Polícia

Capitão da PM que agrediu frentista é indiciado por três crimes

Defesa de Jefferson Gomes da Silva afirmou que “são absolutamente improcedentes as acusações, principalmente a de racismo, que jamais aconteceu”

A Polícia Civil de Roraima indiciou o capitão da Polícia Militar, Jefferson Gomes da Silva, 40, por lesão corporal dolosa, ameaça e racismo pela discussão envolvendo o estudante Eduardo Wilhiam Ferreira de Almeida, 20, no posto de combustível em que o jovem trabalhava como frentista. O episódio aconteceu no dia 3 de abril.

Agredido com um tapa, o estudante apresentou à Vara Criminal de Boa Vista uma queixa-crime contra o policial pelos mesmos crimes. Na denúncia assinada pelo advogado Bruno Caciano, ele pede a gratuidade da Justiça por falta de condições financeiras de arcar com as custas processuais e diz estar desempregado desde 3 de maio, justamente por causa da agressão sofrida. Por fim, solicitou a condenação do policial.

Por causa da agressão, Jefferson Gomes responde a um processo sindicância na corregedoria da PM, o qual cita que, no dia da agressão, ele estava escalado como coordenador de operações do CPI (Comando de Policiamento do Interior). Ele foi alvo de um inquérito na Polícia Civil que culminou no indiciamento, encaminhado ao Ministério Público de Roraima (MPRR). As corporações confirmaram as informações em notas à Folha, que ainda teve acesso aos documentos.

Na época, o policial gravou um vídeo para dizer que o ato foi motivado por agressões verbais que teriam sido feitas pelo então frentista à sua mãe, e que teria sofrido ofensas racistas por parte do jovem – o qual negou a acusação no inquérito da PC. O capitão ainda registrou um boletim de ocorrência contra Eduardo Wilhiam. No âmbito da apuração, o policial negou as acusações de lesão corporal dolosa, ameaça e racismo.

O episódio foi registrado por câmeras de segurança (veja o vídeo abaixo), mas elas não captaram o áudio da discussão. O inquérito conduzido pela delegada Simone Arruda do Carmo, inclusive, ressalta o prejuízo à análise das imagens pela falta do conteúdo sonoro, o que poderia elucidar o que teria sido discutido e motivado a ação. Apesar disso, informa que “fica evidenciado a agressão” praticada pelo policial.

A queixa

De acordo com a queixa-crime, Eduardo Wilhiam, devido a um descuido, derramou combustível no chão quando realizava abastecimento em um veículo, e precisou realizar a limpeza do local, atendendo as regras da empresa e as normas de segurança.

Naquele momento, Jefferson Gomes chegou ao local para abastecer seu automóvel e, poucos instantes depois, saiu do carro, foi ao frentista e lhe perguntou se ele não abasteceria seu veículo. Eduardo pediu para que ele aguardasse apenas o término da limpeza e que, caso preferisse, poderia se dirigir a outra bomba para efetuar o abastecimento.

A queixa relata que, neste momento, o capitão da PM teria perguntado ao frentista, em tom agressivo, se sabia quem ele era, “com quem está falando?”, ao que Eduardo Wilhiam respondeu que não. Uma frentista foi quem abasteceu o veículo devido à irritação do policial.

Em seguida, Jefferson Gomes teria informado a Eduardo Wilhiam que, caso ele não desse valor ao seu emprego, seria despedido, ao dizer ser amigo do proprietário do estabelecimento. O jovem foi guardar o material de limpeza quando o capitão foi a ele para supostamente xingá-lo de “vagabundo” e de “muito veado”, e dizer que o ensinaria a ser homem e ainda teria ameaçado a quebrar o aparelho dentário dele.

A queixa relata que o frentista tentou se afastar do acusado, dando-lhe as costas para evitar conflitos, mas ao virar para Jefferson Gomes, o policial lhe deu um tapa no rosto, sem possibilidade de defesa e de surpresa. Outras testemunhas confirmaram o episódio.

“O caso se torna ainda mais lamentável por ter sido causado por um Oficial de carreira da Polícia Militar de Roraima, justamente um profissional que deveria conferir proteção à sociedade, ao invés de perpetrar ofensas e agressões contra um jovem em seu local de trabalho, contando com apenas 20 anos de idade e com a força física extremamente inferior à do agressor – como se verifica nas imagens registradas pelas câmeras de segurança”, diz a defesa de Eduardo Wilhiam na queixa-crime.

O que diz a defesa

À Folha, a defesa do policial disse que ainda não teve tempo de analisar a queixa-crime e o parecer conclusivo da delegada que conduziu o inquérito, e informou que iria se manifestar somente nos autos, embora tenha antecipado que “são absolutamente improcedentes as acusações, principalmente a de racismo, que jamais aconteceu”.