Na manhã de domingo, 02, índios Yanomami da região do Apiaú, no Município de Mucajaí, região Centro-Oeste, encontraram o corpo do agente de endemias, Marcos Xavier Cardoso, 53 anos, que estava desaparecido desde a manhã do sábado, 1º, quando foi convidado para pescar e foi assassinado.
Os suspeitos são funcionários de uma fazenda que fica nas imediações da terra indígena que, na noite anterior ao sumiço da vítima, tiveram um desentendimento com o agente. A região é conhecida pelos constantes conflitos entre fazendeiros, garimpeiros e indígenas. Marcos Cardoso tinha mais de 30 anos de trabalho dedicados aos indígenas.
O enteado da vítima, Pedro Henrik, acompanhou o caso de perto e relatou que o caso possivelmente tenha sido motivado porque Marcos entrou na área da fazenda para abrir uma porteira que dá acesso à terra indígena, o que gerou descontentamento do caseiro, que alimentou ódio pelo agente. “Para entrar na área indígena tem que passar por uma fazenda, porque fica do outro lado do rio, mas tem que passar por uma porteira da fazenda.
É uma região que sempre tem conflito entre indígenas, garimpeiros e fazendeiros. São conflitos por conta de terras”, destacou.
Marcos Cardoso, precisou fazer remoção de um paciente até Boa Vista, na hora da remoção, a porteira estava trancada e impedia que o carro da Secretaria de Saúde do Índio (Sesai) passasse para prestar o socorro.
A partir da entrada do agente de endemias, o caseiro da fazenda, conhecido como “Vaqueirinho”, sentiu-se desafiado, o que gerou raiva e um desentendimento. “O caseiro também não gosta de índio, mas todas às vezes que tanto o caseiro quanto os outros funcionários da fazenda se sentem mal, eles correm ao posto de saúde da área indígena para serem atendidos”, reforçou o enteado.
No dia seguinte à remoção da paciente, o caseiro procurou Marcos, afirmando que não guardava mágoas e por isso estaria fazendo as pazes, aproveitando o momento para convidá-lo para uma pescaria no açude da fazenda, no entanto, demoraram voltar e um colega de trabalho do Posto de Saúde solicitou que os índios fossem atrás do agente. “Pelas características, foram duas pessoas que bateram nele até a morte. Eu acompanhei todo o desenrolar do caso, até a hora em que o corpo foi encontrado dentro da mata. No corpo não tinha sinais de esfaqueamento, mas de muita agressão. Tem sinais de luta corporal, já que eram dois contra um”, observou o familiar.
Policiais militares, a perícia da Polícia Civil e uma equipe do Instituto de Medicina Legal (IML) se deslocaram ao local do crime para obter informações sobre o caso e fazer a remoção do corpo.
SUSPEITOS – Um funcionário da fazenda, suspeito de praticar o crime, foi localizado e detido pela Polícia Militar e encaminhado à Delegacia de Mucajaí, para ser ouvido pelo delegado. O principal suspeito, o caseiro “Vaqueirinho”, está desaparecido desde o sábado, quando Marcos não retornou da suposta pesca.
Integrantes da família e amigos de Marcos estiveram no IML aguardando a liberação do corpo na manhã desta segunda-feira, 03, e informaram que a polícia está investigando o caso e que os peritos e o legista confirmaram que o pescoço da vítima estava quebrado.
PERSISTÊNCIA – Uma das irmãs de Marcos que estiveram no IML destacou que o agente de endemias estava prestes a se aposentar e sair da terra indígena, na qual já prestava serviço há mais de 30 anos. Os familiares chegaram a pedir que ele deixasse de trabalhar nestes locais porque, durante os anos de dedicação à saúde dos índios, sofreu alguns acidentes graves.
“Ele tinha um coração muito bom, gostava de ajudar as pessoas. Com ele já aconteceu dois acidentes de avião e, no último acidente, dois amigos morreram e ele ficou velando os corpos dentro da mata para os bichos não chegarem perto, até encontrarem o avião na mata. Mas, desta vez, indígenas encontraram o corpo na mata e guardaram até a chegada da polícia”, disse.
A família afirmou que o sentimento que resta diante dos fatos e do crime com requintes de crueldade é a injustiça sofrida por Marcos Cardoso diante do profissional que era. “Não merecia passar por isso, apesar de a gente achar que ele já tinha dado o basta depois da queda do avião. Mas ele gostava. Ele tinha um histórico admirável. Definitivamente, gostava de trabalhar porque, além dos acidentes de avião, já sofreu acidentes de barco, de carro e agora morreu desse jeito. É inaceitável”, destacou.
REVOLTA – Com a morte do funcionário do posto, os índios pintaram os corpos com tinta preta, o que simboliza na cultura indígena que estão preparados para a guerra. “O tuxaua estava chorando e dizendo que o ‘Marcão’ era amigo. Só não mataram o suspeito que foi preso porque os policiais chegaram na hora, mas eles estão revoltados”, enfatizou Pedro Henrik. (J.B)