EM CARACARAÍ

Agricultor denuncia policiais militares por tortura

Willian conta que foi atingido por 13 tiros de balas de borracha

Willian fez exame de corpo de delito (Foto: Arquivo pessoal)
Willian fez exame de corpo de delito (Foto: Arquivo pessoal)

O agricultor Willian Rabelo de Souza, de 38 anos, procurou a FolhaBV para denunciar que teria sido torturado por policiais militares que atuam no município de Caracaraí, região sul de Roraima.

Willian conta que há 15 anos mora na vicinal 2 de Cujubim, e que na quinta-feira, 6, seguia pela vicinal de motocicleta na companhia do filho, e de dois amigos que seguiam em mais duas motocicletas, momento em que teriam sido abordados por uma guarnição da Polícia Militar.

Segundo ele, os policiais questionaram se eles sabiam o paradeiro de uma pistola que teria sido furtada de um policial militar em um bar. Os homens então teriam dito que não sabiam nada sobre a referida arma.

Ainda segundo Willian, ao ser questionado se possuía arma em casa, ele teria dito aos policiais que sim, mas que suas armas, uma espingarda calibre 20 e uma calibre 22, são devidamente registradas, e que as deixa escondidas em determinado local de seu sítio.

Ele conta que ao ser levado até o local onde as armas estariam, os policiais o algemaram e que logo em seguida passou a ser atingido com pelo menos 13 tiros de balas de borracha, disparados por uma arma calibre 12.

Marcas da agressão ficaram pelo corpo do agricultor (Foto: Arquivo pessoal)

“Eles diziam que ele eu estava mentindo e que era um ‘vagabundo’. E começaram a me agredir com socos e chutes, e um deles me desmaiou com um golpe mata-leão, e logo depois fui acordado com chutes no abdômen”, relata.

Willian conta ainda, que nessa hora foi levado para a parte de trás da casa e lá os policiais teriam colocado uma toalha em seu rosto, momento em que um vizinho, que é coronel da PM chegou ao local e teria conversado com a equipe para que as agressões fossem cessadas.

“O coronel me conhece, é meu vizinho e falou para eles que eu sou trabalhador e que não merecia estar passando por aquilo”, lembra.

Após isso, os policiais o colocaram na viatura e nesse momento, teria descoberto que o seu irmão também havia sido detido. Os dois então foram levados para o destacamento da Polícia, e depois para o hospital.

Ainda segundo Willian, os policiais teriam pedido para que ele esquecesse o que houve e que assim ninguém sairia prejudicado. “Ai eu disse pra ele que era pra me levar pra Delegacia por que eu não devia nada”, conta.

O agricultor fez exame de corpo de delito e registrou ocorrência contra os policiais.

Outro lado

A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar que se manifestou por meio da seguinte nota:

A Polícia Militar de Roraima informa que foi acionada por volta das 11h de quinta-feira, dia 06, pela ex-esposa de um dos envolvidos (R.R.S.), informando que ele portava uma arma de fogo enquanto trabalhava como mototáxi na cidade de Caracaraí.

De posse da informação, uma guarnição saiu a procura do senhor R.R.S., de 59 anos de idade, na cidade de Caracaraí. Ao localizá-lo, foi feita a abordagem em via pública e foi encontrada uma arma de calibre 36, adaptada, com cano cortado. Ao ser questionado acerca do furto de uma arma de um policial militar em Caracaraí, R.R.S negou e disse que os policiais “poderiam averiguar a residência dele”.

A guarnição foi até à residência do cidadão, e, na presença do proprietário, foram localizados mais armamentos e munições e informado que havia mais armas em um sítio na vicinal Cujubim, em Caracaraí.

Ao chegar ao sítio, a guarnição foi recebida pelo senhor W.R.S., de 39 anos, irmão de R.R.S. Para os policiais, ele informou que o irmão (R.R.S.) “tem o hábito de praticar coisas erradas e que haveria comprado um revólver calibre .38 de forma ilegal de um policial civil e que teria escondido essa arma em um sítio, e que levaria a guarnição ao local, mas que não queria se complicar pelos atos do irmão.”

W.R.S. levou a guarnição a pé por um percurso de 5km e na metade do trajeto, mudou a versão da história minutos atrás proferida aos policiais e disse que “quem tinha escondido as armas foi seus filhos”. Em seguida, W.R.S. ficou agressivo, exaltado e passou a fazer xingamentos contra os policiais, os ameaçando de perseguição por ter influência na corporação – disse conhecer um coronel. Logo ele se armou com um pedaço de madeira e partiu contra a guarnição. Motivo pelo qual foi necessário o uso de instrumento de menor potencial ofensivo, conforme preconiza a Lei 13.060/2014. Foram desferidos sete disparos de alastômero para conter a agressão provida pelo W.R.S. Com isso ele foi imobilizado, algemado e conduzido para a delegacia do município para providências.

Ao todo, foram apreendidos 18 itens, entre armas e munições (conforme imagem do ROP anexa).

Material apreendido pela PM durante a ocorrência (Foto:Divulgação)