Todos os dias um grupo de venezuelanos e migrantes de outros estados brasileiros aguardam, em frente à Cadeia Pública de Boa Vista (CPBV), no bairro São Vicente, zona Sul, o momento de receber marmitas que sobram da alimentação dos detentos. Pelo menos dez pessoas esperam pela comida e afirmam que é pouco, considerando que muitas vezes precisam dividir sete unidades do mantimento com um número maior de pessoas.
“Nós estamos vindo todos os dias porque não temos o que comer, falta dinheiro, então a gente consegue com a cadeia. Por dia, sobram entre sete e oito marmitas, aí eles dão para a gente”, comentou um venezuelano que fugiu da crise em seu país e tenta a vida em Roraima.
Preocupados com o almoço do dia devido ao tumulto registrado ontem (veja matéria na página 10A), alguns, sem esperança, aguardavam. “Hoje, para mim, vai ser perdido. Eu ando arrastando duas bolsas, sem ter onde morar e o que comer. O que tenho é a passagem para Manaus [AM] no ônibus das 18h e, com essa confusão toda, não vão dar nada para a gente”, afirmou um homem que mora no Estado do Amazonas.
Uma venezuelana revelou que se não fosse o almoço disponibilizado no presídio, a situação estaria pior. “Aqui é muito quente e nem dá para poupar calorias porque o calor já consome. O que a gente ganha no sinal [semáforos] é pouco e nem todos os dias dá para comer. Por isso a gente vem buscar essa comida. Sem ela ficaria pior”, lamentou.
Quem veio de outras regiões do Brasil para trabalhar e acabou sendo demitido também faz campana em frente à unidade prisional. “Sou paranaense e vim trabalhar. Fiquei desempregado e, por não ter o que comer, comecei a vir buscar a marmita que sobra aqui na cadeia. Não vou reclamar porque é isso que está me livrando”, enfatizou.
GOVERNO – Em nota, a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) informou que desconhece esse tipo ação, não tendo informações sobre essa prática. (J.B)