As famílias dos garimpeiros Carlisson Maçal do Nascimento, de 22 anos, e Zaquel Gomes, 33 anos, vivem um drama há sete dias. Eles descobriram que os dois homens e mais uma terceira pessoa, ainda não identificada, foram mortos a tiros na região do garimpo do Rio Uraricoera, que fica do município de Alto Alegre. A principal reclamação é de que as instituições a quem compete fazer o resgate dos corpos não se mobilizaram até a tarde de ontem, dia 17.
De acordo com a irmã de Carlisson, a família mora em Caracaraí e fazia cinco meses que ele e Zaquel tinham ido para o garimpo, no entanto, nesse intervalo, não retornaram para casa, mantendo contato somente no mês passado para avisar que viriam para as eleições. “Eles mandaram mensagem para outra pessoa, que deu o recado. Eles diziam que estava tudo bem, que no final do mês de setembro retornariam para votar”, explicou.
Segundo a denunciante, Zaquel era um amigo da família, mas a terceira pessoa morta era desconhecida. “Não sei dizer o nome e nem a idade. O que a gente sabe é que ele era um senhor. Não conhecemos porque é alguém de lá, que já trabalhava por lá há bastante tempo”, complementou.
Conforme a irmã de Carlisson, a família tratou com estranheza a ausência dele, uma vez que teria combinado de chegar no fim de setembro. “A gente esperou ele e Zaquel virem votar, mas eles não apareceram. Daí a gente começou a se preocupar, mas não tínhamos como entrar em contato com eles. Na segunda-feira [dia 15], a gente recebeu a notícia por meio da irmã do Zaquel, de que eles tinham sido mortos e ficamos sabendo que o crime aconteceu na noite da quinta-feira [dia 11]”, ressaltou.
Um garimpeiro que chegou recentemente da região é um dos suspeitos da família, inclusive, os parentes das vítimas apuraram que o garimpeiro morava junto com as vítimas no mesmo barraco. “A gente tinha dado esse garimpeiro como morto também, mas quando vieram para Boa Vista para falar das mortes e pedir para buscarem os corpos, nós encontramos essa outra pessoa, na cidade, viva”, reforçou.
O familiar comunicou que, na versão do garimpeiro sobrevivente, o grupo se separou e ele teve que ir para outro garimpo, ficando na mesma área apenas Zaquel e Carlisson. “Disse que meu irmão tinha adoecido, com tumores nos pés e não podia andar, por isso Zaquel contratou um índio para ajudar e o indígena teria sido o autor dos homicídios. Mas ele vive mudando as versões. Depois relatou que estava próximo, escutou os tiros, deu um tempo, foi averiguar e viu os dois corpos no chão”, revelou a irmã de Carlisson.
A motivação do crime, segundo as informações apuradas pelas famílias das vítimas, seria para roubar. “Nós descobrimos que do senhor levaram o ouro, mas do meu irmão com Zaquel, ninguém sabe porque, não sabemos se estava com eles ou se esconderam em algum lugar. Mas o garimpeiro que estava lá [sobrevivente] acha que roubaram. Esse garimpeiro é a única testemunha que tem”, esclareceu.
Antes de ser garimpeiro, Carlisson trabalhava com turismo, assim como todos os irmãos. Enquanto Zaquel era garimpeiro há alguns anos. Após o convite, o jovem se sentiu atraído a tentar a vida na área de minério, indo garimpar pela terceira vez. (J.B)
Famílias registraram Boletim de Ocorrência
Há sete dias, as famílias dizem que vivem a angústia de não conseguir respostas do Estado no que se refere à resolução do impasse para resgatar os corpos, inclusive um Boletim de Ocorrência (B.O) foi registrado na Delegacia de Polícia Civil para que as providências legais fossem adotadas a partir da comunicação dos fatos.
“A família do Zaquel Gomes fez o B.O e a Polícia já ouviu o garimpeiro na Delegacia. Ele contou a versão dele. Hoje nós saímos de Caracaraí e fomos para Boa Vista para acompanhar o desenrolar do caso junto com a família do Zaquel. Nós fomos ao Corpo de Bombeiros e à Delegacia-Geral. Reuniram a gente e pediram para não ficarmos preocupados porque vão buscar os corpos amanhã ou depois de amanhã. Como é que dizem que pode ser amanhã ou depois, sendo que estão mortos há sete dias?”, questionou.
A reclamação é que as dificuldades impostas pelas instituições comprometem a chance de encontrarem os corpos em condições possíveis de translado. “Eles ficam botando dificuldades. Os bombeiros jogam o problema para a Polícia e fica nessa situação. A gente quer uma resposta porque precisamos dar um enterro digno para eles. Nós queremos descobrir quem fez isso. Queremos que os peritos digam como eles foram mortos. A gente desconfia do garimpeiro por causa das contradições. Ele chegou a dizer que meu irmão estava se deitando na rede quando foi morto. Como é que ele sabe disso se disse que estava em outro garimpo”, enfatizou.
As famílias informaram que não procuraram o Exército e nem a Polícia Federal para relatar os fatos e pedir auxílio na resolução do caso.
OUTRO LADO – A Folha entrou em contato com o Governo do Estado para que pudesse se manifestar a respeito da denúncia, mas não obtivemos qualquer resposta. (J.B)