A delegada Elisa Mendonça convocou a imprensa para uma entrevista coletiva, ontem pela manhã, na Delegacia-Geral de Homicídios (DGH), com a finalidade de falar sobre o caso do triplo homicídio que ocorreu na manhã da segunda-feira cometido pelo soldado da Polícia Militar Felipe Quadros, 22 anos. Após investigações, foi identificada uma segunda pessoa dentro do carro usado pelo PM durante os três homicídios, uma tentativa de homicídio.
Depois de identificar uma mulher, o grupo de inteligência policial percebeu que se tratava da atual namorada do policial, a gaúcha Surinami Bastos Mendes, 21 anos, que o acompanhou inclusive no dia anterior aos crimes. Junto com ela, na tarde de domingo, Felipe decidiu procurar a ex-namorada no Município do Amajari, mas não a encontrou. Ao retornar para Boa Vista, à noite, foi para uma festa em um restaurante da Capital, em todos os momentos acompanhado por Suriname, que contou à polícia que o soldado bebia desde o sábado, 07. Ele já amanheceu com a ideia fixa de encontrar a ex-namorada, conforme a delegada.
As informações a respeito dos assassinatos foram confirmadas por Surinami na noite de segunda-feira, assim que os dois foram levados ao Comando de Policiamento da Capital (CPC) para depor sobre os fatos. Conforme a delegada, a namorada do policial militar estava dentro do veículo na companhia de Felipe no momento em que os crimes ocorreram.
Suriname chegou a falar que passaram a noite de domingo e madrugada de segunda-feira na festa. Na manhã de segunda-feira, 09, reclinou o banco do passageiro e dormiu enquanto retornavam para casa. Ela acordou quando estavam na avenida Via das Flores, no Pricumã, quando disse ao militar que aquele não era o caminho de casa, mas Felipe disse que eles iriam “ver uma situação rapidamente”. Ela disse que depois dormiu novamente e, quando acordou, já estava na rua dos Hisbiscos, local do crime, no entanto, ela afirmou que pediu para que a levasse para sua residência.
Sem falar nada, o policial deu uma volta no quarteirão e parou novamente no mesmo lugar, quando falou para a namorada que naquele momento pessoas sairiam de dentro da residência. Quando o carro da fisioterapeuta Jannyele Filgueira saiu da garagem, o PM deu uma arrancada da esquina, onde estava parado, acordando Suriname, que no momento da colisão bateu o queixo no painel do veículo e acabou se ferindo.
Depois de matar, a tiros, Jannyele e o pai dela, Eliézio Oliveira, a namorada relatou que pediu mais uma vez que fosse levada para casa, mas o policial afirmou que já havia feito uma desgraça e que aproveitaria para “acertar umas contas”. Então, dirigiu-se à rua Ruth Pinheiro, no bairro Caimbé, e matou o empresário Ernani Rodrigues.
Depois dos crimes, conforme a versão da namorada do policial, o casal ficou rodando pela cidade, abandonou o veículo e entrou em um táxi, mas, desconfiando do policial, o taxista pediu que eles descessem. Neste momento, Felipe levou Suriname para a casa dela e dirigiram-se para uma pousada.
A delegada, porém, disse que não podia afirmar que Surinami estaria ajudando Felipe, mas que nas filmagens é possível visualizar a presença dela no veículo. “Com certeza, tinha uma pessoa acompanhando, embora Felipe negue que tinha uma pessoa acompanhando-o. Estava dentro do carro junto com ele quando cometeu os crimes. Não posso dizer que ela participou. Realmente, ela não teve participação nos disparos, mas estamos apurando para ver até que ponto ela favoreceu para que ele praticasse esses crimes. Porque, às vezes, ele poderia estar precisando de um apoio, de um suporte de alguém que desse força para continuar e, de repente, ela possa ter feito isso. Só não posso afirmar porque estamos apurando, mas ela esteve presente o tempo inteiro”, declarou a delegada da DGH.
Como nunca havia sido agressivo com a atual namorada, segundo depoimento, Suriname ficou assustada com o temperamento e a forma com que executou as vítimas. “Ela é uma pessoa que a gente vê que tem muito medo, tanto das atitudes dele quanto por ela ter participado e presenciado os crimes. Mas ela o tempo inteiro afirma que não sabia o que ele iria fazer e que estava somente acompanhando-o. Como ele não é de falar e as pessoas que convivem com ele falam que, de fato, é muito calado, ela disse que não imaginou que ele cometeria os homicídios. Porém, ainda vamos averiguar e ver se o que ela fala procede”, ressaltou a delegada.
POUSADA – Assim que chegou à pousada, Felipe ligou para a namorada e depois mandou mensagens dizendo que iria se matar e que necessitava da presença dela. Os familiares de Surinami chegaram a aconselhar a garota a relatar o fato para a polícia e trancaram as saídas da casa. Mas Surinami conseguiu sair e foi ao encontro de Felipe na pousada, segundo ela, por gostar muito dele e ter medo de que ele cometesse um atentado contra a própria vida.
Assim que ouvida pela polícia, que ainda estuda a possibilidade de a namorada ter agido nos crimes, foi liberada. “A princípio, ela vai responder em liberdade. Será apurado se houve a participação efetiva nos crimes”, frisou a delegada. (J.B)
Policial confirma motivação dos crimes de maneira fria
A delegada Elisa Mendonça, titular da DGH, também contou à imprensa alguns detalhes a respeito dos homicídios praticados pelo policial militar Felipe Quadros. Ela disse que não há dúvidas de que os crimes foram premeditados e motivados por vingança. “Ele falou que matou porque eles [as vítimas Jannyele Filgueira e Eliézio Oliveira] davam apoio para a ex-namorada dele, que era realmente a pessoa que ele estava procurando para matar”, disse a autoridade policial.
“Como eles davam apoio, inclusive nas denúncias que ela fez de maus-tratos e de ameaça, na Corregedoria da Polícia Militar e na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. Ele foi para se vingar e matou porque quis matar. Ele já sabia que iria matar pai e filha”, relatou a delegada. O PM acreditava que a ex-namorada estaria em Roraima e foi até a casa de Eliézio e Jannyele acreditando que ela estava dentro da residência.
Quando foi depor, o policial se mostrou frio e não esboçou sentimento de culpa. “Ele é uma pessoa que se mostrou muito fria em todo o depoimento. No interrogatório dele, falou com medida, calmo e não estava nervoso, não se alterou. Disse que não se manifestaria em relação ao caso do empresário, que só falaria em juízo. Há informes dando conta de que ele disse que já que teria acabado com a vida dele, ele iria acertar todas as contas que tinha pendente”, salientou Elisa Mendonça.
O acusado acreditou que se apresentando com os advogados não seria flagranteado e preso no quartel da PM. “Ele fez essa manobra para tentar sair livre. Só que a gente correu atrás, juntamente com a Polícia Militar, Ministério Público, Departamento de Proteção à Pessoa e Polícia Civil. Em conjunto trabalhamos, fizemos a representação e conseguimos o mandado de prisão dele”, destacou a delegada.
FUGA – A polícia não descarta a hipótese de que o policial homicida tenha tentado fugir para longe, pois ele tinha uma mala no veículo. “Ele colocou dentro do carro, o que faz crer que ele estava querendo fazer tudo isso e sumir daqui da cidade”, reforçou a delegada. Até o término do inquérito, o autor do crime continuará preso no Comando de Policiamento da Capital (CPC).
TESTEMUNHAS – Aos poucos, testemunhas do crime estão sendo ouvidas pela polícia. “Cinco pessoas já foram ouvidas. Algumas estão de luto e temos que respeitar, mas ainda temos pessoas para ouvir. Questionamos se alguma pessoa ajudou, porque ele passou o dia inteiro se escondendo e, com certeza, tinha alguém colaborando”, frisou Elisa, que declarou ainda que, conforme as informações da DGH, há policiais militares envolvidos na fuga que também propiciaram o esconderijo para o soldado.
“Ele passou o tempo todo rodando de carro e chegou em dois locais por indicação desses amigos. Mas ele não fala quem são os amigos, somente que tem alguns policiais envolvidos”, destacou Elisa Mendonça.
O próximo passo, considerando que há participação de outras pessoas, é pedir a ficha funcional de cada envolvido. “Temos um prazo para concluir e vamos acelerar as investigações porque, além de ser umcrime de grande repercussão, é interesse da DGH apurar todos os crimes”, frisou a delegada, detalhando que tem um prazo de trinta dias para concluir o inquérito, mas que depende do desenrolar do caso. (J.B)
Ex-namorada do policial está sob medida protetiva
A ex-namorada do policial militar Felipe Quadros, que está em outro Estado, manteve contato com a delegada Elisa Mendonça, que, por sua vez, orientou a jovem a procurar a delegacia da cidade onde ela está. Mas uma proteção foi articulada entre as delegacias.
“Ela já pediu proteção na delegacia. Compareceu, já tive contato com a delegada do local onde ela se encontra. Eles estão fazendo o possível para manter a integridade física da garota”, disse Elisa Mendonça.
A polícia não quis adiantar o que poderia acontecer caso o soldado seja solto, nem mesmo sobre a possibilidade de o militar ir atrás da ex-namorada. (J.B)