Polícia

Invasores acusam detentos de cobrarem por ocupação de área

Conforme ocorrência policial, quem não paga por casa em área invadida é ameaçado de morte ou retirado à força de dentro do barraco

Tiroteio, ameaças de morte e muita confusão, anteontem à noite, na invasão que fica por atrás da usina de asfalto da Prefeitura de Boa Vista, no final da Avenida Brigadeiro, no bairro São Bento, zona Oeste. Invasores agredidos procuraram a polícia, no fim de semana, para denunciar que presos da Cadeia Pública de Boa Vista, no bairro São Vicente, zona Sul, estariam loteando e vendendo terrenos na área de invasão. E quem não pagasse, segundo os invasores, teria o barraco queimado.

Em Boletim de Ocorrência registrado na Central de Flagrantes II, no 5º Distrito de Polícia, zona Sul, uma doméstica de 23 anos, uma das invasoras, relatou que passava das 17h de sábado, dia 12, quando um homem conhecido como “Bira” chegou em frente ao seu barraco, com mais seis homens, ordenando que ela, marido e filho saíssem do local, caso contrário, eles retornariam e tocariam fogo no barraco. No grupo haveriam dois albergados e um deles, segundo a denunciante, estava armado com um revólver.

A família foi ameaçada de morte e o casal agredido verbalmente. Um dos albergados deixou bem claro à doméstica que eles estavam cumprindo ordens de dentro da Cadeia Pública e que, se não saíssem, morreriam. Em seguida, o grupo foi embora em um carro de passeio e em motos.

O marido da doméstica, então, foi à delegacia prestar ocorrência. Ele aguardava a vez de ser atendido quando recebeu uma ligação de um vizinho, que o avisou que dois homens haviam passado por lá e dado dois tiros no barraco dele.

Logo depois, mais invasores chegaram à delegacia contando a mesma história. Homens armados estariam na invasão retirando quem não pagou pelos lotes. Eles cumpriam ordens de presos da Cadeia Pública. “O que a gente sabe é se os presos estão grilando terra aqui e vendendo”, denunciou um invasor.

Ontem pela manhã, a Folha foi à invasão e entrevistou alguns moradores. Eles estavam temerosos e não quiseram se identificar. Alegaram que os presos, donos de lotes, ordenaram a eles que ficassem calados. “Eu dei de entrada R$ 300,00 pelo meu lote e todo final de mês tenho que pagar R$ 100. Um vizinho perdeu o seu barraco porque não pagou”, lembrou uma invasora.

O dinheiro cobrado pelo lote, ainda segundo os denunciantes, seria investido na compra de droga e para promover festas na cadeia. Já são mais de 50 famílias na invasão. A área pertence à Diocese de Roraima, que já cobrou uma solução da Prefeitura de Boa Vista, mas até o momento nada foi feito.

GOVERNO – O Governo do Estado, ao argumentar que os presos custodiados na Cadeia Pública de Boa Vista não saem daquela unidade prisional, negou que os detentos estejam atuando em loteamento de terras. O “diretor da unidade, Elizandro Diniz, ressaltou que não há reeducando registrado com nome ou apelido citado na denúncia sob custódia naquela unidade”, diz a nota enviada para a Folha, ontem à noite.

“Solicitamos que denúncias sobre algum foragido do sistema podem ser feitas diretamente ao Disque Captura da Divisão de Captura 0800-728-0130 da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc)”, complementou o governo.
(AJ)