Polícia

Para fugir da polícia, traficantes escondem droga em lugares inusitados

Entre as novas táticas para despistar a polícia, os criminosos utilizam até espinhéis no Rio Branco

A Polícia fiscaliza com rigor e aperta o cerco, mas os traficantes têm inovado na forma de esconder droga. Eles não poupam criatividade e escolhem os lugares mais inusitados. Na praça Germano Augusto Sampaio, por exemplo, no bairro Pintolândia, zona Oeste da Capital, para despistar os cães farejadores, os traficantes amarram fios e penduram a droga nos galhos das árvores. Quando o usuário chega, eles a desamarram, descaem a linha e descem as porções de droga. A tática, segundo os criminosos, está dando certo porque os cães policiais não conseguem farejar a droga, que era enterrada ou escondida em lixeiras ou debaixo de bancos.

No bairro 13 de Setembro, zona Sul, à margem do Rio Branco, mais uma forma inovadora de esconder droga. Os traficantes utilizam espinhéis, que é um tipo de pesca onde várias linhas com anzóis ficam amarradas em pedaços de isopor ou garrafas pet, que boiam, mas no fundo do rio, a droga, bem embalada, fica engatada na ponta dos anzóis.

Os bandidos também são ousados para entrar com droga na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (PAMC), zona Rural. Para despistar agentes penitenciários, os traficantes já ‘rechearam’ até cabos de vassoura, segundo a Polícia. As mulheres dos detentos também já foram flagradas tentando entrar com celulares e droga nas partes íntimas.

Entre as novas táticas, os traficantes agora passaram a vender droga de forma itinerante, ou seja, eles saem à procura dos viciados. Antes a venda ocorria em local fixo, conhecido popularmente como ‘boca de fumo’. Quanto mais a polícia aperta o cerco, mais o tráfico altera a sua dinâmica em Boa Vista.

Em entrevista à Folha, o titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), delegado João Evangelista, disse que a Polícia tem várias frentes de investigações. Segundo o delegado, a criminalidade em Roraima se resume basicamente no sistema prisional e o tráfico, com a entrada da droga pelas fronteiras.

“A droga não pode ser encarada apenas como um problema policial, mas social e até de saúde pública, por isso todos devem enfrentar este problema. O trabalho deve ser de inteligência, com ações em conjunto dos órgãos públicos. No Beiral, por exemplo, onde pousadas e bares funcionam sem fiscalização. E não é nosso trabalho interditá-los. Também não é simplesmente desocupar a área ou colocar um posto policial ali. Deve haver políticas sociais para as famílias de bem”, observou. (AJ)
 
DRE traça mapa da rota do tráfico em RR

Na terça-feira passada, dia 20, a Polícia amazonense prendeu um venezuelano com quatro quilos de cocaína. Ele estava em um ônibus interestadual que seguia para Boa Vista. Em depoimento, o venezuelano relatou que a droga seria vendida na Venezuela. A cocaína foi encontrada por um cão policial dentro de uma mala.

João Evangelista disse que a DRE já traçou o mapa ‘doméstico’ da droga em Roraima. As principais rotas utilizadas hoje são: Manaus/Boa Vista, Pacaraima/Boa Vista, Bonfim/Boa Vista e Boa Vista/Sul do Estado. As rotas internacionais que passam por Roraima são as duas principais rodovias federais: a BR 174, que chega à Venezuela; e a BR-401, que vai até a Guiana.

Além dessas rotas tradicionais, os traficantes internacionais usam as ‘cabriteiras’, que são trilhas no meio do lavrado que cortam terras indígenas, onde fica mais difícil de fiscalizar.

No caso da Guiana, observou o delegado, a DRE já sabe o tempo de colheita da maconha. Quase toda a produção de lá, segundo ele, é repassada para traficantes brasileiros, e a droga acaba abastecendo o mercado regional, mas parte dela cruza as fronteiras de Roraima com o Amazonas.

“Outro problema que enfrentamos é a fronteira aberta. Isso facilita para o traficante. O rio (Tacutu) no período de seca permite que os criminosos o atravessem a pé. São quilômetros de fronteira naquela região, que vai do Bonfim até Normandia. Ao Norte, a fronteira com a Venezuela também é extensa, o que dificulta o trabalho da Polícia”, comentou.

No combate ao tráfico em Boa Vista, o delegado disse que a Polícia Civil de Roraima é uma das poucas do Brasil que não tem cão farejador. “Quando realizamos operações ou batidas policiais, autorizadas pela Justiça, temos que acionar os cães do Bope para nos dar apoio. O trabalho deles é de fundamental importância, pois são eles que encontram a droga escondida, o que permite o flagrante”, explicou. (AJ)
 
EM SEIS MESES
Polícia apreendeu 55 kg de droga e prendeu 89
 
Somente nos primeiros meses deste ano, agentes do Departamento de Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil apreenderam mais de 55 quilos de droga. A investida policial de combate ao tráfico, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), resultou na prisão de 89 pessoas, sendo 40 delas em flagrante e as outras em cumprimento a mandado de prisão.

Segundo a Polícia, 64 suspeitos são homens e 25, mulheres. Com eles, os policiais apreenderam 43,4 quilos de cocaína e 10,9 quilos de maconha, além de oito armas de fogo, 26 carros, 11 motocicletas, 32 mil reais, 5 mil dólares e 11 mil bolívares. (AJ)