Polícia

Detentos reclamam em carta sobre a situação da Penitenciária

O documento foi redigido no último dia 29, três dias após a última rebelião, quando os detentos destruíram e atearam fogo em diversos compartimentos e tentaram realizar uma fuga em massa

Insatisfeitos com a situação em que se encontra a maior unidade prisional do Estado, os detentos que cumprem pena na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), escreveram uma carta reclamando da estrutura precária do presídio, além da falta de alimentação de qualidade e de assistência médica e odontológica. No documento os presos descrevem como desrespeitosa a maneira que os policiais e agentes penitenciários os tratam e os familiares deles.
Em resposta, os agentes penitenciários divulgaram nas redes sociais uma declaração rebatendo algumas das falhas citadas pelos detentos. A categoria afirma que os presos possuem geladeiras e aparelhos de televisão de última geração dentro das celas. Os agentes afirmam ainda que sofrem constantes ameaças por parte dos detentos.
O documento foi redigido no último dia 29, três dias após a última rebelião que ocorreu naquela unidade prisional, quando os detentos destruíram e atearam fogo em diversos compartimentos do presídio e tentaram realizar uma fuga em massa. Toda a situação foi controlada com o auxílio da Polícia Civil, GRT (Grupo de Resposta Tática), Guarda Municipal, Bope (Batalhão de Operações Especiais) e Polícia Rodoviária Federal. 
Os detentos começam o relato lembrando que estão presos para pagar pelos crimes que cometeram e que levam uma vida de paz dentro da unidade prisional. Eles ressaltam que todos dentro do sistema têm direito a receber um kit de higiene completo, uma boa alimentação, além de assistência médica e odontológica. “O Governo Estadual recebe para cada reeducando mais de mil reais para mantê-los com a assistência necessária, para que quando pagando a pena, possa voltar a sociedade sem nenhuma doença para trabalhar e sustentar a família. O governo estadual continua a receber esta verba e não está cumprindo com a lei”, diz a carta.
Outro ponto destacado na carta é a situação precária em que se encontra o presídio. Os detentos relatam que uma parte das paredes está prestes a desabar e que alguns locais não possuem iluminação, nem telhado. “Quando chove molha tudo, as celas e corredores ficam alagados, tem reeducando espalhado por todo o sistema debaixo de barracos de lona e árvores”, reclamam.
Os reeducandos também criticam a qualidade da comida servida. “A nossa alimentação é de péssima qualidade e já chega aqui azeda. O que nos resta é a comida que nossas famílias trazem em dias de visitas”, explica o documento.
A falta de veículos para realizar a escolta dos detentos para o HGR (Hospital Geral de Roraima) é outro ponto destacado no documento. “Se um reeducando passar mal, não é oferecido nenhum tipo de assistência. Poxa, nós somos seres humanos. A sociedade precisa ficar ciente do que realmente acontece, precisamos de ajuda”, enfatizam os detentos na carta. 
No documento, os presos ainda reclamam do tratamento que eles e os familiares deles recebem dos agentes penitenciários e policiais que atuam naquela unidade. Eles afirmam que nas revistas de rotina os policiais já chegam dando tiros de bala de borracha, lançando bombas de gás lacrimogênio, espancando presos desarmados, quebrando ventiladores, televisões e tudo que encontram pela frente. “Eles jogam as comidas preparadas por nossos familiares toda no chão e misturam com temperos e sabão em pó, desperdiçando o que nossas visitas batalham para fazer com o maior sacrifício. Isso é uma falta de respeito com os nossos familiares”, reclamam na carta.
No relato, os reeducandos afirmam que os policias os oprimem, levando-os para a carceragem para torturá-los com chutes e socos no rosto. “Somos tratados com animais. Já estamos trancados pagando pelos nossos erros, não precisamos sofrer mais ainda”.
A carta encerra com os detentos afirmando que os detentos irão lutar pelos seus direitos. “Queremos deixar bem claro que, de modo algum, nossa intenção é bater de frente com as autoridades, mas lutaremos pelos nossos direitos e a nossa arma é o diálogo com entendimento e respeito”, finaliza o documento.
AGENTES – Em resposta à carta redigida pelos detentos, os agentes penitenciários afirmam nas redes sociais, que somente quem trabalha na unidade prisional entende o que se passa lá dentro. “Os detentos queimaram nossa carceragem e alojamento que já não eram de boa qualidade. Eles afirmam que querem cumprir a pena em paz, mas cavaram um túnel para uma fuga em massa”, afirma o agente em nota.
Os agentes ressaltam que não são vistos com bons olhos pelos detentos e que constantemente recebem ameaças. “Eles [presos] dizem que sabem onde moramos e que vão nos ‘pegar’ quando saírem”, relata o agente na nota.
Em relação ao tratamento dado aos familiares dos detentos, os agentes esclarecem que nos dias de vista, algumas mulheres que não são esposas e nem familiares se cadastram como primas e vão visitar os detentos. “Essas mulheres chegam no presídio com roupas inadequadas e falando de forma desaforada, desrespeitando as agentes”, justificaram.
No final da nota emitida pelos agentes, eles explicam que a categoria não tem culpa do que ocorre dentro da unidade prisional. “Não temos condições de trabalho, pedimos compreensão de todos e que não nos julguem”, declara a nota. (I.S)