Polícia

PF afirma que morte de menina yanomami pode não ter ocorrido

Delegado Daniel Ramos disse que denúncia começou após um líder indígena assistir a um vídeo institucional de uma ONG, que tratava genericamente dos problemas relacionados ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami

O delegado da Polícia Federal (PF), Daniel Ramos, disse nesta sexta-feira (6), em entrevista coletiva, que a denúncia de estupro e morte de uma adolescente Yanomami de 12 anos, e do desaparecimento de uma criança indígena de três anos, na comunidade Aracaçá, na Terra Yanomami, em Roraima, foi baseada em informações desencontradas que levam “a crer que esse ilícito não ocorreu”.

Segundo o delegado que chefia as investigações do caso, a denúncia tem origem após um líder indígena assistir a um vídeo institucional da ONG Instituto Socioambiental (ISA), que tratava genericamente dos problemas relacionados ao garimpo ilegal no território Yanomami, para dar publicidade ao relatório “Yanomami Sob Ataque”, da Hutukara Associação Yanomami.

“Esse vídeo foi apresentado para uma liderança indígena. Um servidor da Funai [Fundação Nacional do Índio] mostrou esse vídeo. E essa liderança indígena disse assim: ‘Eu tenho muita preocupação de que isso esteja ocorrendo na comunidade do Aracaçá, que é a comunidade dos meus familiares’. Isso que eu estou dizendo para vocês está no inquérito policial”, explicou.

“Essa informação ele passou para outro indígena […]. Esse outro indígena tomou como fato acontecido na comunidade do Aracaçá. Esse outro indígena, repassou para outra liderança essa informação e isso tornou público como um fato ocorrido, com riqueza de detalhes. Como vocês podem ver, o vídeo não fala em crimes específicos, ele traz um problema grave na comunidade”.

“A investigação ainda não está concluída, então, fatos novos podem ocorrer, tudo leva a crer que a denúncia [foi] – não posso dizer construída -, mas uma sequência de falas e narrativas que se chegaram a criar uma situação concreta”, pontuou o delegado.

Ainda conforme o delegado, a PF não encontrou qualquer indício de morte violenta na região, nem restos mortais mesmo após escavações em busca de corpos na comunidade.

Sobre a comunidade encontrada queimada, seguido de desaparecimento de indígenas do local, Ramos reforçou que a ação teria sido motivada pela tradição indígena quando um familiar morre. Afirmou que os indígenas da localidade, antes de desaparecerem, disseram tranquilamente, sem aparência de luto, negaram ter havido qualquer ato de violência na região, incluindo os crimes relatados pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Junior Hekurari Yanomami.


Casa foi encontrada queimada e indígenas desapareceram (Foto: Júnior Hekurari Yanomami)

“Nessa casa que tinha cinzas, o perito foi com a gente, e lá requisitamos uma coleta de cinzas dessa casa para analisar […]. Único local de dúvida que poderia ocorrer era esse. Visualmente não tinha indício de crime violento. Mas para assegurar qualquer tipo de dúvida, colhemos os materiais”, disse, sem detalhar o resultado do trabalho pericial.

O delegado disse também que identificou nove indígenas pertencentes à localidade, sendo seis moradores encontrados antes do desaparecimento e três na Casai (Casa de Apoio à Saúde do Índio). Informou, também, que a PF não recebeu “informação mais concreta” sobre a suposta prática de garimpeiros terem pago, com ouro, indígenas para silenciarem sobre a denúncia de Hekurari.

Para apurar a denúncia na comunidade Aracaçá, a PF mobilizou oito policiais, sendo dois delegados, um perito, um papiloscopista e quatro agentes. Também trabalharam nas diligências um procurador da República, um agente da Funai, um representante da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), um representante indígena e uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) com cinco militares.