Garimpeiros teriam matado dois indígenas e fugido no território indígena Yanomami, denunciou o presidente da Urihi Associação Yanomami, Junior Hekurari Yanomami. Em ofício ao governo federal, ele narra que o crime que vitimou Marcos Yanomami e Gerente Yanomami ocorreu em 2 de janeiro, na região do Alto Catrimani.
No documento em caráter urgente, o líder da associação relata que um dos corpos foi queimado em atenção às tradições indígenas, enquanto outro segue na floresta monitorado pela população local. Hekurari pediu providências à Polícia Federal (PF), ao Ministério Público Federal (MPF), à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), ao Exército Brasileiro e aos ministérios dos Povos Indígenas e dos Direitos Humanos.
“Isso não pode acontecer mais aqui dentro do território brasileiro, na Terra Indígena Yanomami. A gente fica muito com medo com as situações que acontecem nas nossas casas. A gente não pode nem sair, porque os garimpeiros matam”, relatou à Folha sobre a insegurança na região.
O presidente da Urihi avalia que o crime constata o recrudescimento do garimpo ilegal na localidade após o relaxamento das medidas contra a invasão do território. Para ele, o Governo Lula só fez “muito barulho” em torno da situação.
“[Os garimpeiros] estão retornando tudo de novo. No inicio do decreto do presidente da República sobre o estado de emergência [na Terra Yanomami], todos ficaram com medo, mas perceberam que só fizeram muito barulho. Por isso, tem muitos garimpeiros que retornaram com tudo”, lamentou.
No fim de 2023, o Ministério do Meio Ambiente divulgou um balanço em que aponta a redução de 77% da área desmatada para abertura de garimpos de janeiro a novembro, na Terra Yanomami, em relação ao mesmo período do ano anterior.
No entanto, a Justiça Federal precisou determinar audiência de conciliação com os órgãos federais envolvidos na proteção do território para definir um novo cronograma de ações contra o garimpo ilegal. A decisão atendeu o MPF, que citou a permanência de invasores na região.
O órgão ministerial disse à Justiça que os resultados promissores das operações na Terra Yanomami, no início de 2023, não evitaram a reocupação de áreas pelo garimpo, e que as ações tiveram sucesso até o início do segundo semestre. A partir desta época, garimpeiros retornaram à região, especialmente em áreas já desmatadas. O MPF citou a existência de vários relatos de aliciamento, prostituição, incentivo ao consumo de drogas e de bebidas alcoólicas, e até estupro de indígenas pelos garimpeiros.