Um grupo de garimpeiros assassinou um líder indígena identificado apenas como Cleomar, de 46 anos, e atingiu o rosto de um adolescente, de 15, em um ataque a tiros na comunidade Napolepi, na Terra Indígena Yanomami, conforme informou, por meio de nota, nesta quarta-feira, 5, a Hutukara Associação Yanomami.
De acordo com a nota, a Associação denunciou o novo episódio de violência ao Ministério Público Federal nessa terça-feira, 04. Conforme uma liderança da comunidade Napolepi, o ataque foi uma surpresa e ocorreu na noite do último domingo, 02.
Conforme a nota, um grupo de mais de dez homens atirou contra cinco indígenas que estavam em uma tenda de comércio conhecida como Dentinho. “É de extrema gravidade que os Yanomami reunidos pacificamente nas mediações de sua própria comunidade sejam friamente atacados por armas de fogo, levando à morte e ferimentos graves”, argumenta a Hutukara na denúncia.
O líder indígena assassinado foi atingido com tiros no rosto e tórax. O corpo foi enterrado em um espaço da comunidade, onde os Yanomami de Napolepi sepultam seus mortos. Enquanto o adolescente teve o rosto atravessado por uma bala que saiu pela nuca. Ele foi levado por um parente Yanomami para o Hospital Geral de Roraima (HGR) e, depois dos exames necessários, enviado à Casai.
Conforme o pai do adolescente, que preferiu não ser identificado, o dono da tenda os avisou sobre a chegada do grupo de garimpeiros para fazer o ataque e pediu para que saíssem do local. O homem recebeu a informação através de um grupo de whatsapp de uma classe de garimpeiros que se denominam “Lobos”. Ainda de acordo com o pai do adolescente, os indígenas correram, mas duas embarcações pilotadas por garimpeiros chegaram ao local com muitos homens atirando.
Os tiros só cessaram quando os indígenas caíram na água do Rio Uraricoera. Ele não soube dizer o que pode ter motivado o ataque, mas acredita que foi um pedido para diminuir a presença de bebidas alcoólicas na comunidade que ocorreu há três meses. “Na região do Uraricoera, onde ocorreu o ataque, a mancha de área degradada pelo garimpo cresceu 107% até agosto em relação a abril de 2022”, disse.
“Embora os números totais sejam menos expressivos, o rápido aumento indica uma nova frente de avanço do garimpo ilegal”, aponta trecho da deníuncia da Hutukara. O povo Yanomami teme novos ataques e lamenta por cada morte causada pelo garimpo e seus efeitos diretos. Desta vez, um adolescente, de 15 anos, foi atingido por um tiro e escapou por pouco da morte.
De acordo com eles, entre julho e a primeira quinzena de setembro nove crianças morreram em comunidades das regiões do Xitei e Surucucus. “Todas foram vítimas das doenças levadas por garimpeiros e falta de estrutura da Saúde na Terra Indígena Yanomami”, afirma a Associação.
“A Hutukara vem alertando as autoridades há tempos que é grave a falta de proteção do território, assim como é grave a reiterada violação dos direitos das crianças, adolescentes, famílias e terras indígenas. Além do MPF, a nova denúncia também foi endereçada à Funai (Fundação Nacional do índio), à PF (Polícia Federal) e ao Exército pedindo a retirada total do garimpo da Terra Indígena Yanomami, reconstrução total da BAPE Korekorema e presença da Força Nacional para impedir novos ataques por parte dos garimpeiros”, finaliza a nota.