Nos últimos dias a Folha tem noticiado uma série de crimes cujas vítimas e executores são jovens. No fim da noite da noite da quinta-feira, dia 09, mais um caso foi solucionado com um corpo encontrado numa área de lavrado que fica nas proximidades do prédio em construção do Instituto Federal de Roraima (IFRR), no Conjunto Cidadão, bairro Laura Moreira. A vítima foi identificada como A.F.L, de 17 anos, que estava desaparecido desde a noite da terça-feira, dia 7.
Todo o desvendamento do caso se deu na Escola Militarizada Maria de Lourdes Neves, no bairro Pintolândia, onde a vítima estudava, assim como os suspeitos do crime. Quem acionou a Polícia Militar, por volta das 22h da quarta-feira, dia 08, foi o diretor da Unidade de Ensino, coronel Estácio, depois de descobrir que três de seus alunos estavam envolvidos no assassinato do desaparecido.
Na intenção de obter informações mais bem elaboradas sobre o caso, os policiais conversaram com um dos suspeitos que, inicialmente, negou ter participado do homicídio, mas depois de novas perguntas, acabou confessando que matou o colega junto com dois parceiros, informando também onde haviam deixado o corpo.
Um dos suspeitos contou aos policiais, durante as diligências, que um dos indivíduos estaria recebendo auxilio para a fuga, ocasião em que teria recebendo do próprio irmão R$ 700,00 para fugir para o Estado do Amazonas em um ônibus. Ao observarem as mensagens de telefone, os policiais confirmaram que, de fato, o irmão do suspeito teria ajudado na fuga e sabia do homicídio. O indivíduo foi preso no município de Rorainópolis quando uma equipe da PM fez uma barreira no local para interceptar o ônibus.
Com todas as provas e sabendo da materialidade do crime, os militares deram voz de prisão aos maiores e de apreensão aos adolescentes que também participaram do homicídio. Todos foram conduzidos à Central de Flagrantes do 5o DP para que as providências legais fossem adotadas. (J.B)
Família não acredita que jovem era criminoso
Na manhã de ontem, dia 10, enquanto os familiares aguardavam a liberação do corpo de A.F.L, o pai do jovem, que é um funcionário público, conversou com a Folha e deu detalhes do caso. Segundo o homem, o filho estudava no 6o Ano da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no período noturno, na Escola Maria de Lourdes Neves, bairro Pintolândia, e que era considerado um aluno exemplar.
Conforme o pai, desde a noite da terça-feira, 7, o filho desapareceu e que a motivação teria sido o fato de ter se despedido de algumas meninas e fez um símbolo que poderia ter relação com o crime organizado. Assim que os elementos testemunharam a forma com que o colega se despediu, começaram a planejar sua morte, sob a justificativa de que ele membro de uma facção rival.
Num veículo eles se aproximaram, quatro desceram e perseguiram a vítima que correu e pediu socorro, mas foi alcançado, sofreu um “mata leão” e foi arrastado para dentro do carro. Quem testemunhou a perseguição ao jovem foi uma mulher que ligou para o pai da vítima no começo da tarde da quarta-feira, dia 08, para relatar.
Ainda conforme o pai, por volta das 23h30 da quinta-feira, dia 09, recebeu um telefonema da Polícia contando que um corpo que poderia ser de seu filho foi encontrado no lavrado que fica entre o Conjunto Cidadão e o Anel Viário. Ele chegou ao local e disse que encontrou o corpo do filho com os braços e pernas amarrados e o reconheceu no mesmo instante.
“Meu filho era um aluno exemplar, menino bobão, medroso e eu dei muito conselho. Eu não tinha conhecimento de que ele estivesse envolvido com facção ou com tráfico de drogas. Eu agradeço a Polícia Militar por ter se empenhado desde o começo e ter ajudado a solucionar o caso. Agora só vai me restar saudade”, finalizou o pai. (J.B)
Escola ajudou a desvendar a morte do estudante
Após o desaparecimento do aluno A.F.L, o diretor da Escola onde a vítima estudava, coronel Estácio, disse que tomou conhecimento de que os que praticaram o homicídio eram alunos do mesmo estabelecimento de ensino, do período noturno, da EJA [Educação de Jovens e Adultos] e de uma forma rápida empenham-se em descobrir quem teria executado o jovem.
Ao saber quem praticou o crime, passou a pedir apoio das guarnições que fazem trabalho de patrulhamento para efetuarem a primeira prisão que se deu no âmbito da Escola, no momento de aula. Por meio desse primeiro jovem preso, o restante também foi localizado.
“O rapaz falou onde estaria o cadáver, fomos ao local, mas não encontramos devido a área ser muito extensa. Fizemos a condução do jovem até o local e aí nos deparamos com uma cena triste, deprimente que, apesar dos meus 53 anos e 30 anos de Polícia Militar, não esperava me deparar com uma situação daquela. No meio do mato, quase meia noite, nós estávamos com um aluno uniformizado, tombado ao chão e ao nosso lado, em pé, um aluno algemado, vestindo o mesmo uniforme. Nós ficamos entristecidos por isso”, lamentou o diretor.
O coronel também contou que apesar das perdas já tiveram muitos ganhos. “O trabalho que estamos fazendo lá, já livrou muitos. Muitos têm mudado de comportamento, de direcionamento e é esse nosso objetivo”, enfatizou. Quanto à motivação do crime, o diretor não conversou com os suspeitos e disse que este trabalho ficará por conta dos investigadores da Polícia Civil.
“Hoje os jovens pregam muito a questão das facções. Existe uma conversa de que o rapaz [vítima] tinha feito um certo sinal com a mão e, por isso, teria sido pego, mas não temos essa informação de forma concreta. Dentro da Escola não tínhamos problemas com os jovens. Fora, não sabemos como ele procedia”, salientou Estácio.
Por fim, o diretor militar lamentou tanto pela vítima quanto pelos seus executores. “Os maiores serão presos e conduzidos à Cadeia e quanto aos menores também serão tomadas as providências que a Justiça determina. Enquanto isso ficamos lamentando. Perdemos pelo menos quatro jovens. Perdemos o que a vida foi ceifada, mas também perdemos aqueles que cometeram essa barbaridade”, finalizou o coronel. (J.B)