de 25 horas semanais de continuar no mesmo sistema e recebendo a Gratificação de Incentivo à Docência [GID], porém não querem mais fazer concursos nesta modalidade, e isso não podemos aceitar”, declarou.

Outro ponto de reivindicação da categoria é a compra de material escolar. “Estamos aguardando há cerca de 50 dias o material chegar. Não é possível que demore tanto assim. Nossos alunos já estão sem caderno, lápis e caneta para estudar. No fim da greve, ela nos prometeu isso, e até agora nada”, frisou.

Os professores indígenas também solicitam a contratação do pessoal de apoio. “Nossos professores não sabem se varrem o chão ou se dão aula. Precisamos de equipes de limpeza em todas as escolas, pois da maneira como as coisas estão hoje não pode continuar”, complementou.

Para fazer o transporte de alunos que moram em regiões de difícil acesso, os indígenas precisam de um barco, pois em muitas localidades o acesso só é possível por meio dos rios. “Às vezes estes alunos ficam sem assistir aula, pois não têm como chegar à escola. Quando eles aparecem, é porque conseguiram carona”, disse.

GOVERNO – Em nota enviada à imprensa, o Governo do Estado esclareceu que a entrega dos 14 mil kits de material escolar será feita na segunda-feira. “Não nos esquecemos deste compromisso de forma alguma. O que eles precisam entender é que essas coisas levam tempo. Iremos iniciar a distribuição já na segunda-feira”, explicou a governadora.

Em relação à contratação de pessoal de apoio para as escolas indígenas, o governo informou que o problema já está praticamente solucionado. Segundo a governadora, ocorreram “problemas técnicos”, pois alguns trabalhadores da empresa terceirizada contratada foram cadastrados de forma errada, mas frisou que o problema já foi solucionado e que em breve as equipes serão distribuídas.

Sobre a aquisição de um barco para o transporte escolar, o governo esclareceu que o processo licitatório está em fase de estudos. “Não podemos simplesmente comprar, precisamos abrir uma licitação, fazer pesquisa de preço, entre outras coisas”, complementou.

Em relação à carga-horária, informou que aqueles professores contratados no regime de 25 horas continuam com o seu direito garantido e recebendo a GID. “Foi dada aos professores a opção de alterarem a carga horária para 30 ou 40 horas, com reajuste de até 60% no salário, mas sem a GID. O salário deles seria reajustado e esse novo valor contaria para a aposentadoria. Então, eles não sofreriam tanto com perdas salariais na aposentadoria”, diz a nota.

A governadora lamentou a decisão dos indígenas e frisou que o bloqueio da BR-174 está prejudicando o fluxo de veículos e o trabalho daqueles que dependem da rodovia para garantir o sustento das famílias. “Os taxistas intermunicipais que atuam na rota Boa Vista/Pacaraima estão parados em um outro trecho da rodovia, impedidos de trabalhar. Os indígenas precisam entender esta situação”, destacou.
 
Moradores da região Sul também ameaçam bloquear trecho da 174

Os protestos por meio de bloqueios de rodovias em Roraima podem aumentar. Agora, moradores do Sul do Estado também ameaçam fechar a BR-174 caso o Governo do Estado não melhore o setor educacional naquela região. Segundo os manifestantes, as escolas estão caindo aos pedaços, faltam merenda e transporte escolar.

O protesto ainda ocorre no setor de infraestrutura. Moradores pedem o reinício de várias obras, paralisadas desde o governo passado, como estradas e pontes. Eles avisam que o bloqueio vai ocorrer por tempo indeterminado, a partir de novembro, na Vila Moderna, na entrada da localidade conhecida como “Quilômetro 500”, em Rorainópolis.

As obras, segundo eles, pararam no começo do inverno, quando as estradas ficaram praticamente intrafegáveis. A BR-174 naquele trecho está toda esburacada. “Por isso pedimos providências às autoridades. Mas se não nos atenderem, também vamos fechar a rodovia”, avisou um morador que preferiu não se identificar.

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