Polícia

Familiares de escrivã morta por atropelamento clamam por Justiça 

“Não foi acidente”. Foi assim que declarou o comerciário Aluízio Barros Filho, de 52 anos, ao pedir justiça pela morte da esposa, a escrivã de Polícia, Maria Juceneuda Lima Sobral de Barros, de 53 anos, conhecida por “Neuda”. Para o viúvo, o envolvido tenta se passar por vítima e distorce a imagem de sua esposa, a verdadeira vítima. O fato que resultou na morte da policial aconteceu na madrugada do dia 21 de Julho, na Vila Nova Esperança, município do Bonfim, Leste do Estado.

“Ele havia bebido, bateu em um veículo Montana que estava estacionado à frente do dele e saiu empurrando o veículo. Com isso, o Montana nos atingiu e nos derrubou da mesa, em que estávamos sentados, bem na frente desse carro. Éramos sete pessoas, dentre elas a Neuda. Quando as pessoas começaram a gritar, ele deu ré, bateu em umas motocicletas que estavam atrás, desviou da Montana e ao empreender fuga bateu na minha esposa que estava à frente e depois passou com o carro por cima dela. Eu estava caído no chão e vi minha mulher ser assassinada”, desabafa.

Acompanhado das filhas, o comerciário prestou declarações na manhã desta quarta-feira, dia 14, na sede do DPJI (Departamento de Polícia Judiciária do Interior), na Cidade da Polícia Civil. Ainda com ferimentos na perna esquerda, ele relata que o maior trauma da tragédia é a morte de sua esposa, o que abalou toda a família.

“A neta dela, hoje com 12 anos e que foi criada por nós desde os três anos, é a que está mais abalada. Tentou até o suicídio há poucos dias para tentar encontrar a avó, sua “maezinha”. Estamos em frangalhos. A Neuda era o nosso braço forte. Esse motorista destruiu nossa família, nos causou muita dor. Queremos Justiça. Essa morte não foi um acidente. Ele quis matar. Ele poderia ter parado quando a viu na frente do carro, mas não foi o que fez. Ele acelerou, bateu na minha mulher e passou com o carro por cima dela. Nem consigo mais dormir relembrando toda aquela cena”, detalha.

Quase um mês após a tragédia, Aluízio Barros contou sobre o que ele e sua família fizeram no dia do atropelamento. Segundo ele, todos foram convidados para ir a um aniversário na Vila Nova Esperança, mas já chegaram ao local tarde. Depois saíram da festa e foram até um bar próximo, principal ponto de encontro da comunidade. No estabelecimento, colocaram a mesa em frente aos carros estacionados. Pouco tempo depois foram surpreendidos com o carro Chevrolet/Montana arremessando todos com força devido ao impacto causado pela Mitsubishi/L-200 usada pelo motorista.

“Não sabíamos o que estava acontecendo. Foi tudo muito rápido. Eu caí no chão, com a perna machucada. De repente ouvi vários gritos. Quando olhei para cima vi a Neuda em pé. Neste momento ele bateu nela e passou com o carro por cima. As pessoas começaram a gritar e correr atrás dele, mas caiu com o carro num lago e fugiu a nado”, relembrou.

Mesmo ferido, Aluízio Barros conta que socorreu a esposa, junto com as filhas, até Boa Vista, em seu próprio carro. “Ela veio para Boa Vista conversando, lúcida, mas queixando-se de muita dor. Chegamos ao Pronto Socorro onde ela ficou internada e na manhã seguinte recebemos a notícia da morte dela. Foi como se o mundo desabasse. Perdemos o chão. Toda minha família precisa de atendimento psicológico. Ela era uma mulher diferente, amiga, guerreira, batalhadora. Estava no melhor momento da vida dela, estava muito feliz, cheia de planos”, frisou.

De acordo com o comerciário, o motorista que causou o acidente se apresentou à Polícia após a fuga e contou uma versão que não condiz com a verdade e ainda usa amigos pessoais para manchar a imagem de sua esposa em aplicativos de mensagem instantânea. Também, ainda segundo Aluízio Barros, o motorista disse que estava sendo ameaçado, o que é uma mentira.

“Nunca vi esse homem na minha vida. Se passar ao meu lado não sei quem é. Estamos tentando nos erguer após todo o mal que ele nos fez. A Neuda em momento algum partiu para cima do carro dele usando de violência. Ela nunca foi assim. Ela estava em pé, infelizmente no caminho dele. Poderia ser qualquer pessoa. Os danos que ele causou aos veículos que bateu não passavam de R$ 500. Ele decidiu fugir para não pagar R$ 500 e matou uma pessoa. Ou seja, a vida dela não teve valor algum para ele”, disse, destacando que sua mulher tinha cinco filhos, uma filha adotada e sua neta de 12 anos sob sua guarda. 

A família afirma ser constrangedor receber as condolências das pessoas e, quando perguntados se o motorista está preso, ter que responder que não, o que para eles causa revolta. 

O CASO – Segundo a Polícia Civil, a tragédia que matou a escrivã de Polícia Neuda Sobral ocorreu no dia 21 de julho, ocasião em que o motorista atropelou quatro pessoas e fugiu. As vítimas foram levadas ao Pronto Socorro em Boa Vista, mas Neuda Sobral não resistiu às lesões.

“Uma pessoa que agiu como esse homem agiu, não merece ficar solto. Ele tem que ser preso e responsabilizado pelo crime. Não foi um acidente. Por exemplo, se uma pessoa atira com uma arma, depois que o projétil dispara não há mais como controlar. Neste caso foi diferente. Ele poderia ter parado. Ele tinha o controle do volante. Mas foi perverso, um covarde”, afirmou o marido. (J.B)