O Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) denunciou, nesta sexta-feira (30), que um indígena de 25 anos morreu após ser atropelado por uma aeronave em uma pista de pouso na comunidade do Homoxi, município de Iracema. Segundo os indígenas da região, o atropelamento ocorreu na última quarta-feira (28).
O conselho classificou o caso como homicídio. O presidente do conselho, Júnior Hekurari Yanomami, foi até o local para apurar o caso e disse que o indígena foi atropelado por um garimpeiro, que, segundo ele, o fez intencionalmente, “na intenção de matar”.
O representante indígena foi informado na comunidade que os garimpeiros retornaram de helicóptero ao local após o ocorrido e levaram o corpo, a esposa dele e os filhos para a comunidade Yamasipiu, Região do Haxiú, município de Alto Alegre.
Hekurari disse que esta seria a segunda vez que o mesmo garimpeiro teria atropelado e causado a morte de um indígena. No outro episódio, segundo ele, a vítima foi uma mulher. “Os próprios garimpeiros estão dominando a Terra Indígena Yanomami, principalmente o Homixi está destruído. Eles decidem quem tem que pousar, pelo rádio, o movimento dos helicópteros dos aviões é muito grande”, disse Hekurari.
O ofício com a denúncia foi enviado para a Coordenação Distrital de Saúde Indígena Yanomami, ao Secretário Especial de Saúde Indígena, ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal.
Silenciamento
No ofício, o Condisi afirma que a prática é uma tentativa de intimidação e silenciamento da comunidade. Confira trecho do ofício enviado às autoridades.
CONSIDERANDO o indisfarçado e desprezível homicídio ocorrido na Região do Homoxi, ataca às mais sensíveis liberdades individuais do Povo Yanomami, numa franca estratégia deliberada e sistemática de silenciamento e intimidação desse povo que busca resistir à destruição do seu modo de vida pela invasão do seu território por garimpeiros ilegais.
CONSIDERANDO que este episódio trágico e extremo se soma a muitos outros nos mais diferentes contextos, e conforme expressamente apontado em diversos Ofícios encaminhados por este Conselho, para as instituições representantes mostrou-se que a provocação destas instituições não se converteu em medidas efetivas para sequer minimizar o problema da invasão da Terra Indígena Yanomami por criminosos.
CONSIDERANDO que as estratégias de desintrusão do Território Yanomami mediante a utilização das forças de segurança do Estado se mostrou mais uma vez infrutífera, e que os invasores articulam novas invasões, como a que se intenta rumo à Região do Palimiú, com notório poder de articulação, financiados por compradores de ouro ilegal, inclusive com influência sobre o meio politico.
CONSIDERANDO que a despeito de uma série de iniciativas por parte deste Conselho e Representantes de Associações, as instituições continuam a permitir que o ouro extraído ilegalmente da Terra Indígena Yanomami continue a irrigar o mercado ilegal de ouro e, assim agindo estimulam grupos criminosos e milícias e ajudam atividades que prejudicam sobremaneira os Povos da
floresta.
CONSIDERANDO o disposto no artigo 231 da Constituição Federal, segundo o qual: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar os seus bens”.
CONSIDERANDO que a intensificação da expropriação do Território Indígena Yanomami se consolida de forma acelerada e agressiva em todo o contexto, causando uma destruição incalculável e que à luz da Constituição e do Estatuto do Índio, solicitamos que sejam tomadas as medidas pertinentes em conformidade com as normas em vigor quanto ao ocorrido, e que a lamentável situação deve ser apurada e solucionada em conformidade.