Os funcionários de uma cooperativa de transporte de animais, Jorge Oliveira Bastos, 58 anos, e Eltonei Silveira da Silva, 39 anos, procuraram a Folha na manhã de ontem, 16, para relatar que foram vítimas de agressões físicas durante uma cobrança de dívidas que passa de 95 dias. Com boletins de ocorrência em mãos, eles procuraram o Instituto de Medicina Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito.
Conforme o relato das vítimas, a confusão foi iniciada quando decidiram cobrar o ex-deputado Urzeni Rocha, que fazia promessas de pagamento e não as cumpria. “Somos caminhoneiros boiadeiros e está fazendo 95 dias que fizemos cinco viagens para ele. Para mim, ele deve R$ 2.374, desde o dia 15 de maio desse ano”, destacou Jorge Oliveira.
Eltonei disse que o valor que tem para receber de Rocha é de R$ 600. “A gente fica ligando e eles não atendem, por isso fomos na casa deles, que receberam a gente com pancada. Eu vivo de frete, não tenho outra renda e estou com a conta de luz atrasada, para pagar”, contou.
Os dois caminhoneiros revelaram que há alguns dias estão à procura de Rocha, entretanto as promessas são proteladas. “Semana retrasada fomos ao escritório dele, aí ele falou assim: ‘rapaz aguenta mais um pouquinho que semana que vem eu pago vocês’. Quando foi na quinta-feira, [dia 11], eu fui lá com ele, aí a secretária disse que ele estava na fazenda e que só voltava segunda-feira, [dia 15], mas liguei para o celular dele e o telefone tocava, então quer dizer que ele não estava na fazenda. Passou a semana que ele pediu e na segunda [dia 15] fomos ao escritório e ficamos até 11h da manhã e ele não apareceu. Ela falou que ele ‘tava’ para o Taiano, só inventando”, explicou Oliveira.
Depois da espera, as vítimas decidiram fazer a cobrança na porta da residência. “Quando foi hoje [terça-feira, 16], Elton me chamou cedo e falou para a agente ir na casa dele, aí fomos. Eu pedi para Elton apertar a campainha e perguntar se era a casa do doutor Urzeni e responderam que era a casa dele. Aí Elton se apresentou como boiadeiro e disse que queria falar com ele, mas falaram que ele viajou desde as 6h. Aí eu disse ‘Elton vamos esperar ele aqui porque eu conheço ele e sei que ele está aí dentro’. Ele já me enrolou outras vezes, só que agora, como nós não estamos querendo mais trabalhar para ele, ele botou a mulher, a vereadora Nira Mota, que falou que ia pagar à vista, mas na hora de pagar, botou para Urzeni de novo”, ressaltou Jorge
Como estratégia para evitar a passagem do carro que sairia da garagem, a vítima estacionou seu veículo em frente ao portão da residência. “Quando estou na casa dele, botei o carro em frente à garagem. Ele vai sair, eu vou parar, ele para falar comigo. É o único jeito de ele falar comigo. Saiu o segurança dele, mandou retirar o carro, aí eu falei para ele ‘rapaz, primeiramente um bom dia, eu só vim conversar com doutor Urzeni que me deve há 90 dias’ aí começou a agressão, saiu me cobrindo de porrada. Aí, quando o Elton, viu correu para cima e ele correu para dentro de casa. Aí ele pediu o revólver para me matar”, reforçou.
Os funcionários também narraram que durante o tumulto tanto o ex-deputado quanto a esposa apareceram exaltados e fazendo ameaças. “Urzeni veio de lá, xingando, me chamando de pilantra e vagabundo, mandando ir embora da casa dele, chutou a moto do Elton, aí veio um outro segurança e mandou tirar o carro, aí retirei. Peguei o carro e levei para lá, aí a Nira veio atrás de mim, eu baixei o vidro do carro e ela falou que se acontecer alguma coisa com Urzeni, que ia mandar matar eu e o Elton”, enfatizaram.
Depois da confusão, os dois homens contaram que foram até a delegacia de polícia fazer o registro do Boletim de Ocorrência (B.O). “Quando baixei o vidro do carro, veio um segurança dela [vereadora], o mesmo que me agrediu e meteu uma ‘mãozada’ no pé do ouvido, eu chamei ele de covarde porque estava dentro do carro. Só sei que eu saí, fui embora. Registramos a ocorrência e vamos fazer o exame de corpo de delito aqui no IML. Vamos entrar na justiça. Nós vivemos disso. Estou devendo”, salientou Jorge Oliveira.
O OUTRO LADO – A Folha tentou contato com o ex-deputado Urzeni Rocha, mas não obteve resposta. No entanto, a esposa de Rocha, a vereadora Nira Mota, afirma não ter conhecimento sobre os fatos narrados pelos dois homens e que, ao tomar conhecimento, vai formalizar um registro na polícia por danos morais e calúnia. Disse que também desconhece qualquer agressão física ou ameaça de morte contra pessoas que foram à sua residência na manhã de ontem, que estava em uma fazenda na companhia de Urzeni Rocha e chegaram a Boa Vista no começo da tarde desta terça-feira. (J.B)