Polícia

Corpo encontrado na BR-174 é de mulher desaparecida há 7 dias

Vítima estava com pernas e mãos amarradas, com uma corda no pescoço e sofrido escalpo, indicando execução de forma cruel

A aflição de uma semana chegou ao fim de forma trágica. O corpo da vendedora Lívia de Aguiar Marreiros, 34, dada como desaparecida de Boa Vista desde o dia 19, foi localizado na manhã de ontem no Município de Caracaraí, Centro-Sul do Estado, a mais de 160 quilômetros de Boa Vista.
O cadáver, em estado avançado de decomposição, estava com braços e mãos amarradas para trás. Envolto ao pescoço havia uma corda. Ela também foi escalpelada, o que confirma que foi assassinada com requintes de crueldade.
Em outubro de 2005, Lívia foi presa por tráfico de drogas, mas a família descarta qualquer possibilidade do retorno dela ao crime. Para parentes e amigos, o crime cometido contra ela foi uma crueldade. O técnico em refrigeração Gandhy Sarmento, ex-marido de Lívia, acompanhou o trabalho pericial e remoção do corpo. A Folha tentou contato com ele, mas não conseguiu.
Segundo a equipe da viatura 493 da Polícia Militar de Caracaraí, comandada pelo sargento Reis, era por volta das 8h30 quando chegou ao destacamento o caseiro Antônio Severo do Santos, 41, afirmando que havia encontrado um corpo humano na fazenda onde ele trabalha.
O caseiro contou aos policiais que sentiu um forte odor e foi em busca de saber se era algum animal, uma vez que no local os proprietários criam gado. Porém, para surpresa dele, se deparou com o cadáver da mulher, posteriormente identificado como sendo o de Lívia por meio das tatuagens.
O corpo estava a dois metros do acostamento da BR-174, no Km 337, em área de mata, às margens da fazenda localizada a 17 quilômetros da sede de Caracaraí, na Vila Petrolina. A PM acionou a Polícia Civil em Boa Vista e a equipe da perícia e do Instituto Médico Legal (IML) foram ao local. O corpo foi removido ao Instituto Médico Legal (IML), onde já aguardavam os familiares da vítima.
O caso estava sob investigação do Núcleo de Investigação de Pessoas Desaparecidas (NIDP), chefiado pela delegada Elivânia Aguiar dos Santos, desde o dia 23, quando oficialmente o fato foi comunicado à polícia. Hoje o inquérito será remetido à Delegacia-Geral de Homicídios (DGH), sob a titularidade do delegado Jurai da Rocha.
Namorado da vítima afirma que ex-marido era obcecado por ela
A vendedora Lívia de Aguiar Marreiros, 34, que já trabalhou como professora infantil e atualmente vendia produtos de beleza, foi dada como desaparecida pela família no dia 19, por volta das 23h, quando fez a última atualização em um aplicativo em seu celular. Segundo o vigilante Cláudio de Souza Reis, 30, ontem fez um mês que eles estavam “se conhecendo”.
Uma fonte, que preferiu o anonimato, contou que ela e o técnico em refrigeração Gandhy Sarmento viveram juntos durante pouco mais de quatro anos. Tido como um “casal perfeito”, eles sempre aparentavam ter uma ótima convivência familiar.
“Acompanho o casal desde o início, nunca soube de nenhum desentendimento, porém, na noite anterior ao Natal, eles se separaram, mas voltaram no dia 02 já deste ano. Nesse intervalo, ela conheceu o Cláudio”, contou a fonte.
Ainda, segundo essa testemunha, dias depois de reatarem o casamento, tornaram a se separar. Dois dias depois, no domingo, ela foi para a praia da Polar na companhia de Cláudio, com que estava namorando.
Conforme a fonte, Gandhy, acompanhado de alguns amigos, também foi ao balneário sem saber que a ex-mulher estava lá. Ao chegar, reconheceu o carro do casal. Ele então decidiu estacionar em uma área mais afastada. A mulher ainda chegou a perguntar dos amigos pelo ex-marido.
Na segunda-feira, dia 19, pouco antes das 20h, conforme a fonte, Gandhy estava com amigos quando recebeu uma ligação e disse que precisava sair, mas logo retornaria, o que não aconteceu.
“Depois ele avisou que o pneu havia furado e que só viria na terça. Eu brinquei e disse que isso tinha a ver com a Lívia. No dia seguinte, ele voltou e contou que tinha se encontrado com ela em uma lanchonete, mas que ela não largava o celular. Segundo ele, Cláudio teria ligado para ela duas vezes e, numa terceira, a mãe de Cláudio. Foi quando ele disse ‘o que estou fazendo aqui’ e resolveu ir embora”, comentou a fonte.
PERSEGUIDOS – Cláudio Reis conversou com a Folha na tarde de ontem no IML. “Realmente, às 20h11 de segunda, nos falamos pelo celular, coisa de cinco minutos. Ela disse que iria jantar com a mãe dela. Depois, às 20h56, ela me ligou, mas eu já havia pegado no sono”.
Cláudio disse que se sentia culpado por não ter atendido a ligação. “Havíamos combinado de passar o final de semana seguinte juntos, pois ainda estou de férias. Estávamos nos conhecendo”, afirmou.
Ele relatou que ontem foi ouvido por autoridades policias e que, no depoimento, contou tudo o que o casal enfrentou em quase um mês. “Pelo menos duas vezes ele [Gandhy] pulou o muro da casa dela e ficava batendo na porta enquanto dormíamos. Em uma das vezes, ela chegou a sair e mandar ele embora. Em outra, quando saímos cedo de casa, ele estava na esquina e passou a nos seguir até o comércio do meu irmão. Incontáveis foram as vezes que ele nos seguia para todos os lugares. Chegávamos e a primeira pessoa conhecida era ele. Não estou culpando ninguém, mas o que acontecia era isso”.
Corda encontrada no corpo era da rede da vítima, afirma mãe
Em entrevista à Folha, a professora Cleuseli de Aguiar Marreiros, 52, que optou em entrar no Instituto Médico Legal (IML) para reconhecer pessoalmente o corpo da filha, garantiu com toda certeza que a corda encontrada no pescoço de Lívia pertencia à vítima.
“O que fizeram com ela foi muito cruel, inadmissível. Tenho certeza que essa corda é a da rede dela. E só quem entrava na casa dela, por conta de uma cadela Pit Bull, era ela ou o ex-marido. Esperamos agora que o culpado seja identificado e punido com rigor, pela atrocidade que cometeu”, disse a professora, emocionada.
Uma amiga da vítima disse que Lívia estava revoltada com o ex-marido e que não o queria mais como companheiro. “Eles só voltaram no início do ano porque ele havia prometido que iria se matar. Ele é tão obcecado por ela que até uma tatuagem com o nome dela ele fez”, relatou.
Apesar da certeza dos familiares de que o corpo é o de Lívia, pelas vestes, tatuagens e pela estrutura do corpo, o IML não liberou ontem o cadáver para sepultamento, uma vez que precisa de uma confirmação oficial. Como não foi possível colher as digitais, um exame na arcada dentária será feito ainda hoje e, após o resultado, poderá ser liberado para sepultamento.