CASO LOTUS

Juiz condena à reclusão empresário ligado a golpe do empréstimo que movimentou R$ 156 mi

Esquema também fez vítimas em Roraima. Suspeito recebeu pena de mais de 20 anos de reclusão

Antiga sede da Lotus Business BV, integrante do grupo Lotus Corporate (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Antiga sede da Lotus Business BV, integrante do grupo Lotus Corporate (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O juiz federal do Amazonas, Thadeu José Piragibe Afonso, condenou o empresário Rodrigo Faria da Silva, um dos diretores do Grupo Lótus/Amazon Bank, à pena de 20 anos e três meses de reclusão por envolvimento com um golpe do empréstimo que movimentou R$ 156 milhões e fez centenas de vítimas em quatro estados, incluindo Roraima.

RELEMBRE

Além da reclusão, que deve ser cumprida em regime inicialmente fechado, Rodrigo terá de pagar o equivalente a 200 dias-multa. Apesar da sentença, ele é considerado inocente até o julgamento do último recurso.

Durante a instrução processual, Rodrigo chegou a não apresentar resposta à acusação dentro do prazo legal e, portanto, chegou a ser defendido pela DPU (Defensoria Pública da União), a qual alegou, por exemplo, que ele não fazia parte do quadro societário das empresas. O empresário chegou a ser submetido a medidas cautelares. Em uma audiência, ele chegou a ficar em silêncio. Após o MPF pedir a condenação, a defesa dele pediu a absolvição de todas as acusações.

Com base em denúncia do MPF-AM (Ministério Público Federal), o diretor foi condenado por crimes de operação de instituição financeira sem autorização do Banco Central, gestão fraudulenta de instituição financeira, ganhos ilícitos por meio de processos fraudulentos, oferecimento de valores mobiliários sem autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), exercício de assessoria de investimento não autorizada, e formação e pertencimento a uma organização criminosa.

Rodrigo Faria foi o primeiro condenado por envolvimento com o esquema operado entre 2019 e 2022. Além dele, outros sete envolvidos haviam sido denunciados juntos pelos crimes, após investigação do MPF e da Polícia Civil do Amazonas – esses ainda aguardam julgamento.

Denúncia e investigação

Segundo denúncia do MPF aceita pela Justiça Federal em 13 de janeiro de 2023, um grupo de empresas que incluía Amazon Bank, Group Lotus Corporate Ltda e Lotus Business Center Promoção de Vendas Ltda era utilizado para fazer a assessoria de investimentos fraudulentos, levando pessoas a prejuízos financeiros. Em propagandas na internet, o grupo prometia ganhos irreais aos possíveis investidores, com rendimentos na casa de 300%, o que supera em muito qualquer realidade de mercado.

Além dos investimentos, o Amazon Bank oferecia serviços como abertura de conta online, cartão de crédito e seguro, atividades típicas de instituições financeiras, embora não possuísse autorização do Banco Central. As empresas do grupo ainda anunciavam investimentos em criptomoedas, Forex (Foreign Exchange Market), opções binárias (IQ Option) ou via HFT (High Frequency Trade), operações não autorizadas no Brasil.

O alvo preferencial do esquema eram servidores públicos, incentivados a obter empréstimos junto a seus bancos para investir nas instituições do grupo, com a promessa dos ganhos irreais. A divulgação dos serviços era feita de forma intensiva pela internet, utilizando mídias sociais para relatar como eram os investimentos realizados, apresentar propagandas com ‘selo de aprovação’ de pessoas famosas e mostrar riquezas conquistadas por meio dos investimentos, além da divulgação de patrocínios e eventos.

Segundo narrou a denúncia do MPF, depois que os clientes aportavam os valores para as empresas do grupo, parte considerável do dinheiro era destinada para contas pessoais dos oito envolvidos nas fraudes, inclusive por meio de contas de empresas de fachada. Outra parte era destinada para retroalimentar o esquema criminoso, que, como ocorre com toda pirâmide financeira, precisava de constantes novos aportes para se manter em funcionamento.

“Essas investigações desvelaram a existência de uma pirâmide financeira edificada pela empresa Amazon Bank e suas coligadas, verdadeira organização criminosa especializada na prática de crimes contra o sistema financeiro, economia popular e lavagem de capitais”, diz o magistrado na sentença de condenação.

As investigações também apontaram que, com os valores obtidos, os oito denunciados gozavam de uma vida luxuosa, constantemente divulgada pela internet como forma de reforçar a imagem de sucesso profissional como donos de banco e investidores do mercado financeiro. No caso de Rodrigo Faria, as investigações mostram que, antes de participar do grupo, ele ganhava um salário de R$ 1,5 mil. Em pouco mais de dois anos, passou morar num condomínio de luxo em Natal, ostentar viagens internacionais e carros de luxo.

As quebras de sigilo autorizadas pela Justiça mostraram que, pelas contas pessoais do condenado, passaram R$ 2,4 milhões a crédito e R$ 2,2 milhões a débito, sendo que R$ 1,5 milhão tiveram origem nas empresas do Grupo Lótus. Os valores foram depois distribuídos em contas pessoais e de empresas.

“As movimentações financeiras do acusado evidenciam o mesmo modo de agir: recebe valores em suas contas pessoais e nas contas de suas empresas individuais e pulveriza o capital, muitas vezes repassando os valores de suas empresas individuais para suas próprias contas, lavando, assim, o dinheiro obtido com as operações financeiras ilegais praticadas pela organização”, detalhou o juiz.

A sentença judicial ainda registrou que Rodrigo integrava a cúpula do grupo e, de forma mais recente, atuava na filial do Rio Grande do Norte, “de onde tinha pleno acesso, ingerência e ciência sobre a natureza potencialmente criminosa das atividades da organização”. Ele auferia comissões referentes às operações realizadas em todas as filiais, aproximadamente de 3 a 3,2% do capital movimentado.