Caso Jânio e Flávia: Capitão da PM cita supostas ameaça, intimidação e obstrução

Advogado de empresário foragido negou as acusações “falsas” e “caluniosas” da defesa de Helton John e prometeu denunciar o caso à OAB-RR

O capitão da PM, Helton John, em depoimento à Polícia Civil (Foto: Reprodução)
O capitão da PM, Helton John, em depoimento à Polícia Civil (Foto: Reprodução)

O advogado Manoel Leocadio Menezes, que defende o capitão da Polícia Militar, Helton John da Silva de Souza, denunciou à 2ª Vara Criminal do Tribunal do Júri e da Justiça Militar supostos crimes de ameaça, intimidação e obstrução de justiça praticados contra o investigado por participar do assassinato do casal Jânio Bonfim de Souza, 57, e Flavia Guilarducci, 50. A petição ainda solicita investigação do Ministério Público de Roraima (MPRR).

A denúncia é baseada em depoimento de 22 de maio. Nele, o ex-segurança do governador Antonio Denarium (Progressistas) relata que recebeu no Comando de Policiamento da Capital (CPC), onde está preso, o advogado Guilherme Coelho, que integra a defesa do empresário Caio de Medeiros Porto, foragido por envolvimento com a morte dos agricultores. A visita ocorreu enquanto Manoel Leocadio estava em São Paulo.

O capitão da PM disse que Coelho o teria orientado a ficar calado no depoimento sobre o caso “porque tinha toda uma questão de segurança familiar” e que a família de Helton John estaria “frágil” e “vulnerável”.

Nesse sentido, ele disse que o advogado o teria recomendado a não falar nada que comprometesse o empresário e concluiu que se sentiu intimidado e ameaçado por essa fala. “Ele foi implícito”, enfatizou.

No depoimento, Helton John pergunta ao advogado se o cliente pretende se entregar à polícia, e Guilherme Coelho o teria dito que isso não influenciaria na situação do policial. Além disso, o capitão da PM revelou que o advogado de Caio o teria pedido para, “se possível”, não avisar sua defesa sobre a conversa enquanto Manoel Leocadio estava viajando. “Mas eu não podia deixar de falar”, disse o suspeito ao delegado João Evangelista, que chefia a investigação.

No fim da fala, o advogado do policial relata que Guilherme Coelho teria lhe ligado nos dias 3 e 14 de maio para perguntar como seria o depoimento do cliente, e o respondeu que não autorizaria a defesa de Caio Porto a falar com Helton John.

O que diz Guilherme Coelho

À Folha, o advogado de Caio Porto negou as acusações “falsas” e “caluniosas” de Manoel Leocadio e prometeu denunciá-lo por denunciação caluniosa na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RR), rebater as acusações no próprio processo que apura o assassinato e por todos os meios legais. “Todos os envolvidos vão responder nos rigores da lei”, disse ele, que acusa o capitão da PM de distorcer o contexto da conversa.

Guilherme Coelho revelou que, antes do depoimento, foi procurado pela esposa do policial para ir ao CPC para conversar com o suspeito. Na ocasião, segundo o advogado, Helton John buscou saber dele qual seria a estratégia de defesa e, no final, pediu para que falasse com a família Porto para providenciar um dinheiro com o intuito de resolver a transferência de uma caminhonete, porque a mulher não poderia ficar a pé, já que ele estava preso.

O advogado revelou que, nessa conversa, disse a Helton que a apresentação de Caio Porto não reflete na prisão do policial, ao ressaltar que “uma coisa não tem nada a ver com a outra”. Esclareceu que “todo e qualquer advogado conversa com outro sobre estratégia de defesa”.

Sobre a orientação que teria dado ao policial, explicou que costuma dizer a seus clientes que, em situações sem acesso a todas as peças do inquérito policial, deve-se permanecer em silêncio. “Você vai ter a oportunidade de ter acesso ao inquérito e lá na fase de instrução, você vai se defender daquilo que está sendo imputado contra você”, pontuou.

Ele esclareceu sobre a suposta orientação para o policial não falar de Caio no depoimento. “Eu disse pra ele que o ideal era esse, mas eu falei pra ele: converse com o seu advogado sobre isso”, explicou. “[Ideal] porque você, depois, tem acesso às peças do inquérito sob sigilo – que até então estavam sobre sigilo”.

“Não obriguei ninguém, não ameacei ninguém, eu não fiz nada disso. Nego totalmente. Inclusive, essa mesma conversa que tive com ele, eu tive antes de ele contratar o advogado dele. A mesma conversa. Encontrei com ele – ele estava em liberdade – no meu escritório”, pontuou.

Questionado sobre se Caio Porto irá se entregar à Polícia Civil, Guilherme Coelho ainda revelou que a defesa vai aguardar a conclusão do inquérito, que já tem manifestação do MPRR para que seja concluído o mais breve possível, para analisar a estratégia de defesa. “Aí vamos tomar todas as medidas legais, cabíveis, possíveis”, finalizou.