Polícia

Denúncias de violência psicológica tem aumento expressivo registradas pelo Chame

Conforme o balanço anual do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame), 1.380 atendimentos foram realizados em 2016. O índice representa um aumento de 84% em comparação com os 750 atendimentos de 2015. Em relação aos tipos, 75% são referentes à violência psicológica, que, segundo a advogada do Chame, Sara Farias, sempre antecede às demais, como moral, física, patrimonial e sexual.

O aumento na estatística foi atribuído à coragem que as mulheres estão tendo, aos poucos, em buscar ajuda de profissionais e da rede de proteção às mulheres em situação de violência. Outro avanço que 2016 trouxe foi a integração do Chame diretamente à Procuradoria Especial da Mulher, que está à frente da defesa dos direitos com três núcleos: o próprio Chame, o Núcleo de Tráfico de Pessoas e o Grupo Reflexivo ReConstruir, em parceria com a Vara de Penas e Medidas Alternativas do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), direcionado ao agressor.

A advogada ressaltou que romper o silêncio é difícil, mas que a mulher precisa saber que há uma lei que realmente vai protegê-la. Diante do fato, há três passos a seguir: conhecer a lei, saber onde buscar os direitos previstos e a quem buscar. A massificação da Lei Maria da Penha, como dos demais direitos que a mulher tem, tem sido positiva com ações e palestras desenvolvidas em instituições públicas e escolas, visto que a maioria não conhece.

Por dia, 14 mulheres são mortas no Brasil por questões de gênero, violência doméstica familiar e desprezo: os chamados feminicídios. Sara frisou que é responsabilidade do poder público, da sociedade e da família proteger a mulher, e que ainda falta sensibilização por parte dos pilares para identificar os sinais. “Quando se fala de violência, ela não atinge só a mulher, e sim a família inteira, principalmente as crianças”, ressaltou.

A chacina que ocorreu em Campinas (SP) é um reflexo do que foi exposto pela advogada. Com a tragédia, Sara relatou que as mulheres ficam temerosas, mas que o ocorrido pode, sim, fortalecê-las a buscar ajuda. É preciso alertar a família, amigos e os colegas de trabalho, uma vez que as mulheres em situação de violência psicológica costumam ficar depressivas, intimidadas e faltam mais no trabalho. Na física, há o uso das roupas que cobrem mais o corpo e a falta de autoestima.

Outro ponto levantado pela advogada em relação às mulheres que são mortas diz respeito ao julgamento a que está submetida quando, após fazer até cinco boletins de ocorrência e receber medidas protetivas, perdem o objeto em razão de reconciliação. “Ela não gosta de apanhar, só precisa de ajuda profissional. É como uma dependência emocional, até por conta dos filhos. É importante que essa mulher não seja reprimida, mas, sim, encorajada a denunciar”, finalizou.

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA – É qualquer conduta que tire da mulher a autoestima e venha a ferir a integridade psicológica. Diversos adjetivos são usados para a conduta, como perseguições, impedimento no direito de ir e vir e ameaças. “É subjetiva porque o que afeta o psicológico de uma não afeta necessariamente o da outra”, relatou Sara.

RECONSTRUIR – O Grupo Reflexivo ReConstruir é um núcleo criado para o trato do agressor. “Não basta só aplicar sanções, ele precisa ser tratado para que tenha convívio saudável em um ambiente privado, público e social em que vive”, destacou a advogada do Chame. Aproximadamente 15 homens estão sendo atendidos no local e assistem a reuniões com temas diversificados, como o valor da família, a fim de que possam entender a raiz do problema, os motivos e os fatores externos que determinam a violência.

CHACHINA – Na noite do Réveillon, a técnica em contabilidade Isamara Filier, 41 anos; o filho, João Victor, de 8, e mais dez pessoas que comemoravam a data na residência da mulher, em Campinas, no interior de São Paulo, foram mortos pelo ex-marido, Sidnei de Araújo. Antes da tragédia, a técnica já havia registrado cinco boletins de ocorrência por crimes de agressão e ameaça, além de denunciá-lo por abuso sexual contra o filho na Justiça.

As queixas começaram em 2005 e foram até 2015. Segundo a polícia, a decisão judicial deixou Araújo consternado e foi o principal motivo para que ele cometesse o crime. (A.G.G)