“Em termos de segurança pública, a soberania do Estado de Roraima está enterrada em uma cova rasa. Em nove covas rasas, para ser mais específico”, disse o ex-comandante da Polícia Militar de Roraima, Francisco Xavier, ao analisar a atual situação da segurança pública no estado. A crítica faz referência ao descobrimento de um cemitério clandestino no bairro Pricumã, com nove corpos enterrados e possivelmente ligado a uma organização criminosa venezuelana.
Em entrevista ao Agenda da Semana, nesse domingo (26), Xavier mencionou que há falhas no enfrentamento do crime organizado e na atuação das autoridades. Para ele, faltam ações coordenadas em várias esferas do poder público para impedir o crescimento do crime organizado em bairros como o Pricumã, 13 de Setembro, Caimbé e partes do Cidade Satélite.
“É uma questão de negligência em vários níveis. No caso específico desse cemitério, a gente vê ali uma sequência de ações que deveriam ser tomadas e que não competem somente à polícia, como um trabalho relacionado a uma política de proteção ambiental [por ser local de mata ciliar] e realocação daquela população para um outro bairro, assim como foi feito no bairro Caetano Filho”, exemplificou.
O ex-comandante ainda mencionou os relatos dos moradores do bairro Pricumã sobre as rondas da PM, mas que não impediram o surgimento de uma área possivelmente relacionada ao crime. Francisco explicou que quando o Estado se ausenta de áreas, permite que o crime se instale de forma territorial.
“A gente vê a ausência de providências do poder público de uma maneira geral e assim como aconteceu lá no Pricumã, a gente vê cenários semelhantes acontecendo também no bairro 13 de setembro, no Caimbé, em partes do Cidade Satélite, porque o crime organizado vai comendo pela beirada […] Chama-se anomia social quando o Estado vira as costas para a sociedade e ele deixa de tomar providências no sentido de restabelecer a ordem”, disse.
Leia mais: Polícia Civil encerra buscas em cemitério clandestino
Policiamento de vitrine
Francisco Xavier também criticou o que chamou de “policiamento de vitrine”, onde a presença de viaturas é mais voltada para demonstrar ações do que para um trabalho efetivo de segurança.
“Dos últimos dois, três anos para cá, nós temos excelentes viaturas, nós temos um contingente policial muito bom. Roraima hoje, proporcionalmente à população, é um dos estados que detém o maior efetivo. Mas isso está sendo provado agora que não é suficiente para que seja repassada para a população a credibilidade das ações governamentais. A população vê muita viatura; passa nas principais avenidas, nos principais cruzamentos e está ali a viatura parada. Os policiais dentro da viatura, imobilizados, porque se prioriza cada vez mais ali um policiamento de vitrine, como a gente chama, e muitas vezes o policial se vê ali tolhido de fazer uma abordagem de rotina”, comentou.
O ex-comandante da PMRR ainda detalhou mais ações e abordou sobre policiais envolvidos em crimes em Roraima. A entrevista completa está disponível no Spotify e no YouTube.