Todos os dias milhares de mulheres no Brasil são vítimas de violência, muitas vezes praticada dentro de casa, pelo companheiro. O silêncio e o medo impedem que os casos sejam denunciados e, por consequência, as agressões acabam em morte ou sem qualquer solução.
Na noite de quinta-feira, dia 20, Eliana Bezerra Silva, de 42 anos, entrou para a triste estatística de mortes de mulheres violentadas pelo marido. Ela passou 21 dias internada no Hospital Geral de Roraima (HGR) até morrer.
A reportagem da Folha conversou com o irmão da vítima que contou detalhes dos fatos que antecederam a morte de Eliana. A vítima morava na Vila do Taboca, que fica no município do Cantá, estava grávida, morava com o esposo e mais sete filhos. Por mais que não tenha a data certa da última sessão de espancamento sofrido pela irmã, o homem acredita que tenha ocorrido no dia 27 de agosto.
O irmão da vítima disse que, em conversa com um dos sobrinhos, soube que o ex-cunhado agrediu Eliane, que caiu, bateu a cabeça e possivelmente tenha quebrado o braço. “Ele me disse que ela saiu chorando, foi em direção ao igarapé, foi quando o menino perguntou se o braço dela tinha quebrado, mas ela disse que iria ficar bem”, destacou.
No dia 30 de agosto, deu entrada no HGR, sentindo dores, febre e com outros sintomas decorrentes das lesões, principalmente na região da nuca, tendo que ser submetida à intervenção cirúrgica. O quadro de saúde se agravou e Eliana abortou involuntariamente o filho que tinha entre quatro e cinco meses de gestação.
Depois disso, perdeu a consciência e teve que ser entubada e, desde então, ficou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), até que a equipe médica atestou morte cerebral e infecção generalizada. “Ela não contava nada para a gente. Eu não sabia de nada. Ela apanhava de fio, era agredida todo dia, na frente dos filhos”, ressaltou o irmão, com lágrimas nos olhos.
Em relação ao agressor, foi denunciado pela família da vítima, localizado e conduzido à Delegacia uma semana depois de Eliana ter sido internada, porém, como não havia mais tempo para o flagrante, foi liberado pela Polícia. “Ele está na Vila, vivendo normalmente, como se nada tivesse acontecido”, desabafou o familiar.
O corpo foi levado pelo rabecão ao Instituto de Medicina Legal (IML) para ser examinado, mas, devido às condições, não seria possível fazer a necropsia, considerando que a infecção poria em risco todas as pessoas que transitam e trabalham no órgão, inclusive a pedido do médico, a família deveria realizar o funeral com caixão fechado. Até mesmo a funerária foi orientada sobre a manipulação do cadáver.
Em relação aos sete filhos, o tio disse que estão vivendo com o avô, que é o pai da vítima, no entanto, a família ajudaria na criação e educação. Eliana viveu cerca de 20 anos com o agressor. Os filhos contaram para os familiares que foram testemunhas das agressões e ameaças de morte. O caso foi registrado na Central de Flagrantes do 5o DP, mas vai ser encaminhado para a Delegacia do Cantá para ser investigado. (J.B)