MULHER PEDE AJUDA

Manicure e filhos são expulsos de casa após ela denunciar marido e a sogra por agressão

Carolina Cordero pede ajuda como abrigo, alimentos e medicamentos. Suspeitos de agredi-la enquanto amamentava foram presos, mas já receberam liberdade provisória

Manicure e filhos são expulsos de casa após ela denunciar marido e a sogra por agressão

A manicure Carolina Cordero, de 40 anos, denunciou o marido de 26 anos e a sogra de 46 por agressão física enquanto ela amamentava a filha mais nova, de sete meses, no cômodo do quintal de uma casa do bairro Cambará, na zona Oeste de Boa Vista. Os suspeitos foram presos em flagrante pela Polícia Militar e Carolina acusa a família do companheiro de expulsá-la do local. O caso aconteceu na noite de segunda-feira (9).

Segundo a PM, os acusados estavam embriagados e entraram no cômodo para pedir R$ 20 de Carolina, que negou, porque era o único dinheiro que tinha para comprar o leite das crianças. Insatisfeitos, os dois agrediram a manicure com socos e pontapés na tentativa de lhe tomar o montante.

Carolina contou à Folha que a confusão foi testemunhada pelos três filhos que têm com o marido, incluindo a menina de um ano, diagnosticada com toxoplasmose com evolução para microcefalia, e o garoto de três anos, que tem suspeita de possuir Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sem ter para onde ir, a mulher precisou dormir com as crianças na praça do Cambará.

“Eu não tenho onde morar com as crianças. Fiquei na praça, na casa de colegas pra fazer a comida dos meus nenéns, mas lá também não tem espaço”, explicou. “Eu tava tão desesperada que pensei entregar minhas crianças ao Conselho Tutelar”, disse, aos prantos.

No dia seguinte, durante audiência de custódia, a Justiça de Roraima concedeu liberdade provisória aos acusados de agredir Carolina. No caso do companheiro dela, o juiz Renato Albuquerque determinou cinco medidas protetivas em favor da vítima, incluindo o afastamento imediato dele e proibição do suspeito de se aproximar dela por 200 metros.

Papo de Redação fala sobre caso da mulher dormiu na rua com os filhos após denunciar o companheiro

Pedido de ajuda

Dois dias depois, a manicure conseguiu ficar provisoriamente na casa de uma amiga. Os dramas diários em ter que cuidar, sozinha, dos três filhos, incluem a falta de condição para comprar alimentos para sustentá-las. No caso dos filhos especiais, a dificuldade aumenta com a necessidade de conseguir medicamentos, pois nem todos são oferecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Só o tratamento da filha com microcefalia, segundo a mãe, custa R$ 800 mensais – acima dos R$ 650 que recebe do programa Bolsa Família, sua única renda fixa. Há três meses, o transtorno global da menina não tem sido tratado adequadamente e ainda tem obstruído a visão direita da criança. O mesmo ocorre com o filho com suspeita de ser autista, que por vezes apresenta convulsões.

Carolina Cordero ainda relata a necessidade de provar ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) de que precisa obter o BPC (Benefício de Prestação Continuada) para custear o tratamento das crianças. O benefício é concedido a pessoas com deficiência de qualquer idade.

Em caso de oferecer ajuda, o interessado pode ligar para o (95) 98410-6972. A manicure também disponibiliza o PIX 95 98437-8092 (celular).

Vinda a Roraima

Nascida na cidade de Barquisimeto, no Norte da Venezuela, a manicure lembra que, há oito anos, viajou por três dias, por meio de várias caronas, até chegar a Boa Vista, sozinha, com uma bolsa nas costas. O trajeto foi de quase dois quilômetros. “Tava horrível na Venezuela, porque a gente, pra comprar só um quilo de arroz, ou pães, precisávamos enfrentar uma fila quilométrica. A gente não tava conseguindo comprar comida direito, tava muito magro”, lembra ao falar dos efeitos da crise no País liderado pelo ditador Nicolás Maduro.

Em Boa Vista, ela recebeu a ajuda de uma amiga e, depois, conheceu o companheiro após ele se oferecer para abrir uma lata de energético. A união resultou no nascimento das três crianças – as filhas mais novas não foram planejadas e chegaram ao mundo após ela usar métodos contraconceptivos que falharam. “Peguei malária e isso cortou o anticoncepcional”, lembra sobre uma das filhas, à qual deu à luz em casa.