Polícia

Golpistas comercializam carros de Manaus com documento irregular

Veículos alienados já com mandado de busca e apreensão são vendidos a preços bem mais baixos que o praticado no mercado

Um autônomo de 48 anos, que preferiu não se identificar, procurou a polícia esta semana para denunciar uma suposta quadrilha que estaria negociando, em vários pontos de Boa Vista, veículos alienados e clonados de outros estados. Ele foi mais uma vítima da suposta quadrilha ao comprar um carro por R$ 12 mil sem antes ir ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Quando foi regularizar o veículo, descobriu que o automóvel tinha documentação falsa e que, na verdade, tratava-se de um “cajá”, apelido dado aos veículos alienados com mandado judicial de busca e apreensão ou clonados de outros estados.
O carro que o autônomo comprou, um Vectra 2012, estava com placa de outro carro do Amazonas. Ao descobrir a irregularidade, a vítima procurou o vendedor, que desapareceu. A negociação foi feita ao lado de um posto de combustível na avenida Ataíde Teive, no bairro Sílvio Leite, zona Oeste.
Na semana passada, um servidor público também procurou a polícia para relatar que havia caído no mesmo golpe. Ele comprou um carro que já estava alienado por um banco do Amazonas. Já havia até mandado de busca e apreensão do veículo.
“Confiei na palavra do vendedor. Ele me disse que passaria o carro para o meu nome assim que eu o pagasse, pois ele pegaria parte do dinheiro e quitaria a dívida, mas ele pegou o dinheiro, R$ 15 mil, e desapareceu. Quando fui ao Detran, descobri a situação do carro, um Gol. O banco que financiou o veículo já havia acionado a Justiça pedindo a busca e apreensão”, relatou.
O servidor público agora não sabe o que fazer. Com a documentação irregular do carro, ele lamenta que agora tem que andar fugindo das blitze. O vendedor do carro desapareceu.
Policiais informaram à Folha que já há uma investigação em andamento para descobrir os integrantes desta quadrilha que vem agindo na Capital. O crime, conforme um agente, começa em Manaus (AM). “Lá, o criminoso roraimense negocia o CPF de alguém que tenha o nome limpo, forja um contracheque, vai a um banco ou a uma revendedora de veículos e financia o carro. Feita a transação, ele paga de R$ 1 mil a R$ 2 mil ao dono do CPF, pega o carro e vem embora para Boa Vista. O dono do CPF, que tem o nome na documentação do carro, não paga as prestações e logo o banco aciona a Justiça. O dono do CPF fica apenas com o nome sujo. Esse é o seu prejuízo. E quem fica com o carro, o “cajá”, revende-o em Boa Vista com preço muito abaixo do valor de mercado”, detalhou.
Muitos desses carros, ainda segundo o policial, também são utilizados no transporte clandestino de gasolina do país vizinho, a Venezuela. Tanto é que o pátio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no bairro São Vicente, zona Sul, está lotado de “cajás” apreendidos, principalmente na BR-174, com contrabandistas de combustíveis.
O policial orienta: “Se for comprar um carro, certifique-se primeiro sobre a documentação. Vá ao Detran e puxe a situação financeira do veículo para saber se ele está com a documentação em dia. Se o vendedor não quiser ir ao Detran, algo está errado. Não confie apenas na palavra!”, alertou.
A Folha foi ontem à tarde ao local indicado pelas vítimas, onde teriam ocorrido as negociações. Dezenas de motocicletas e carros estavam expostos à venda. Quando viram a equipe de reportagem, os vendedores não quiseram falar sobre o assunto. Aos poucos, pegaram seus veículos e foram saindo. (AJ)