A guerra de facções criminosas dentro do sistema prisional voltou a se repetir, desta vez no Amazonas. Ao menos 60 presos foram mortos e mais de 100 fugiram de duas unidades prisionais de Manaus. O massacre deixou os órgãos de Segurança Pública de Roraima em alerta e foi determinado o reforço nas principais barreiras para evitar que os fugitivos cheguem ao Estado.
A preocupação ocorre porque o massacre e as fugas, que iniciaram no final da tarde de domingo, 1º, aconteceram no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) e no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), unidades prisionais localizadas no KM 8 da BR-174, rodovia que liga Amazonas a Roraima.
No Ipat, aproximadamente 87 detentos conseguiram empreender fuga pela mata. Desses, cerca de 40 já foram recapturados, segundo a Secretaria de Segurança Pública de Manaus. Até o final da tarde de ontem, 02, o órgão ainda não havia contabilizado o total de foragidos do Compaj, que mantinha 1.229 internos, dos quais cerca de 60 foram mortos durante a rebelião.
Um dos foragidos, identificado como Bryan Bremer Quintelo Mota, condenado a sete anos de prisão por tráfico de drogas, chegou a comemorar a fuga do sistema prisional do Amazonas com uma postagem no Facebook junto a outros fugitivos. Na foto, os indivíduos pareciam estar numa área de mata fechada próxima à BR-174.
Apesar de maior em número de mortos, a carnificina de presos dentro do sistema prisional do Amazonas chegou a ser comparada com a ocorrida na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc), em Roraima, quando dez detentos foram assassinados durante uma briga entre as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).
No Estado vizinho, o matança, que ficou atrás apenas da chacina do Carandiru, quando 111 presos foram mortos, também foi motivada pela guerra entre facções criminosas. Desta vez, integrantes da Família do Norte (FDN), originada no Amazonas, que comandou o ataque, exterminaram ao menos 60 presos que faziam parte do PCC e estupradores.
Além das mortes e das fugas de centenas de presos, outras 70 pessoas, entre agentes penitenciários e funcionários de uma empresa terceirizada, foram mantidos reféns durante a rebelião. Eles foram soltos somente no final da manhã de ontem, após longa negociação.
O secretário estadual de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes, informou em entrevista à Folha que ainda não há número certo de fugitivos. “Não sabemos precisar quantos fugiram, pois estamos fazendo a recontagem dos presos e isso demora um pouco”, disse.
Segundo ele, a recaptura dos fugitivos será uma das prioridades. “Nossas prioridades serão a retomada da ordem e a recuperação dos presos que fugiram do sistema. Os policiais militares e civis que estavam de folga foram chamados e estão nas ruas e barreiras empenhados em recapturar os foragidos. Montamos barreiras móveis ao longo da BR-174 para interceptar os presos e, com isso, já recapturamos mais de 40”, afirmou. (L.G.C)
Barreiras na divisa com o AM foram reforçadas, diz secretário
O titular da Secretaria de Segurança Pública de Roraima (Sesp), coronel Paulo César Costa, afirmou que a situação é de alerta no Estado após o massacre no Amazonas. “Desde ontem estamos gerenciando a questão para que reforcemos a segurança dentro do sistema prisional, porque em uma situação como essa a possibilidade de retaliação existe e não pode ser descartada. Conversei com o comandante da PM para reforçar a barreira no Jundiá, na divisa entre os Estados”, destacou.
O secretário explicou que já foi solicitado aos órgãos de segurança pública do Amazonas informações sobre os presos que fugiram. “Estamos aguardando que eles façam o fechamento do quantitativo de presos foragidos, inclusive com encaminhamento de fotografia, nomes, alcunhas e qualquer coisa que possa ajudar na identificação para que possamos dar a difusão de todas as agências de segurança pública”, frisou.
Segundo o coronel, o fato de Roraima ser um Estado fronteiriço acaba atraindo os criminosos fugitivos. “Quem foge procura rotas que os levam a estados como o nosso. Por isso aderimos ao pacto integrado de segurança pública interestadual para facilitar a interlocução e atuação de agentes das forças de segurança no Amazonas e em Roraima”, ressaltou.
Costa aconselhou que o Estado se mantenha em alerta neste momento. “Colocamos os agentes de segurança de Roraima em estado de alerta, principalmente para redobrar as atenções na integridade deles próprios e dos familiares, porque numa situação de enfrentamento como essa, as facções para demonstrar força terminam por planejar atentados contra os agentes”, disse.
Se algum dos foragidos for reconhecido em Roraima e as pessoas quiserem denunciar, podem entrar em contato pelo 190 da Polícia Militar ou (95) 99139-9529 da Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc).(L.G.C)
PRF fará patrulhamento na malha federal da rodovia
Além do reforço do policiamento na BR-174, divisa com o Amazonas, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) montou barreiras no município de Rorainópolis e nos municípios fronteiriços de Pacaraima e Bonfim. “Foram passadas ao efetivo as orientações acerca dessa possibilidade dos foragidos entrarem em Roraima. Faremos fiscalizações nos ônibus interestaduais e em veículos que vierem no sentido Manaus/Boa Vista”, informou o chefe de comunicação da PRF em Roraima, Marcos Aguiar.
Segundo ele, a escolha pela barreira no Município de Rorainópolis, na divisa com o Amazonas, no Sul do Estado, foi estratégica. “Rorainópolis é um ponto de acesso importante e, contendo ali, não precisaríamos fiscalizar em outro local. Quando se tem um ponto de acesso mais próximo ao Amazonas, seria mais importante. A fiscalização ocorrerá por tempo indeterminado até quando já houver suprido a necessidade de conter os foragidos”, disse. (L.G.C)