Polícia

PF desmonta rede de contrabando de gasolina que tinha apoio de policiais

Segundo a Polícia Federal, grupo movimentava R$ 1 milhão por mês com gasolina contrabandeada da Venezuela

Policiais federais saíram às ruas de Boa Vista e Pacaraima, município ao norte de Roraima, na fronteira com a Venezuela, na madrugada de ontem, 11, para deflagrar a Operação Bachaquero, que visa desbaratar uma rede criminosa investigada por crimes de contrabando de gasolina venezuelana, facilitação ao contrabando e corrupção, que contava com apoio de policiais militares.

A megaoperação iniciou ainda na sexta-feira passada, 6, com a chegada de um avião de Operações Especiais da Polícia Federal (PF) no Aeroporto Internacional de Boa Vista Atlas Brasil Cantanhede, com cerca de 50 agentes. A notícia foi dada em primeira mão pela Folha. Segundo a Polícia Federal, o inquérito policial iniciou no ano de 2015 como uma continuidade da Operação Molotov, realizada em 2013 nos dois municípios para combater a atuação criminosa na importação ilegal de combustível da Venezuela para Roraima. Foram cumpridos 44 mandados de prisão preventiva, 62 mandados de busca e apreensão e 16 mandados de condução coercitiva em Boa Vista e Pacaraima. Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal de Roraima após representação em inquérito policial. Segundo o delegado da PF, Moisés Morato, um dos responsáveis pela investigação, boa parte dos envolvidos na Operação Molotov foi presa na nova operação. “São números maiores que a última operação. Muitos investigados já eram indiciados, mas continuaram a praticar crimes, o que fundamentou o pedido de prisão”, disse.

Além dos mandados de prisão e condução coercitiva, os policiais apreenderam dois carros nacionais, um Pampa e um Santana, e dois caminhões-baú venezuelanos que eram utilizados para fazer o contrabando do combustível. Também foram apreendidas várias grades de cerveja, produtos de limpeza, higiene e alimentícios, todos contrabandeados da Venezuela.

Os envolvidos foram ouvidos e serão indiciados pelos crimes de contrabando, organização criminosa, facilitação ao contrabando e descaminho. Se condenados, podem pegar até 25 anos de prisão. Os presos foram encaminhados para a Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc).

“As investigações continuam, com análise do material apreendido e apuração do envolvimento de outros integrantes nas práticas criminosas. Importante frisar que quem adquire combustível pode também estar cometendo crime e responder por receptação”, frisou o delegado.

BACHAQUERO – Segundo a Polícia Federal, o nome da operação remete ao apelido dado por venezuelanos aos contrabandistas. (L.G.C)

Gasolina era vendida a taxistas e garimpeiros

Conforme as investigações da PF, o lucro era de quase 1.000% por cada litro de gasolina vendido no Brasil. A rede criminosa comprava o combustível em Santa Elena de Uairén a 0,1 centavos de real por cada litro e vendia em Boa Vista a mais de R$ 1,00. O combustível abastecia táxis-lotação, táxis convencionais e até veículos de garimpeiros.

“O grupo adquiria gasolina em postos clandestinos em Santa Elena. Hoje a Venezuela vive de subsídio recebido pela população. É a gasolina mais barata do mundo. Se aproveitando do que era para ser consumida pelos venezuelanos, essas pessoas acabavam vendendo por valor maior aos brasileiros”, explicou o delegado Alan Robson.

Segundo ele, os “gasolineiros” passaram a criar entrepostos em Pacaraima e nas regiões das comunidades indígenas próximas ao município para tentar burlar a fiscalização no Posto Fiscal. “Eles faziam algo que chamamos de ‘trabalho formiga’, quando abasteciam várias vezes para driblar a situação. Passavam com carros onde colocavam de 1.500 até 1.800 litros de combustível em carotes de 30 litros”, disse.

Todo o esquema era gerenciado por celular em um grupo de WhatsApp, onde os envolvidos trocavam mensagens para informar como estava a fiscalização na barreira. “Tem um bar na rodoviária de Pacaraima onde eles ficavam e, através de troca de mensagem de celular, conseguiam saber como estava a fiscalização e a gasolina estocada no trabalho formiguinha dentro das comunidades indígenas, colocada nos carotes e enviada para Boa Vista”, complementou.

Conforme Robson, alguns moradores de comunidades indígenas próximas recebiam dinheiro para guardar os carotes de gasolina nas casas. “Para sair da Venezuela eles ofereciam vantagens à Guarda Venezuelana e utilizavam ‘cabriteiras’, que são vias de acesso clandestinas por fora dos postos de fiscalização. Sabemos que existem moradores de comunidades que foram coniventes e recebiam para deixar a gasolina guardada”, frisou. (L.G.C)

Policiais facilitavam esquema que movimentava R$ 1 milhão por mês

A Operação da Policia Federal constatou o envolvimento de cinco servidores públicos em um esquema milionário de contrabando de gasolina da Venezuela para Roraima. Segundo a PF, entre os envolvidos estão quatro policiais militares e um agente de trânsito suspeitos de facilitarem a passagem dos contrabandistas nos postos de fiscalização em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, em troca de propina.

O esquema movimentava mais de R$ 1 milhão por mês para grupos de cada dez contrabandistas que traziam, por dia, cerca de 15 mil litros de gasolina da Venezuela para abastecer os principais consumidores do negócio.

A Polícia Federal informou que o Comando da Polícia Militar (PM) colaborou com as investigações contra os agentes da corporação que foram denunciados. Um PM teve a prisão preventiva decretada junto a outras 43 pessoas.

Outros quatro servidores foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimento na sede da PF.

“A PF apurou o uso de um grupo de WhatsApp mantido pelos contrabandistas e que tinha a participação dos policiais militares, onde se discutiam as práticas criminosas”, destacou o delegado.

PM – Por meio de nota, o Comando-Geral da Polícia Militar de Roraima informou que está à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos necessários e aguardará a conclusão das investigações para adotar as medidas pertinentes à conduta dos policias, respeitando o devido processo legal e a presunção de inocência. (L.G.C)