Polícia

Brasileiro é esfaqueado por venezuelano, que é linchado

Imigrante teria furtado um supermercado e foi perseguido pelo brasileiro, que levou uma facada no pescoço

O clima foi de muita tensão no fim da noite de quinta-feira, dia 6, depois dos homicídios de um brasileiro e de um venezuelano. O fato ocorreu por volta das 19h30 e teve início num mercado que fica no cruzamento das ruas Sizenando Cavalcante e Ana Cecília Mota da Silva, no bairro Jardim Floresta, zona oeste da Capital. No entanto, as mortes aconteceram na rua Sizenando Cavalcante.

Segundo as informações da Polícia Militar, o brasileiro reagiu a um assalto e foi atrás do venezuelano que, na ocasião, estava acompanhado de outro imigrante, foi quando recebeu uma facada no pescoço que atingiu uma veia artéria e causou uma hemorragia em Manoel Siqueira de Sousa, de 35 anos. Ele foi socorrido por populares e levado ao Hospital Geral de Roraima (HGR), mas morreu pouco tempo depois de dar entrada no Pronto Socorro.

Revoltados, alguns populares que testemunharam o episódio iniciaram uma perseguição ao autor da facada e depois de interceptá-lo desferiram golpes com pedaços de madeira e pedras, fazendo justiça com as próprias mãos e cometendo o crime de linchamento.

Quando a Polícia Militar chegou à cena do crime, o venezuelano já estava morto, por isso a Perícia e o Instituto de Medicina Legal (IML) foram acionados. Ao fim dos trabalhos técnicos dos peritos, o corpo foi levado pelo rabecão, a fim de ser examinado. O imigrante linchado não tinha sido identificado até o fim da tarde de ontem, dia 7. O corpo permanece no IML aguardando que algum familiar compareça para fazer a liberação.

O corpo de Manoel Siqueira foi recolhido do HGR à sede do IML e passou por necropsia, sendo liberado por um familiar ainda na manhã de ontem, dia 7, para realização de funeral e sepultamento. 

A reportagem da Folha conversou com alguns venezuelanos que estão vivendo às margens da avenida Carlos Pereira de Melo em barracas improvisadas. Eles contaram que a vítima trabalhava em Boa Vista com capina de terrenos e que foi morto como suspeito de ter furtado dois pacotes de biscoito. 

Uma venezuelana revelou que o jovem não tinha histórico de furtos e que, por mais que ele tivesse furtado, deveriam ter chamado a Polícia.

“Eu não vou dizer que ele não furtou ou roubou, mas por que não chamaram a Polícia? Se eu tivesse perto, não teria deixado ele reagir e esfaquear ninguém. Nós estamos numa situação de miséria, queremos viver em paz com os brasileiros. Chega de conflito, de ódio, de crime, de violência”, desabafou.

O caso foi registrado na Central de Flagrantes do 5o DP pela sobrinha de Manoel Siqueira e deve ser encaminhado à DGH para investigação. Nenhum dos envolvidos nos crimes foi preso.

Polícia Civil diz que furtos são comuns na área próxima a abrigo – A Polícia Civil se manifestou, por meio de nota, para informar que as diligências iniciais da situação que vitimou o brasileiro e o venezuelano, no começo da noite da quinta-feira, dia 6, no bairro Jardim Floresta, “revelam que são muito comuns furtos nos supermercados daquela região praticados por venezuelanos e que após a criação do abrigo naquela área os crimes desta natureza aumentaram exponencialmente”.

Segundo a nota, o brasileiro assassinado era conhecido da proprietária do supermercado. A mulher teria visto o momento em que o venezuelano pegou vários produtos das prateleiras e saiu sem pagar. “Vários brasileiros estavam em frente ao supermercado no momento do crime e viram o venezuelano fugindo, imediatamente começaram a gritar: ‘Pega ladrão!’ E seguiram atrás do estrangeiro”, ressaltou. 

Conforme a Polícia, o brasileiro assassinado estava de bicicleta e conseguiu alcançar o venezuelano antes da multidão e, em seguida, tentou imobilizar o criminoso, momento em que foi esfaqueado no pescoço. “As outras pessoas chegaram ao local e vendo o brasileiro esfaqueado no chão se revoltaram e agrediram o venezuelano até a morte. O local onde o brasileiro foi esfaqueado é na frente de um acampamento de venezuelanos e por muito pouco não houve um confronto sério entre brasileiros e venezuelanos naquele local”, relatou a Polícia Civil.

Por fim, a nota informou que dois inquéritos policiais serão instaurados, um para apurar as circunstâncias e autoria da morte do venezuelano, além do inquérito para apurar a morte do brasileiro, cujo autor foi identificado pelas testemunhas como o venezuelano linchado. (J.B)