Apesar do sofrimento, o filho de Antônia Simião relembrou que a mãe era envolvida em ações sociais e de preservação do meio ambiente, assim como o esposo. Na manhã de ontem, dia 16, ele conversou exclusivamente com a reportagem da Folha sobre os princípios e projetos do casal que foi brutalmente assassinado.
“Ela era prestativa, solidária e acolheu venezuelanos na casa dela aqui em Boa Vista e no sítio. Mas a culpa não é de todos os venezuelanos, não podemos generalizar. Eu preciso perdoar. O fato de eu querer perdoar é porque minha mãe não guardava sentimento de vingança e foi isso que ela me ensinou”, ressaltou o filho, acrescentando ainda que gostaria de conversar pessoalmente com os autores do crime para saber as razões pelas quais mataram a mãe e o padrasto.
O rapaz destacou que Antônia Simião era defensora do meio ambiente e uma de suas lutas era para manter a mata virgem. Comentou que ela plantava mudas nativas e que, apesar de estar aposentada por invalidez, nunca deixou de ser ativa e realizar o trabalho no sítio onde morava com o esposo há aproximadamente 10 anos. “Eles ajudavam a todos e ela também era conhecida porque preparava remédios caseiros e contribuiu com a saúde de muita gente naquela região. Eles eram muito conhecidos”, frisou.
Uma outra vitória da idosa, conforme o filho, foi ter concluído o ensino médio. Ambos planejavam visitá-lo em Manaus. “Eles viveram mais de 30 anos juntos. Ele foi como um pai para mim. Nós temos ele como um segundo pai. Ele carregava minha mãe na garupa da bicicleta quando ainda não tinham outro tipo de transporte. A família dele é de Fortaleza e já comunicamos. Eles não querem levar o corpo para o Ceará porque preferem que seja sepultado junto com minha mãe. Gostava de pescar, era bem-humorado, protetor da família e exemplo de pessoa digna”, enfatizou.
Para concluir, o filho falou que a mãe vai ser lembrada por ter sido uma das pessoas que conseguiu estrada e energia elétrica para a vicinal. “Sempre se orgulhou de ter ajudado em tais feitos, mesmo com deficiência no pé”, disse. (J.B)
Suspeitos do crime continuam foragidos
Até o fim da tarde de ontem, dia 16, os suspeitos de terem praticado o crime de duplo homicídio ainda não haviam sido presos. A Polícia acredita que eles estejam na mesma região, que é extensa e com muitas estradas vicinais, inclusive alguns entroncamentos.
O caso está sendo investigado pela Delegacia Geral de Homicídios (DGH) que acredita que tenha sido motivado por roubo, portanto caracterizando o crime como latrocínio (roubo seguido de morte).
Um dos policiais que atendeu a ocorrência destacou que pelas condições dos corpos das vítimas, ambas resistiram e tentaram se defender, considerando as perfurações nos braços. No caso de Antônia, a polícia acredita que ela tenha conseguido travar uma luta corporal com o criminoso, uma vez que até em sua mão havia ferimento de faca.
“Tenho certeza que se houve luta, resistência, foi por amor. Eles passaram por muitos momentos difíceis, inclusive por doença, juntos. O que ainda conforta é que os dois morreram juntos. Um não conseguiria viver sem o outro. A gente pede para que essa situação que vivemos em Roraima melhore”, finalizou o familiar. (J.B)