Na tarde de ontem, 18, familiares de presos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), que estão acampados há pelo menos três dias em frente ao presídio desde o confronto entre facções, ocorrido no domingo, 16, disseram que estão sendo ameaçados de serem retirados à força do local por causa da mãe de um detento que chegou sem pedir permissão e xingou os policiais da guarita, localizada na entrada da unidade prisional. “A mãe desse detento nem estava acampada com a gente, chegou do nada causando confusão. Por conta dela fomos ameaçados pelo Bope [Batalhão de Operações Especiais]”, disse a mãe de um preso acusado de roubo e cumprindo pena há quase um ano.
Conforme relatos dos parentes dos detentos, o clima de calmaria que está havendo seria aparente. “Recebemos ligações quase todos os momentos dos presos que estão ameaçados de morte. Eles dizem que a qualquer momento o confronto pode ser retomado. Eles estão com medo de que todos da ala 12 sejam remanejados para a ‘ala da cozinha’ da PAMC, onde os membros do PCC [Primeiro Comando da Capital] podem ter acesso”, disse a companheira de um dos detentos, que não quis se identificar. “As autoridades estão querendo isso mesmo, que aconteça mais mortes”, frisou.
Os familiares disseram que continuarão em vigília em frente à unidade prisional enquanto sentirem que o clima na penitenciária permanece tenso. “Queremos garantias de que nossos filhos, irmãos e companheiros que estão cumprindo pena aí sejam separados desses que estão ameaçando eles de morte. Se eles forem levados para a ‘ala da cozinha’, com certeza haverá novas mortes, pois lá é fácil o acesso”, destacou a mãe de um preso.
Ainda de acordo com essa mãe, além dos presos integrantes do Comando Vermelho (CV), alguns que não fazem parte de qualquer facção estão sofrendo ameaças. Disse também que os parentes desses detentos também estão sendo vítimas de intimidações fora do presídio.
PM – Por e-mail, o Comando-Geral da Polícia Militar de Roraima informou que o Bope esteve na manhã de ontem, 18, na Pamc atuando na área interna e realizando a contagem dos presos. Segundo o subcomandante de Policiamento da Capital, tenente-coronel Paulo Macedo, os familiares que estão acampados em frente à Pamc estão agindo de forma pacífica e que sempre aparecem novas pessoas querendo informações da PM sobre os detentos. Ressaltou que todas as informações sobre a integridade física da população carcerária estão sob responsabilidade da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc). “A Polícia Militar não dispõe de informações adicionais sobre o assunto, o que deixa alguns familiares inconformados”, frisou.
Sobre o suposto remanejamento de presos, a PM informou que não houve mudanças de local. “A Sejuc ressalta que, até o momento, os reeducandos encontram-se na contenção”, complementou.
SEJUC – A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) explicou que o Estado está tomando as providências necessárias para que não ocorram mais conflitos na unidade. Conforme o secretário adjunto, Francisco Castro, os presos estão separados em alas distintas há 90 dias e continuarão assim.
“Desde que soubemos que poderia haver conflitos entre facções, eles estão separados. O que aconteceu é que eles se aproveitaram do dia de visitas e quebraram os muros da unidade para ter acesso aos presos da outra facção”, explicou Castro, destacando a realização de um trabalho de reestruturação das alas deterioradas. (T.C)